Bescabulário

Apresento aqui um glossário para ajudar quem não consegue perceber o que é que se está a passar no BES. Mas não é só para trabalhadores do Banco de Portugal e da CMVM. O português comum também pode tirar proveito deste minidicionário. (Aviso: tem vários erros ortográficos para parecer ainda mais uma explicação dada por um professor português.)

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Apresento aqui um glossário para ajudar quem não consegue perceber o que é que se está a passar no BES. Mas não é só para trabalhadores do Banco de Portugal e da CMVM. O português comum também pode tirar proveito deste minidicionário. (Aviso: tem vários erros ortográficos para parecer ainda mais uma explicação dada por um professor português.)

BANCO MAU — é a personagem das histórias infantis que se contam aos filhos e netos de accionistas de referência. “Avozinha, porque é este fundo estruturado tens uma taxa de juro tão grande?”, pergunta a neta. “É para te comer melhor!”, diz o Banco Mau. “Vais passar a ser o Capuchinho Que Está no Vermelho!”

CORE TIER — é uma corruptela de courtier, que quer dizer “cortesã”. Porque os banqueiros não frequentam bordéis vulgares, com prostitutas comuns, mas recorrem aos serviços de finas cortesãs. Quanto melhor for o nível de core tier do Banco, maior é a capacidade financeira para proporcionar meretrício de alto gabarito aos seus administradores. “Os angolanos só aceitaram investir no nosso banco depois da noite em que perceberem que tínhamos core tier 1.”

DDT — sigla pela qual é conhecido Ricardo Salgado. Até há um mês, DDT significava “Dono Disto Tudo”. Desde meados de Julho que significa “Devo Dinheiro a Todos”.

PAPEL COMERCIAL DO GES — papel que parece bom, mas afinal não serve para nada. “O Robert De Niro achava que ia ter um bom papel no filme do Martin Scorsese, mas quando leu o guião percebeu que afinal era um papel comercial do GES.”

REGULADOR — para os liberais portugueses, o Regulador é a entidade estatal responsável por alguém perder dinheiro em qualquer actividade económica. Pode sê-lo através do excesso de intervenção ou da ausência de intervenção. Segundo os liberais portugueses, o Estado nunca deve interferir no mercado, a não ser quando deve interferir no mercado. Alguém tem de moderar a actividade dos diferentes reguladores. Talvez um regulador.

Adianto, também, alguns neologismos que surgiram entretanto e já fazem parte do vocabulário dos portugueses.

ANGOLA OU BULGÁRIA? — a pergunta de José Guilherme cuja resposta de Ricardo Salgado valeu 14 milhões de euros. Antes havia a “pergunta de um milhão de dólares”, agora temos uma pergunta cuja resposta vale ainda mais. “Será que Ricardo Salgado vai preso? Essa é que é a pergunta ‘Angola ou Bulgária?’ deste caso.”

ABESTADO — diz-se de alguém que é abastado, mas com todo o património que possui retido no Banco Mau. “O Amílcar já nem consegue pagar a conta da água, é abestado.”

GESBOLA — uma espécie de vírus ébola que só afecta quem está ligado ao GES. “O Bernardo foi almoçar ao Pabe, mas ninguém se aproximou dele. Parece que tem Gesbola.”

SCHADENFRAUDE — mistura entre “Schadenfreude” e “fraude”. É um prazer muito específico, sentido com o infortúnio de outras pessoas que são acusadas de fraude. “Jardim Gonçalves sorriu ao lembrar que muitos amigos de Ricardo Salgado lhe tinham chamado vigarista, ao mesmo tempo que nunca tinham sequer falado das vigarices do presidente do BES. Agora que se descobrira que Salgado era o maior vigarista de todos, teve uma agradável sensação de Schadenfraude.”