Economia e desemprego contraditórios
A economia portuguesa, durante o primeiro semestre, não cresceu. A subida do segundo trimestre, ténue, de 0,6%, serviu apenas para compensar a descida, no mesmo valor, do primeiro trimestre. Os dados apontam, assim, para o declínio dos impulsos de crescimento observados no segundo semestre do ano passado. Em termos anuais, e não semestrais, o crescimento desceu para 0,8%, dois terços da estimativa governamental.
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A economia portuguesa, durante o primeiro semestre, não cresceu. A subida do segundo trimestre, ténue, de 0,6%, serviu apenas para compensar a descida, no mesmo valor, do primeiro trimestre. Os dados apontam, assim, para o declínio dos impulsos de crescimento observados no segundo semestre do ano passado. Em termos anuais, e não semestrais, o crescimento desceu para 0,8%, dois terços da estimativa governamental.
Quando se observa os dados do desemprego, a partir do INE, por sua vez, a taxa de desemprego baixou, homologamente, de 16,4 para 13,9%, uma redução de 140 mil desempregados, no último ano.
Põe-se então a questão: como foi possível, à economia portuguesa, diminuir o desemprego, apesar de ter tido apenas um crescimento de 0,8%?
O passado, e a generalidade dos estudos e da teoria económica, apontariam para que o desemprego só desceria quando a economia crescesse entre 1,5 e 2%, mas com um desfasamento, de 6 a 9 meses, entre as duas variáveis.
Como foi possível, então, que, com uns míseros 0,6% de crescimento, depois de três anos em recessão profunda, em que a riqueza nacional decresceu 6% em termos reais, agora, com sinais ténues de crescimento, abaixo de 1%, o desemprego tenha diminuído?
Pode haver, e há, certamente várias razões. A primeira deles é a emigração. Com ela, o desemprego pode baixar, sem que o emprego suba. Com fluxos migratórios fortes, a simetria entre o crescimento económico e a diminuição do desemprego desaparece. O primeiro semestre foi disso um exemplo: a taxa de desemprego diminui, a população desempregada decresceu cerca de 20 mil pessoas, mas houve uma diminuição do emprego em mais de 42 mil postos de trabalho. Desde que este Governo tomou posse, a diferença entre estas duas variáveis supera as 210 mil pessoas, podendo ser esta uma estimativa aproximada para a emigração.
Esta não é contudo a única explicação. Há uma segunda, No segundo trimestre a população empregada aumentou espantosamente quase 90 mil pessoas (mais 2%), sendo neste período que se justifica a quase totalidade do fluxo positivo do último ano, quando a economia apenas cresceu em cadeia 0,6%. O que justifica esta grande elasticidade imediata do emprego ao ciclo? Pensa-se que a sazonalidade (turismo, restauração, agricultura, hotelaria, etc.), segmentos de emprego trabalho-intensivos, ligados à época que se vive, sazonais. Assim, para criar emprego precisa-se duma menor intensidade de crescimento.
Em terceiro lugar, importa considerar a generosidade das políticas ativas de emprego, ocupando desempregados, em formação e programas ocupacionais, a troco duma bolsa, sendo, para efeitos estatísticos, considerados não desempregados ou mesmo empregados no Estado. O IEFP diz que os desempregados ocupados cresciam 50% em Julho.
Poderão haver ainda outras razões. Alguns, mais próximos da Troika, têm argumentado que a profundidade da crise, levou a que as empresas tenham ficado com menos emprego de “reserva”, isto é subocupado, logo a reação ao ciclo seria mais rápida. Isso explicaria a diminuição do desfasamento temporal, mas não tanto o facto de se criar emprego sem crescimento.
O que se sabe, contudo, é que mais emprego, sem mais crescimento, a existir, é sempre emprego mais empobrecedor. Depois, se o País não criar riqueza, acima dos juros que paga, o ajustamento dos endividamentos e do orçamento do Estado é impossível.