Marina Silva volta atrás no apoio ao casamento gay

Candidata à presidência do Brasil alterou programa de governo, um dia depois de o apresentar.

Foto
Marina Silva rodeada pelos jornalistas na visita à Rocinha, no Rio de Janeiro AFP/YASUYOSHI CHIBA

Segundo explicou numa nota à imprensa o Partido Socialista Brasileiro (PSB), que encabeça a coligação Unidos pelo Brasil pela qual Marina concorre, o primeiro texto divulgado “não retratava com fidelidade os resultados do processo de discussão [interna] sobre o tema”.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Segundo explicou numa nota à imprensa o Partido Socialista Brasileiro (PSB), que encabeça a coligação Unidos pelo Brasil pela qual Marina concorre, o primeiro texto divulgado “não retratava com fidelidade os resultados do processo de discussão [interna] sobre o tema”.

Além de deixar cair o apoio aos projectos e emendas constitucionais em discussão no Congresso para a consagração do “casamento civil igualitário”, a candidatura também eliminou do programa a votação de um projecto para a criminalização da homofobia e resumiu a uma linha os pontos que diziam respeito ao direito de reconhecimento da identidade de género de indivíduos transsexuais, ou à adopção de crianças por casais homossexuais.

A candidata, que nunca escondeu a sua oposição pessoal ao casamento gay, em função das suas convicções religiosas, tentou desvalorizar a mudança de posição, rejeitando que tivesse ocorrido uma revisão do programa eleitoral nas questões relativas à homossexualidade. Durante uma visita à favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, Marina Silva disse que a campanha entendeu avançar com uma “correcção” do documento de 242 páginas com o seu plano de governo, “para retratar com maior fidelidade a mediação com os movimentos sociais”.

A alteração repentina, imediatamente após a apresentação oficial do programa da candidatura, voltou a chamar a atenção para a aliança de Marina Silva à chamada bancada evangélica que está em expansão no Congresso brasileiro, e a levantar dúvidas sobre as posições defendidas pela candidata na campanha.

“O nosso compromisso é com o Estado laico, com o respeito às liberdades individuais e religiosas. O Estado laico é para defender os interesses de todos, daquele que crê e daquele que não crê, independente de cor, orientação sexual ou religião”, frisou Marina Silva, respondendo aos jornalistas.

O apoio manifesto ao casamento gay no programa da coligação Unidos pelo Brasil motivou a reacção irada dos evangélicos. Em mensagens publicadas no Twitter, o pastor Silas Malafaia chegou a ameaçar a candidata, apresentando-lhe um ultimato para a situação ser corrigida, sob ameaça de uma reacção “dura e contundente” contra Marina. “Até segunda-feira espero um posicionamento de Marina sobre o lixo moral do programa do PSB para favorecer a causa gay”, escreveu.

Em declarações ao jornal O Globo, o presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transsexuais, Carlos Magno Silva Fonseca, considerou “lamentável” o recuo da candidata. “Fica a impressão de que se ela não aguentou a pressão agora, imagina na hora que tiver que mediar uma questão no governo”, considerou.

Marina Silva explicou também sucintamente uma outra alteração do programa de governo, relativa à intenção de investir na energia nuclear. Nesse caso, a candidata assumiu ter-se tratado de “um erro”, uma vez que a questão nunca fora consensual entre si e Eduardo Campos, o malogrado presidente do PSB cujo lugar na “chapa” foi ocupado por Marina.