O Nanook de Robert Flaherty na garganta de Tanya Tagaq

Filme-concerto abre a temporada do Theatro Circo a 5 de Setembro.

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Tanya Tagaq compôs a partir das suas vivências como inuíte e das memórias da mãe, vítima da política de realojamentos forçados do Governo canadiano

Não foi um encontro tão acidental como o primeiro: por encomenda do Toronto International Film FestivalTanya Tagaq criou em 2012 uma nova banda-sonora original para Nanook, O Esquimó, apresentada em estreia mundial no programa First Peoples Cinema: 1500 Nations, One Tradition. O espectáculo, concebido em parceria com o compositor canadiano Derek Charke (cujas Tundra Songs Tanya já interpretou com o Kronos Quartet) e com os músicos Jean Martin (percussão) e Jesse Zubot (violino), entrou entretanto em digressão e vai ter uma escala portuguesa já na próxima semana, em Braga, onde abre a temporada do Theatro Circo a 5 de Setembro, às 22h.

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Não foi um encontro tão acidental como o primeiro: por encomenda do Toronto International Film FestivalTanya Tagaq criou em 2012 uma nova banda-sonora original para Nanook, O Esquimó, apresentada em estreia mundial no programa First Peoples Cinema: 1500 Nations, One Tradition. O espectáculo, concebido em parceria com o compositor canadiano Derek Charke (cujas Tundra Songs Tanya já interpretou com o Kronos Quartet) e com os músicos Jean Martin (percussão) e Jesse Zubot (violino), entrou entretanto em digressão e vai ter uma escala portuguesa já na próxima semana, em Braga, onde abre a temporada do Theatro Circo a 5 de Setembro, às 22h.

Em Braga, o Nanook de Tanya Tagaq será também o primeiro capítulo de um ciclo, Frames Polifónicos, que atravessará as temporadas dos próximos dois anos, explicou ao Ípsilon o director do Theatro Circo, Paulo Brandão: "O Theatro Circo vai festejar o seu centenário entre 21 de Abril de 2015 e 21 de Abril de 2016; até lá, iremos lançando alguns ciclos de programação que terão mais visibilidade ao longo desses 12 meses. Este é um deles." A ideia, diz, é associar a "obras referenciais" da história do cinema (mas não necessariamente do cinema mudo) a músicos "menos conhecidos mas de indiscutível valor, de preferência que nunca se tenham apresentado em Portugal". Em 2015, o ciclo prosseguirá com mais seis filmes-concerto, um dos quais deverá resultar de uma encomenda do Theatro Circo. À partida, as novas bandas-sonoras acompanharão sempre filmes pré-existentes, mas o ciclo está aberto "a outras experiências de cruzamento entre imagens e sons", admite o programador.

O primeiro filme-concerto do ciclo constituirá a estreia em Portugal de uma das mais extraordinárias novas praticantes do throat singing inuíte: a cantora canadiana iniciou-se nesta tradição vocal secular aos 15 anos, tendo depois desenvolvido com a sua garganta uma gramática muito particular, influenciada pelo contacto com as electrónicas, o punk e a música industrial e pelas colaborações com músicos como Björk (participou no álbum Medúlla, de 2004) e Mike Patton. "Os sons que Tagaq projecta carregam a marca dos contornos e dos recantos secretos do corpo, escavando muito para além da expressão pessoal e da identidade humana para convocar vozes da carne, espíritos animais e energias primordiais", escreveu a revista The Wire a propósito da sua banda-sonora para Nanook, O Esquimó, que compôs também a partir das memórias da sua mãe, vítima da política de realojamentos forçados do Governo canadiano, das gravações de campo de Derek Charke no Nunavut, e das suas irremediáveis mixed feelings sobre as imagens tão fulgurantes como preconceituosas que Flaherty registou junto dos seus antepassados longínquos quando ela ainda nem sequer era nascida.