João Correia e José Pinto reforçam o Sporting
Os ex-internacionais portugueses são os novos responsáveis clínicos dos “leões” e pretendem "corrigir falhas" que afectam a modalidade
Os ortopedistas João "Pipas" Correia e José Pinto são os novos responsáveis clínicos do Sporting, propondo-se solucionar nessa área "alguns problemas de ordem médica" que afectam a modalidade e que ambos experimentaram pessoalmente ao longo das suas carreiras como atletas.
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Os ortopedistas João "Pipas" Correia e José Pinto são os novos responsáveis clínicos do Sporting, propondo-se solucionar nessa área "alguns problemas de ordem médica" que afectam a modalidade e que ambos experimentaram pessoalmente ao longo das suas carreiras como atletas.
Embora João Correia exerça actualmente no Hospital Santa Maria e José Pinto trabalhe no Garcia de Orta, ambos "são amigos de longa data" e em comum têm também a licenciatura pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, a passagem pelas equipas do Direito e pela selecção nacional, ao serviço da qual participaram no Mundial de 2007 em França.
"É natural que nos tenhamos juntado para este desafio, até porque, como atletas, sempre sentimos que havia algumas falhas a corrigir na parte médica dos clubes", declarou João Correia ao P3 Râguebi. "A nossa prioridade vai ser garantir um acompanhamento mais especializado aos jogadores e tentar resolver as carências médicas que fomos notando na modalidade ao longo dos anos", acrescenta.
José Pinto considera que dessa experiência passada resulta agora "uma maior sensibilidade para as particularidades de um desporto que é muito peculiar" e que, contrariando a impressão geral do público, não envolve maior número de lesões e, quando muito, apenas "uma maior panóplia" de ferimentos.
"Há muita gente que pensa que, por este ser um desporto de contacto, os jogadores sofrem uma quantidade enorme de estragos", explica o médico. "Mas a realidade é, em relação ao futebol, o número de lesões nas equipas de râguebi amadoras e profissionais é igual; a grande diferença é que no futebol essas lesões se verificam sobretudo no tornozelo, no pé e no joelho, enquanto no râguebi a panóplia é muito mais alargada".
Outra disparidade entre essas duas modalidades é a que se verifica ao nível dos recursos médicos disponíveis no imediato para atender a uma lesão e é precisamente aí que João Correia quer introduzir mudanças. Reconhecendo que a generalidade dos clubes "não tem um médico nos treinos e só dispõe de um fisioterapeuta", o ex-capitão dos Lobos afirma que o procedimento habitual em caso de ferimento é "encaminhar o jogador para o hospital público e só depois, se necessário, abrir o processo nas seguradoras, para o encaminhar para um especialista". Daí decorrem, na maioria das vezes, dois cenários igualmente desvantajosos: ou os efeitos da lesão não são claros e se activa o seguro, após o que o especialista determina que o problema não é grave, mas já não evita o prejuízo do recurso à seguradora; ou as consequências da lesão revelam-se logo sérias e, enquanto se aguarda pela autorização para consultar um especialista, já se perdeu tempo que poderá ser decisivo no processo de cura.
"Estas coisas eram um bocado demoradas e implicavam sempre custos financeiros consideráveis para os clubes", reconhece João Correia. "Mas nós agora podemos agir no imediato e, como especialistas em Medicina Desportiva, fazemos logo a triagem da lesão, para avaliar se o problema é só uma entorse que se pode resolver com fisioterapia, por exemplo, ou se é preciso avançar para um tratamento mais rigoroso", explica. Trata-se, no fundo, de acelerar processos: "Quanto mais cedo fizermos o diagnóstico, mais depressa o atleta vai estar a jogar".
Depois de alinhar pelo CRC Madrid de Espanha e pelo Benetton Treviso de Itália, José Pinto está em condições de garantir que a questão do acompanhamento médico continua "um bocado ausente do râguebi em Portugal", onde os atletas "jogam sem rede" e, nos intervalos, "ainda suturam a cabeça uns aos outros". É verdade que em território nacional essa capacidade de improviso chega a ter alguma graça e pode motivar boas memórias – "isso das cabeças chegou-me a acontecer a mim, ao João Correia e ao Luís Pissarra", recorda o ortopedista. Mas no estrangeiro a ausência de um médico na equipa portuguesa pode ter consequências graves, sobretudo em países como a Geórgia ou a Roménia, quando um jogador lesionado "precisa de ir ao hospital e não tem lá ninguém que perceba uma palavra de Inglês para lhe dar um acompanhamento especializado".
É por essas e outras situações que José Pinto defende: "Gostava de ver esta postura de preocupação do Sporting alargada a outros clubes". Considerando que a evolução técnica e nutricional operada no Desporto na última década se reflecte hoje em atletas mais fortes, com um trabalho de ginásio enorme e muito mais velocidade de jogo, o ortopedista conclui: "As dimensões do campo são as mesmas de há 10 anos, mas as colisões passaram a ser muito mais fortes. É por isso que a parte médica também tem que evoluir. Afinal, estamos a falar de râguebi; não estamos a falar de pingue-pongue".