Estudo diz que actuais práticas agrícolas podem causar falta de alimentos em 2050
Investigadores recomendam “dietas mais saudáveis e equilibradas” para impedir desflorestação e perda da biodiversidade.
O risco de alterações climáticas dramáticas e que se torne impossível alimentar a população mundial devido ao consumo crescente de determinados alimentos são os principais alertas do estudo. No trabalho, uma equipa de investigadores analisou dados sobre o uso do solo, aptidão agrícola das terras e de biomassa agrícola para criar um modelo que compara diferentes cenários para 2050, incluindo manter as actuais tendências de práticas agrícolas.
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O risco de alterações climáticas dramáticas e que se torne impossível alimentar a população mundial devido ao consumo crescente de determinados alimentos são os principais alertas do estudo. No trabalho, uma equipa de investigadores analisou dados sobre o uso do solo, aptidão agrícola das terras e de biomassa agrícola para criar um modelo que compara diferentes cenários para 2050, incluindo manter as actuais tendências de práticas agrícolas.
Com o aumento da população e a tendência crescente de optar por uma dieta mais ocidentalizada centrada no consumo de carne, torna-se impossível que os rendimentos da agricultura respondam às necessidades de alimentos dos 9600 milhões de pessoas que se prevê virem a ser a população mundial dentro de três décadas. Para responder a este problema, a solução é aumentar as áreas de cultivo.
Mas o estudo sublinha que esse caminho vai levar a que o ambiente pague um “preço elevado”. “A desflorestação vai aumentar as emissões de carbono, bem como a perda de biodiversidade, e a subida da produção de gado levar a maiores níveis de metano”, aponta o documento, segundo uma nota publicada nesta segunda-feira pelas universidades de Cambridge e de Aberdeen.
Os investigadores das duas universidades recomendam que se adoptem “dietas mais saudáveis e equilibradas”. Por exemplo, que se consumam apenas duas porções de carne vermelha e cinco ovos por semana, bem como uma pequena quantidade de lacticínios por dia.
“Este não é um argumento vegetariano radical, é um argumento sobre consumir carne em quantidades sensíveis como parte de uma dieta saudável, equilibrada”, defende o professor Keith Richards da Universidade de Cambridge, que colaborou no trabalho.
O também professor Pete Smith, um dos investigadores da Universidade de Aberdeen que elaboraram o estudo, adverte que, a “menos que façamos algumas mudanças sérias nas tendências de consumo de alimentos, teremos que descarbonizar por completo os sectores da energia e da indústria para respeitar as metas de emissões que evitam alterações climáticas perigosas”. Para Pete Smith, “isso é praticamente impossível”. “Temos que repensar o que comemos”, propõe.
Bojana Bajzelj, da equipa de investigação do Departamento de Engenharia de Cambridge, sustenta uma solução semelhante. "Reduzir o desperdício de alimentos e moderar o consumo de carne em dietas mais equilibradas, são as opções ‘sem arrependimento’ essenciais”.
Bajzelj afirma que “existem leis básicas da biofísica que não podemos evitar”. "A eficiência média de gado para converter ração vegetal em carne é inferior a 3%, e enquanto comemos mais carne, mais área de cultivo é criada para a produção de alimentos para os animais que fornecem carne aos seres humanos”. A investigadora conclui que com o crescente consumo de carne a “conversão de plantas em alimento torna-se cada vez menos eficiente, conduzindo à expansão agrícola e libertando mais gases de efeito de estufa”. “As práticas agrícolas não estão necessariamente em falha aqui - mas a nossa escolha de alimentos está”, frisa.
Com base nos dados recolhidos pelo estudo, dentro de 35 anos a área cultivada terá aumentado em 42% e o uso de fertilizantes crescido 45% em relação aos níveis de 2009. Mais de um décimo das florestas tropicais do mundo vai desaparecer nas próximas décadas. A crescente desflorestação, uso de fertilizantes e as emissões de gases metano proveniente das fezes e libertação de gases intestinais do gado são “susceptíveis de levar ao aumento dos gases de efeito de estufa resultantes da produção de alimentos em quase 80%”.