Noites escuras, em tons de azul
Ao terceiro álbum, Avishai Cohen e o seu trio registam uma fascinante estratégia de recriação da tradição jazz, sob a influência do bop e do blues
Na capa de Dark Nights, Avishai Cohen cita Duke Ellington: “O que seríamos nós sem a música? A música está em todo o lado. É a entidade mais antiga que existe. O seu alcance é imenso e infinito. A música é o ‘Esperanto’ do mundo.” Se é certo que este disco não irá mudar o mundo, é também verdade que adopta uma interessante perspectiva sobre a tradição jazz, reinventando-a de forma altamente pessoal. Em Dark Nights, Avishai Cohen, trompetista norte-americano de origem israelita, assina um registo marcado não apenas pela tradição bop, mas também pelo blues e, muito subtilmente, pela soul.
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Na capa de Dark Nights, Avishai Cohen cita Duke Ellington: “O que seríamos nós sem a música? A música está em todo o lado. É a entidade mais antiga que existe. O seu alcance é imenso e infinito. A música é o ‘Esperanto’ do mundo.” Se é certo que este disco não irá mudar o mundo, é também verdade que adopta uma interessante perspectiva sobre a tradição jazz, reinventando-a de forma altamente pessoal. Em Dark Nights, Avishai Cohen, trompetista norte-americano de origem israelita, assina um registo marcado não apenas pela tradição bop, mas também pelo blues e, muito subtilmente, pela soul.
Naquele que é o terceiro álbum deste trio, Cohen reúne-se de novo ao contrabaixista Omer Avital e ao baterista Nasheet Waits, secção rítmica de excepção, para criar um disco de tons suaves e bluesy, em que a diferença é marcada pelo detalhe. Cohen, possuidor de um som magnético e vibrante, opta por manter o seu reconhecido virtuosismo em contenção, concentrando-se antes em cada nota, ou mesmo na sombra de cada nota, evocando emoções e ambientes de forma profunda e directa. Nos quatro primeiros temas, todos da sua autoria, a tonalidade é sobretudo dos blues, acabando a sequência por funcionar como uma suite. Ao tom quente do trompete, juntam-se subtis efeitos de processamento electrónico que funcionam como se um outro músico (uma guitarra?) acompanhasse os seus movimentos musicais. EmBetray, terceiro tema desta sequência, surge o primeiro dos músicos convidados: Anat Cohen, clarinetista e irmã de Avishai. A integração de Anat é orgânica e eficaz, assinando um poderoso solo de clarinete. Mas é apenas ao quinto tema do disco, com uma brilhante interpretação em trio de Goodbye pork pie hat, de Mingus, que o jazz surge de forma inequívoca, alargando-se o espectro de cores e tonalidades da música. Até ao fim, seguir-se-ão ainda The OC, original de Cohen dedicado a Ornette Coleman com alguns momentos de avassaladora mestria técnica, Shiny stockings, tema do saxofonista Frank Foster, Lush life, o clássico de Billy Strayhorn, e ainda dois últimos temas que contam com outro ilustre convidado — o pianista Gerald Clayton. Para o final, num trio de piano, trompete e voz, junta-se a Clayton e Cohen a derradeira convidada do álbum, a cantora pop Keren Ann, para uma versão envolvente de I fall in Love too easily, belíssima homenagem a Chet Baker, trompetista-cantor a quem este tema ficou eternamente associado. Em suma, uma obra cujas fortes tonalidades queimam lentamente, muito lentamente.