Oposição boicotou cerimónia mas Erdogan tomou posse como Presidente da Turquia
O primeiro acto do novo chefe de Estado é nomear Ahmet Davutoglu primeiro-ministro. É o seu delfim e já disse que mudar a Constituição para tornar o regime presidencialista é a sua prioridade.
Erdogan, eleito a 10 de Agosto e que sucede a Abdullah Gül, jurou fidelidade "à Constituição, à supremacia do estado de Direito, aos princípios e às reformas de Atatürk e aos princípios da República laica".
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Erdogan, eleito a 10 de Agosto e que sucede a Abdullah Gül, jurou fidelidade "à Constituição, à supremacia do estado de Direito, aos princípios e às reformas de Atatürk e aos princípios da República laica".
Antes da cerimónia no Parlamento de Ancara, os deputados do Partido Republicano do Povo abandonaram a sala. Um deputado deste partido atirou o regulamento interno - foi assobiado pelos representantes do Partido no poder, AKP (islamista e conservador). E os eleitos pelo Partido de Acção Nacionalista (extrema-direita) manifestaram-se não aplaudindo o novo chefe de Estado.
O primeiro acto de Erdogan como Presidente será nomear o seu delfim no AKP, Ahmet Davutoglu, primeiro-ministro e pedir-lhe para formar um Governo cuja composição será conhecida sexta-feira.
Na quarta-feira, Erdogan entregou a chefia do Governo e do partido islamo-conservador a Davutoglu, que lhe dá garantia de fidelidade e a continuação das suas políticas.
Num congresso extraordinário do AKP, realizado segundo o modelo de uma convenção americana, Erdogan - que há 11 anos é o homem forte da Turquia - e o seu sucessor asseguraram às 40 mil pessoas presentes numa sala desportiva de Ancara que a transição será suave.
Candidato único nesta sucessão, Davutoglu foi formalmente eleito, por unanimidade (1382 delegados), presidente do Partido da Justiça e do Desenvolvimento.
Acusado de ser um autocrata pelos seus adversários, Erdogan entregou o partido que criou em 2001 dizendo que Davutoglu não será uma marioneta na suas mãos. "A nossa causa sempre rejeitou as ambições pessoais, a arrogância, o ódio e a inveja", disse. "Os nomes mudam hoje, mas a essência, a missão, o espírito e os ideais [que defendemos] continuam".
"Chegou o momento de dizer adeus. Vocês sabem como isto é difícil para mim. Mas continuo em contacto, talvez de forma menos frequente do que antes", disse o Presidente eleito.
Erdogan, de 60 anos, foi eleito Presidente com 52% dos votos no primeiro escrutínio realizado através do sufrágio universal. Sempre exprimiu a sua vontade de manter as rédeas do poder e quer tornar a Turquia num país de regime presidencialista. Para isso, pretende modificar a Constituição para reforçar as prerrogativas do chefe de Estado, que são largamente protocolares.
Este passo, denunciado pela oposição como um novo desvio "autoritário" e "islamista" de Erdogan - também contestaram o facto de se ter mantido primeiro-ministro até ao momento de se tornar chefe de Estado -, poderá ser possível com uma vitória do AKP nas legislativas de 2015. Mas é necessária uma maioria de dois terços (367 lugares em 550) e o AKP tem neste momento 313 deputados.
Davutoglu, que tem 52 anos e é classificado como um muçulmano intransigente, já disse que a reforma da Constituição será a sua "prioridade". "Espero um grande apoio, vamos ter votos suficientes no Parlamento para mudar a Constituição", disse o delfim de Erdogan.
Num discurso cheio de referências históricas e religiosas no congresso do partido, Davutoglu prometeu aos militantes continuar o trabalho de Erdogan para "restaurar" o país. "O AKP é um partido onde a lealdade dura até à morte", disse. "Não haverá qualquer conflito entre o Presidente e o seu primeiro-ministro, vamos construir a 'nova Turquia'".