Nova geração chega ao poder na Indonésia pela mão de Joko Widodo

Tribunal Constitucional nega provimento às queixas de fraude apresentadas pelo antigo general Subianto, que perdeu as eleições presidenciais por oito milhões de votos.

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Joko Widodo representa a esperança na recuperação económinca e na abertura da democracia Darren Whiteside/Reuters

O seu rival, o antigo general Prabowo Subianto, perdeu nas urnas por uma diferença de seis pontos percentuais e queixou-se de fraude eleitoral generalizada, o que atrasou o anúncio oficial dos resultados – depois da contagem dos votos, que só terminou a 22 de Julho, foi preciso esperar mais um mês pela decisão do tribunal.

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O seu rival, o antigo general Prabowo Subianto, perdeu nas urnas por uma diferença de seis pontos percentuais e queixou-se de fraude eleitoral generalizada, o que atrasou o anúncio oficial dos resultados – depois da contagem dos votos, que só terminou a 22 de Julho, foi preciso esperar mais um mês pela decisão do tribunal.

A pretensão de Subianto dificilmente seria bem recebida: apesar de algumas irregularidades detectadas num país com cerca de 250 milhões de habitantes e 190 milhões de eleitores, onde é necessário transportar boletins de voto entre milhares de ilhas, muitas vezes a cavalo e em pequenos barcos, os observadores internacionais elogiaram a forma como o acto eleitoral decorreu.

Na decisão anunciada nesta quinta-feira, os nove juízes da mais alta instância judicial do país decidiram por unanimidade não aceitar a esmagadora maioria das denúncias de Subianto, à excepção de algumas irregularidades na Papua, que não põem em causa a diferença de oito milhões de votos entre os dois candidatos.

Nas horas que antecederam o anúncio do Tribunal Constitucional, milhares de apoiantes do antigo general foram para as ruas. Houve confrontos com a polícia, que lançou gás lacrimogéneo, usou canhões de água para dispersar a multidão e deteve pelo menos quatro pessoas, mas não há registo de feridos graves.

Como tem sido hábito desde as primeiras eleições democráticas na Indonésia, em 1999, o candidato derrotado não fará um discurso de aceitação de derrota. Mas neste caso o porta-voz de Prabowo Subianto já fez saber que a decisão do tribunal será acatada – legalmente, já não há nada que Subianto possa fazer, já que a decisão do Tribunal Constitucional não é passível de recurso.

"Respeitaremos a decisão do tribunal, porque é final e vinculativa. Prabowo tem dito várias vezes aos seus apoiantes que se mantenham calmos", disse Tantowi Yahya à agência Reuters.

Por outras palavras, já nada impede Joko Widodo de assumir a Presidência da Indonésia no dia 20 de Outubro, sucedendo a Susilo Bambang Yudhoyono, que chega ao fim do seu segundo mandato.

A campanha eleitoral de Widodo e a sua vitória nas presidenciais é comparada à primeira eleição de Barack Obama nos Estados Unidos, pelo que representa de esperança numa mudança – na economia, mas também no início de um período democrático mais aberto.

No fundo, era isso mesmo que estava em jogo nestas eleições: de um lado, um político relativamente jovem, de 53 anos, popular enquanto governador de Jacarta mas sem cair no populismo; e, do outro, um antigo comandante das forças especiais do Exército, acusadas de raptos de dissidentes políticos e outros abusos dos direitos humanos, e ex-marido de uma das filhas do ditador Suharto, de quem foi discípulo.

O principal desafio de Joko Widodo – mais conhecido no país pela abreviatura Jokowi – é tirar a economia da estagnação e passar uma mensagem de confiança às empresas estrangeiras.

"Ao falar com as pessoas que o acompanham, fica-se com a sensação de que ele será um pragmático e um homem que toma decisões. A falta de pragmatismo e a falta de decisões têm tirado a paciência aos investidores ao longo do segundo mandato" de Susilo Bambang Yudhoyono, disse ao Wall Street Journal o responsável pela Câmara de Comércio Americana em Jacarta, Andrew White.

Também a abertura a uma democracia menos "musculada" esteve no centro da decisão de muitos dos que o escolheram para Presidente da Indonésia. "Se ele vencer", dizia antes das eleições o politólogo Anies Baswedan, presidente da Universidade Paramadina de Jacarta, "mudará o modo de sonhar dos jovens indonésios". Mas, tal como como aconteceu aquando da vitória de Barack Obama, não falta quem alerte para o excesso de expectativas.