Antes da chegada dos TPC, dez livros com sabor a Verão
Títulos que convidam a sair de casa e que não falam só de praia, mas também de árvores, lesmas e incêndios.
Há histórias para escutar – muito úteis em trânsito e que amenizam as eternas perguntas “falta muito?”, “já chegámos”? – e um ebook, para não ocupar espaço na bagageira dos que ainda estão em viagem. Nada impede que sejam lidos fora dos “dias do calor”.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Há histórias para escutar – muito úteis em trânsito e que amenizam as eternas perguntas “falta muito?”, “já chegámos”? – e um ebook, para não ocupar espaço na bagageira dos que ainda estão em viagem. Nada impede que sejam lidos fora dos “dias do calor”.
Muitos destes livros já foram divulgados a baixas temperaturas… na página semanal Crianças da edição do PÚBLICO em papel e no blogue Letra Pequena. Porque as boas histórias resistem ao tempo e ao clima.
O nosso planeta devia chamar-se Mar (e não Terra)
Mar
Texto: Ricardo Henriques
Ilustração: André Letria
Edição: Pato Lógico
56 págs., 14,90€
A obra lança uma interrogação logo à partida: “Se o nosso planeta tem mais mar que terra, então porque é que não se chama planeta Mar?” Segue-se um alfabeto temático, com água por todos os lados. Começa precisamente com a definição de “água” e acaba com a de “zooplâncton”. Em rigor, este livro é um “actividário” (actividades + abecedário), dizem os autores, que apresentam assim a co-autoria de Mar: textos de Ricardo Henriques, “com bitaites de André Letria”; ilustrações de André Letria, “com alvitres de Ricardo Henriques”.
O tom das explicações de cada entrada é divertido, mas rigoroso. Ou seja, sério sem ser fúnebre. As propostas de actividades são variadas e criativas, podendo ir da observação de estrelas (“deita-te de papo para o ar numa noite estrelada e tenta descobrir Órion e outras constelações”) à construção de uma alforreca com uma bola velha de borracha (“faz uma alforreca utilizando materiais reutilizáveis”).
Na contracapa, escreve-se: “As missões impossíveis são as únicas bem-sucedidas.” Palavras do marinheiro mais famoso de sempre: Jacques Cousteau.
Mar recebeu uma menção honrosa no Prémio Bologna Ragazzi 2014 na categoria de Não Ficção, depois de outras distinções, como o Prémio Junceda Ibéria, em 2013, menção no Prémio Nacional de Ilustração 2013 e Melhor Design Infanto-juvenil dos Prémios LER/Booktailors. Todos merecidos.
Leia mais no blogue Letra Pequena.
Correr atrás de um urso
As Férias do Pequeno Urso
Texto e ilustração: Benjamin Chaud
Tradução: Maria Afonso
Edição: Orfeu Negro
32 págs., 14,90€
Depois de A Cantiga do Urso, a Orfeu Negro edita As Férias do Pequeno Urso, também de Benjamin Chaud. A fórmula é idêntica à do livro anterior, em que o urso-pai corre mundo atrás do urso-filho, que está sempre a desaparecer. E não se entenda “fórmula” como comentário depreciativo. Pelo contrário. Com esta narrativa “de perseguição”, o autor e ilustrador permite-se desenhar ambientes muito diferentes de uma página para outra.
O nível de pormenor e a profusão de elementos convidam a um exercício de observação contínuo. Mas não cansa, diverte. Os leitores mais impacientes pelo final da história lêem primeiro o texto, que surge em rodapé e não “perturba” as imagens, e depois voltam ao princípio. Desfrutam então calmamente de cada uma das imagens, apropriando-se da riqueza expressiva que transportam.
A história: pai e filho abandonam o telhado da ópera onde passaram o Inverno e instalam-se entre ursos coloridos. Pensam ser companheiros de espécie, mas são peluches. O pequeno urso há-de ser confundido com um deles e escolhido por uma criança, cuja família parte em viagem. Começa a corrida do pai urso. Atrás de um táxi, de um comboio, até entrar num paquete, de onde há-de cair e nadar até uma ilha que “não está lá muito deserta”. Ironia e humor também correm por aqui.
Leia mais no blogue Letra Pequena.
