A ementa deste café tem cheiros que vão do alecrim ao estragão
No Parque Ambiental do Buçaquinho, entre Esmoriz e Cortegaça, há uma cafetaria especial, repleta de atracções sóbrias e substanciais. Da esplanada à minibiblioteca, há um mundo para descobrir. Com muita personalidade
Esta não é uma cafetaria qualquer. Não tem pastilhas elásticas, batatas fritas ou pães recheados com cremes. Tem caladinhos, doces tradicionais de Santa Maria da Feira, e queques de chocolate caseiros e fatias de regueifa doce assadas em forno a lenha. Tem saladas e sandes inspiradas nas ervas aromáticas que nascem em jardins ao pé da esplanada — salada de alecrim, salada de manjericão, tosta de estragão são algumas das opções. Tem vinho a copo e garrafas para venda numa espécie de mercearia à mão de semear. Tem uma minibiblioteca comunitária com sofás e com o único requisito de contribuir com um livro de 12 em 12 meses para se ser leitor de pleno direito. Tem esplanada com mesas, cadeiras e chão de madeira que se estica pela relva, que por sua vez tem puffs brancos e tapetes para partilhar. Tem fogão de sala com lenha e pinhas, jornais e revistas do dia e da semana, mantas vermelhas para proteger as costas ou pernas nas noites mais frias.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Esta não é uma cafetaria qualquer. Não tem pastilhas elásticas, batatas fritas ou pães recheados com cremes. Tem caladinhos, doces tradicionais de Santa Maria da Feira, e queques de chocolate caseiros e fatias de regueifa doce assadas em forno a lenha. Tem saladas e sandes inspiradas nas ervas aromáticas que nascem em jardins ao pé da esplanada — salada de alecrim, salada de manjericão, tosta de estragão são algumas das opções. Tem vinho a copo e garrafas para venda numa espécie de mercearia à mão de semear. Tem uma minibiblioteca comunitária com sofás e com o único requisito de contribuir com um livro de 12 em 12 meses para se ser leitor de pleno direito. Tem esplanada com mesas, cadeiras e chão de madeira que se estica pela relva, que por sua vez tem puffs brancos e tapetes para partilhar. Tem fogão de sala com lenha e pinhas, jornais e revistas do dia e da semana, mantas vermelhas para proteger as costas ou pernas nas noites mais frias.
Esta cafetaria, na fronteira entre as freguesias de Esmoriz e Cortegaçã, no concelho de Ovar, tem personalidade. Tem sessões de leitura ao ar livre aos sábados ao final da manhã para crianças e adultos que gostam de ouvir histórias. Tem aventuras contadas por marionetas que, de vez em quando, tomam conta da relva. Tem palestras e debates — aqui se discutiram as eleições europeias com representantes dos partidos e a importância do pão-de-ló de Ovar para a região. Tem música escolhida a dedo nos Sons do Parque ,que acontecem no Verão com concertos intimistas cá fora ou lá dentro conforme os humores do tempo — JP Simões, Birds are Indie, Ermo, Silent Preachers estiveram lá nas últimas semanas — seguidos de DJ sets — Álvaro Costa conhece os cantos à casa, Rui Pregal da Cunha, dos Heróis do Mar, esteve lá no último sábado a convite do colectivo de DJ Os 3 Meninos — e nesses dias, que se querem quentes, as portas podem fechar mais tarde do que o horário habitual das doze badaladas.
Em Setembro, esta cafetaria terá Click!, ou seja, uma mostra de curtas de animação às sextas-feiras à noite seguidas de conversas – para 26 de Setembro está confirmada a presença do realizador e produtor Nuno Beato. Em Dezembro, recebe a peça de teatro infantil O Grande Lago, que há-de circular pelas escolas de Esmoriz e de Cortegaça, no concelho de Ovar.
Esta cafetaria não é uma cafetaria qualquer, não. Resiste a modas e a estratégias de sedução de alguns fornecedores e, por isso, os guarda-sóis da esplanada são imaculadamente brancos e no balcão estão apenas os queques, os caladinhos caseiros e vasos vermelhos com ervas aromáticas plantadas — que de elementos de decoração passam a objectos para venda a pedido de vários clientes.
Muito poucos imaginariam que este local pudesse ficar assim quando o conheceram sem roupa, completamente despido. Mas agora que ele existe tal como é, não imaginaríamos que pudesse ser outra coisa. Esta cafetaria está na entrada nascente do Parque Ambiental do Buçaquinho, que surgiu no mapa depois da remodelação de uma antiga Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) que funcionou 12 anos e estava desactivada há oito. Transformou-se num extenso parque verde, com seis lagoas com águas depuradas habitadas por patos que de vez em quando saem da água para passear na relva, uma torre e postos de observação de avifauna, um centro de educação e interpretação ambiental, geradores eólicos e painéis solares, um parque infantil.
Bastou uma hora ao sol num cantinho do que iria ser a esplanada para Hugo Maia ter a certeza de que aquele lugar tinha potencial. Num almoço de família, a ideia ganhou pernas para andar. Os irmãos Pedro Maia, formado em Engenharia e Gestão Industrial e em Marketing, Hugo Maia, com curso de Arquitectura que ficou pelo caminho e uma paixão por fotografia, e Edgar Maia, que trabalha no ramo das tapeçarias, todos sem qualquer experiência no ramo da restauração, decidiram arriscar. Não sabiam muito bem o que queriam, mas sabiam perfeitamente o que não queriam. “Não queríamos que fosse uma cafetaria tradicional. Não queríamos que fosse mais um espaço a servir cafés e tostas mistas, queríamos construir uma oferta diferenciadora”, conta Pedro. Apresentaram a sua candidatura à câmara municipal e ganharam a concessão do espaço por 10 anos. Pedro confessa que foi uma aventura. Três semanas para concretizar a ideia entre o sim, podem avançar e a abertura, já que o corte da fita do parque ambiental se queria no mesmo dia da inauguração da cafetaria – 25 de Abril de 2013.
O projecto estava na cabeça e não houve desvios no percurso. Ali poderiam caber mil e uma coisas e foi preciso fazer opções. A doçaria é feita pela mãe dos três rapazes. As ervas aromáticas crescem bem rentinho à esplanada e ao pé das lagoas e são colhidas na hora de fazer as saladas, sandes ou uma ou outra bebida que precise de tomilho ou de um ou outro toque e sabor. Os cuidados estendem-se à programação cultural, que também ajuda a definir a identidade da casa. Os três irmãos não abrem mão da qualidade do que fazem e muito do que ali acontece nasce de conversas entre amigos. Quer-se qualidade no que se programa e que não se desvie do perfil traçado para a cafetaria. Na música, por exemplo, Pedro Maia explica que “a ideia é criar momentos em que o público vai ter contacto com artistas portugueses de música moderna que estejam a fazer trabalhos originais”. Quem por lá anda, percebe bem o que os três irmãos querem que aquele espaço seja. Um pedaço de paraíso para gente de todas as idades com vista para 24 hectares de ar puro.