Infra-estrutura de alto nível e aposta na formação ajudam a explicar o sucesso
Presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo aponta a construção do velódromo de Sangalhos como fundamental para o êxito do ciclismo de pista.
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A fórmula do sucesso? “A construção do Velódromo Nacional [um dos equipamentos que integram o Centro de Alto Rendimento] ajudou a colocar-nos ao nível dos melhores países do mundo. Depois houve uma forte aposta na formação do nosso seleccionador e a organização de quatro campeonatos europeus consecutivos em Portugal também ajudou. Juntando a tudo isto, tivemos a felicidade de encontrar dois talentos”, explica Delmino Pereira, presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo.
Os dois talentos a que se refere são os gémeos Ivo e Rui Oliveira, que, de há um ano para cá, parecem não se cansar de coleccionar medalhas [ver peça à parte], mas Gabriel Mendes, seleccionador nacional de ciclismo de pista, nega que a explicação para os mais recentes êxitos se reduza a uma genética feliz. “Claro que a fisiologia e a biomecânica ajudam, há atletas que possuem características que os colocam num patamar elevado, mas esse é apenas o ponto de partida. Depois essas características têm de ser potenciadas. Há uma série de aspectos técnicos, tácticos, psicológicos e até estratégicos que têm de ser trabalhados”, justifica.
Na realidade, enquanto poucos ouviam falar de ciclismo de pista, houve todo um trabalho de bastidores, que serviu de alicerce ao prestígio que, por estes dias, recai sobre a modalidade. A enorme base de recrutamento que o ciclismo de estrada proporciona deu uma ajuda, é certo, mas não menos importantes foram as provas nacionais que, desde 2010, se foram realizando periodicamente na pista de Sangalhos. A partir desse momento, explica o seleccionador, foram sendo “avaliados o desempenho e o potencial de vários atletas”, de forma a poder-se construir uma selecção que desse garantias. O resultado está à vista: no último nacional, houve 143 participantes, um recorde absoluto, e a selecção de ciclismo de pista conta, neste momento, com 14 atletas, entre juniores e sub-23, ainda que continue a haver uma lacuna, que se explica com a novidade deste projecto — faltam atletas de elite (o escalão principal, que se segue ao dos sub-23).
Um facto que ajuda a explicar a prudência de Delmino Pereira quando confrontado com as hipóteses de Portugal nos próximos Jogos Olímpicos, do Rio de Janeiro. “Nós estamos a trabalhar no sentido de o Ivo e o Rui poderem esgrimir argumentos nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020, é esse o objectivo de referência. Marcar presença já nos de 2016 é possível, mas ainda são muito jovens e o nível competitivo é muito alto. Vamos ver”, assinala.
E se no ciclismo de estrada só um pode ganhar a medalha de ouro, no de pista há uma variedade de disciplinas que alargam o leque de possibilidades: velocidade, contra-relógio, keirin, perseguição, corrida por pontos, scratch, madison e omnium. Confuso? Bom, centremo-nos naquelas em que Portugal conquistou medalhas. Ivo Oliveira ganhou duas de ouro, em perseguição individual, em que o objectivo é alcançar um adversário que parte do lado oposto da pista e a de bronze na corrida por pontos (que podem ser obtidos através de voltas de avanço ao pelotão e dos sprints intermédios). Conseguiu ainda o bronze no omnium, uma prova que está dividida em dois dias e que agrega outras seis disciplinas, e no madison, juntamente com o irmão, ou não fosse esta disciplina uma espécie de prova de estafetas. E Portugal conta ainda com três medalhas em scratch, ambas conseguidas por Rui, na variante do ciclismo de pista que mais se assemelha ao de estrada — trata-se de uma corrida em pelotão, em que ganha o primeiro atleta a cruzar a meta.