O que aprendi no Verão passado
As Regras do Verão
Texto e ilustração: Shaun Tan
Tradução: Ana M. Noronha
Edição: Kalandraka Editora
56 págs., 17€
“Nunca deixes uma meia vermelha pendurada na corda da roupa.” Esta é a primeira regra que o narrador diz ter aprendido no Verão passado. Mas há outras, como “nunca pises um caracol”, “nunca perguntes o porquê” ou “nunca estragues um plano perfeito”. Se algumas regras se tornam menos estranhas quando se observa as imagens que as acompanham, outras continuam misteriosas. Shaun Tan tem o dom de hipnotizar o leitor, que fica preso aos seus quadros surrealistas enquanto tenta descodificar as curtas e certeiras frases que sempre utiliza.
Aqui, somos convidados a acompanhar o Verão de dois rapazes, com as suas brincadeiras, anseios e receios. E é difícil, mesmo para quem já está longe da infância, não nos identificarmos com alguns daqueles cenários. Shaun Tan tem 40 anos e é licenciado em Belas-Artes e em Literatura Inglesa pela Universidade de Western da Austrália. Em 2001, recebeu o World Fantasy Best Artist Award e em 2011 ganhou o Prémio Astrid Lindgren Memorial Award. Há outros títulos deste autor já editados em Portugal: A Coisa Perdida, A Árvore Vermelha e Emigrantes. Todos encantadores.
Todos para a rua
Lá Fora
Texto: Maria Dias e Inês Rosário
Ilustração: Bernardo Carvalho
Edição: Planeta Tangerina
368 págs., 24,60€
A capa é inspiradora, mas lá dentro tudo nos dá vontade de ir lá fora. E fica cumprido o objectivo deste Guia para Descobrir a Natureza. “Mesmo que moremos numa grande cidade, existe sempre natureza lá fora: nuvens e estrelas, árvores e flores, rochas e praias, aves, répteis ou mamíferos. O que esperamos então? Saltemos do sofá e iniciemos a exploração!”, escreve-se na divulgação de Lá Fora, um livro para pais e filhos.
Escrito por duas biólogas, aqui se dão a conhecer as espécies vegetais e animais, mas também se fazem perguntas como “para que serve uma flor?” e se convida o leitor para “apanhar uma molha”, para se sentar à sombra das árvores e para conhecer Portugal.
Diz Inês Rosário: “O objectivo é despertar essa vontade de sair para a rua e explorar a natureza. As pessoas não se apercebem da diversidade e há tanta coisa para ver.” Diz Maria Dias, quem primeiro imaginou este belo livro: “A ideia é partilhar o gosto em aprender através da observação, de actividades simples e do raciocínio. Isso pode ser feito tanto vivendo dentro de um parque natural como vivendo num prédio de uma grande cidade.”
As ilustrações de Bernardo Carvalho contemplam dois registos: um mais rigoroso e descritivo, que se espera dos manuais de consulta, e um mais livre e poético, que se espera de quem ilustra com sensibilidade.
(Não fique aí. Vá até lá fora.)
Leia mais no Fugas.
Anda um barco a voar por aí
O Barco de Papel
Texto: Eugénio Roda
Ilustração: André da Loba
Edição: Bags of Books
22 págs., 9,60€
A capa desafia de imediato o leitor, pois parece enganadora. O título fala de um barco, mas é um avião que chama o nosso olhar. Só depois se vê o chapéu do rapaz. E lá está ele.
“O pai lia o jornal no pequeno canto livre da sala. Ligava o candeeiro junto da janela em pleno dia e passava os olhos pelas boas notícias. Com as más, o rapaz fazia aviões de papel. Com tanta má notícia pela casa, a mãe andava triste, zangada, irritada: porquê assim? Para quê aquilo? Até quando isto?”
É com estas palavras que se entra numa história que, como todas as boas histórias, não é apenas para crianças. Será fácil concluir que o rapaz tinha sempre bastante matéria-prima para os seus voos. Mas os objectos, as estantes, as paredes, o tecto, tudo se transformava em obstáculo para a liberdade de voar. E desfez-se deles. “A mãe deitava as mãos à cabeça e o pai deitava a cabeça nas mãos.” Por pouco tempo.
“A mãe sempre dissera que as novidades têm asas. Ora, se cada um se concentrasse numa boa novidade, conseguiria voar com ela. Foi dito e feito.” Se Eugénio Roda brinca com as palavras (“os presentes demoraram a tornar-se ausentes”, “pela primeira vez se ouviram cantar os cantos à casa”), André da Loba brinca com a escala. O resultado é um belo livro. Nele também se aprende a construir aviões e barcos a partir de uma folha de papel. Há instruções para a dobragem de ambos.
