Separatistas pró-russos exibem prisioneiros no Dia da Independência da Ucrânia

Dezenas de soldados fiéis a Kiev foram forçados a marchar no centro de Donetsk, em resposta à parada militar organizada em Kiev.

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"Temos agora a oportunidade de ver as pessoas que foram enviadas para nos matar", anunciava uma voz através de um altifalante. A multidão – umas centenas de pessoas alinhadas em ambos os lados de uma das principais avenidas de Donetsk – gritava "fascistas" e "assassinos". Alguns dos que assistiam à marcha lançaram garrafas contra os prisioneiros, relatam os correspondentes da agência Reuters.

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"Temos agora a oportunidade de ver as pessoas que foram enviadas para nos matar", anunciava uma voz através de um altifalante. A multidão – umas centenas de pessoas alinhadas em ambos os lados de uma das principais avenidas de Donetsk – gritava "fascistas" e "assassinos". Alguns dos que assistiam à marcha lançaram garrafas contra os prisioneiros, relatam os correspondentes da agência Reuters.

A fechar o humilhante desfile, dois camiões iam lançando água para lavar o chão que os soldados ucranianos pisavam.

As imagens que chegam todos os dias do Leste da Ucrânia são chocantes e nenhum dos lados pode reclamar uma superioridade moral em relação ao outro – no YouTube, no Facebook ou no Twitter são vários os vídeos e as fotografias que mostram ucranianos fiéis a Kiev e combatentes pró-russos a fazerem tábua rasa das Convenções de Genebra e a serem sujeitos a tratamentos humilhantes.

Mas o desfile de soldados ucranianos no centro de Donetsk aconteceu em plena luz do dia, com assistência e direito a transmissão televisiva, em clara violação de pelo menos dois artigos da III Convenção de Genebra: o artigo 13, que protege os prisioneiros de guerra de "insultos e curiosidade pública", e o artigo 14, que lhes garante o "respeito da sua pessoa e da sua honra".

No meio de uma guerra não declarada oficialmente e que já fez mais de 2000 mortos (segundo uma estimativa que se acredita ser conservadora), não há também convenções que valham a milhares de civis nas cidades de Donetsk e Lugansk, alvos de constantes bombardeamentos por parte das forças armadas da Ucrânia.

Num comunicado publicado neste domingo, os elementos da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) presentes no Leste da Ucrânia dizem ter visto "uma área residencial em Donetsk seriamente danificada por artilharia".

"No local, a missão viu um bloco de apartamentos cuja entrada estava repleta de destroços. Cerca de 60 civis, a maioria idosos, estavam em estado de choque. Os observadores da missão viram três corpos cobertos com lençóis, dois adultos e uma criança, colocados lado a lado. Os habitantes locais disseram à missão que eram mãe, pai e filho. Disseram também que uma outra criança, de cinco anos de idade e membro da mesma família, morreu a caminho do hospital devido a ferimentos na cabeça", lê-se no comunicado da OSCE.

Na madrugada de domingo foram também bombardeados um hospital, uma morgue e uma casa funerária em Donetsk, localizados nas proximidades de uma guarnição dos separatistas pró-russos, segundo o The New York Times.

Longe do campo de batalha e de morte do Leste da Ucrânia, milhares de pessoas celebraram neste domingo, em Kiev, o 23.º aniversário da independência da Ucrânia após o desmembramento da União Soviética.

Numa parada cuja organização dividiu opiniões  entre os apoiantes das autoridades ucranianas, por causa dos gastos em tempo de guerra e da falta de equipamento na frente de combate, o Presidente Petro Poroshenko anunciou que o país vai investir mais de 2000 milhões de euros em equipamento militar para reforçar a ofensiva contra os separatistas pró-russos em Donetsk e Lugansk.

Num discurso emotivo, em forma de punho cerrado em direcção à Rússia, Poroshenko disse a todos os ucranianos que as suas vidas já estão a mudar por causa da guerra no Leste do país, porque agora existe uma ameaça sempre presente: "É evidente que a Ucrânia vai continuar sob uma ameaça militar constante nos próximos tempos. E nós temos de aprender não apenas a viver com isto, mas também a estarmos sempre preparados para defender a independência do nosso país."