Leia mais no blogue Letra Pequena.
À procura de poesia fora dos poemas
O Senhor Pina
Texto: Álvaro Magalhães
Ilustração: Luiz Darocha
Edição: Assírio Alvim
96 págs., 14,40€
“O senhor Pina queria escrever uma história para a Ana e para a Sara, que fosse diferente e tão divertida que pusesse as palavras na brincadeira. E, já agora, que não fizesse muito sentido, ou que fizesse sentido de outra maneira. (…)” Começa assim o livro que ficciona um autor muito importante para a literatura infantil portuguesa, Manuel António Pina.
O protagonista sai em passeio “à procura de poesia fora dos poemas” e leva com ele o seu herói, o ursinho Puff (mais conhecido como Winnie the Pooh). Nele se fica a conhecer a intimidade do “homem que ria”, que mudou a literatura infantil, que “brincava com as palavras” e que “chegava sempre atrasado”. Quando chegava.
Pediram a Álvaro Magalhães um texto biográfico sobre o seu amigo Manuel António Pina. Disse que não. “Sou escritor, gosto é de inventar”, pensou. E inventou. “Achei que escrevendo ficções era capaz de me aproximar mais da essência dele do que numa mera biografia. Mas não tinha sequer pensado em fazer um livro. Tudo partiu daquele pedido”, contou. Foi assim a génese de O Senhor Pina, ilustrado, e bem, por Luiz Darocha, outro amigo. Um belo livro e uma bela homenagem. O Senhor Pina venceu o Prémio de Melhor Livro Infanto-Juvenil da Sociedade Portuguesa de Autores relativo a edições de 2013.
Leia mais no blogue Letra Pequena.
Quando tudo arde
Irmão Lobo
Texto: Carla Maia de Almeida
Ilustração: António Jorge Gonçalves
Edição: Planeta Tangerina
124 págs., 14€
“Depois daquele Verão em que tudo começou a arder, nunca mais aparecemos os cinco nas fotografias. Foi o Verão da Grande Travessia no Deserto da Morte. Ou, simplesmente, o Verão da Grande Travessia. Lembro-me como se fosse hoje.” Por esta breve descrição, percebe-se que estamos perante uma história não inteiramente feliz, como as histórias da maior parte de nós.
É um livro integrado numa colecção para leitores jovens, mas qualquer adulto entrará nele como se este se lhe dirigisse. E não vai conseguir sair. Só quando for obrigado a virar a última página.
Uma família deste tempo está a desagregar-se por motivos banais (menos dinheiro, menos amor), mas não por isso menos dolorosos. Ficamos a conhecê-la pela voz de uma adolescente, que chama Fóssil ao irmão e tem alcunhas para toda a gente que anda por perto.
As mudanças, as dúvidas, os medos, as angústias próprias do crescimento são aqui tratadas de forma delicada e comovente por uma autora a revelar cada vez mais talento. E vem o fogo e vem a morte. A esperança também. Tudo isto emoldurado pelas belíssimas ilustrações de António Jorge Gonçalves, que usa diferentes cores para diferentes tempos. Irmão Lobo é um livro muito diferente dos ditos “juvenis” e foi nomeado para o Prémio de Melhor Livro Infanto-Juvenil da Sociedade Portuguesa de Autores relativo ao ano passado.
Até as lesmas são criativas
Herberto
Texto e ilustração: Lara Hawthorne
Tradução: Miguel Gouveia
Edição: Bruaá Editora
24 págs.; 12,50€
Uma lesma chamada Herberto tem uma vida feliz e cheia… de alface. Comer e dormir – assim é o quotidiano da lesma e dos seus amigos. Mas um dia a alface acaba, é preciso partir em busca de alimento e Herberto faz-se ao caminho. Sozinho.
Nesse percurso, conhece uma aranha e, vendo-a tecer, diz-lhe: “Oh, que bela teia! Quem me dera poder tecer um padrão assim tão bonito com essa habilidade.” A resposta não foi muito simpática, pois a aranha receou que Herberto estragasse a sua “obra-prima”.
Seguiu-se um encontro com formigas e novo deslumbramento: “Que grandes arquitectas que vocês são! Eu nunca conseguiria criar estes túneis tão complicados e tão bem construídos.” Resposta: “Fora daqui, sua lesma!”
Não será a última vez que é enxotada, mas há-de aparecer uma mariposa que o levará a descobrir a obra que fez com o seu rasto no jardim. “O Herberto estava radiante com a sua criação.”
Lara Hawthorne também pode ficar radiante com a sua, que é a primeira. O livro é bonito e delicado. Talvez seja esse o truque para quem se julga sem criatividade: olhar para trás numa noite escura e reconstituir o percurso feito até então. Decerto terá criado algo bonito e iluminado alguém.
Leia mais no blogue Letra Pequena.
Irmãos Grimm de boca em boca
35 Contos dos Irmãos Grimm
Texto: Jacob e Wilhelm Grimm
Adaptação e narração: António Fontinha, Cristina Taquelim, Maria Morais, Rodolfo Castro e Thomas Bakk
Ilustração e arranjo gráfico: José Feitor
Separador musical: Paul Mottram (Magical Moments 8)
Edição: BOCA
120 min., 12,50€
Os irmãos Grimm, Jacob e Wilhelm, recolheram há mais de 200 anos contos da tradição oral. Traduzidos e retraduzidos em todo o mundo, deram-nos a conhecer histórias como A Branca de Neve, O Capuchinho Vermelho e a Bela Adormecida, para citar três das mais conhecidas que integram este CD, ou Os Mensageiros da Morte, Uma Abelha e o Lavrador no Céu, menos divulgados.
Aos 35 Contos dos Irmãos Grimm emprestaram a voz e a emoção cinco experimentados contadores de histórias: três portugueses (António Fontinha, Cristina Taquelim e Maria Morais), um brasileiro (Thomas Bakk) e um argentino (Rodolfo Castro). Os diferentes estilos e sotaques na narração das histórias ajudam a conquistar a atenção de quem escuta, seja criança ou adulto. E todos se exprimem de forma encantadora.
A música que separa os contos ajuda o ouvinte a preparar-se para entrar na atmosfera seguinte. O ritmo e duração de cada conto foram pensados “no tempo rápido da rádio, onde se estrearam em Maio e Junho de 2012, na antena da TSF”, explica-se no site da editora do CD. A adaptação foi feita a partir de Contos da Infância e do Lar (Círculo de Leitores/Temas e Debates, 2012). “Palavras que alimentam” é o lema da BOCA. E alimentam mesmo.
Leia mais no blogue Letra Pequena.
Crianças a fotografar árvores
As Árvores Que Comiam Papel
Fotografia e etnobotânica com crianças do Douro
(Agrupamento de Escola João de Araújo Correia, EB2,3 Peso da Régua. Professoras: Ana Gouveia e Lídia Florisa dos Santos Coutinho. Agrupamento Vertical da Escola Monsenhor Jerónimo do Amaral, EB1. Andrães. Professores: Jorge Filipe e Teresa Carriço)
Edição e produção: Susana Neves (http://quando-o-rei-era-sabao.blogspot.pt/)
Design: Inês Sena
Edição: Lunar Horse
CD, 13,5€
Subsidiado pela Direcção Regional de Cultura do Norte
Um livro electrónico que é o resultado de um projecto de educação artístico e ambiental, orientado por Susana Neves, e que levou 38 crianças a fotografar árvores em cinco locais diferentes do Douro e durante as quatro estações do ano. Assim nasceu o ebook As Árvores Que Comiam Papel.
Pôr a comunidade a valorizar as árvores que tem na região, levar as crianças a descobrir a origem das diferentes espécies, ensiná-las a respeitar e a agradecer o que a natureza nos dá foram alguns dos objectivos da autora. “Porque o Douro não é só vinha”, disse ao PÚBLICO. E acrescentou: “Temos de criar uma nova consciência, uma nova atitude relativamente à natureza e às árvores em particular. É um projecto que se deve expandir. É regional, mas é universal.”
Por proposta do Museu do Douro, duas turmas de crianças de dez e 11 anos fotografaram, no ano lectivo de 2010-2011, as árvores que cada uma escolheu em cinco locais nas proximidades de Peso da Régua: Alto de São Domingos (Armamar), Quinta da Pacheca (Cambres), Quinta das Brôlhas, Quinta das Leiras e Eirados (Valdigem). Uma selecção de lugares justificada pela diferenciação de espécies. Um livro bonito e didáctico.
Leia mais no blogue Letra Pequena.