O novo trompete

Ambrose Akinmusire não cede à pressão e confirma o seu estatuto de jovem estrela com um disco tão fascinante como intrigante.

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O trompete de Ambrose Akinmusire é penetrante e bem calibrado — um som como já não ouvíamos desde Hubbard ou Morgan
Ao terceiro álbum — depois de Prelude to Cora e When the Heart Emerges Glistening —, Ambrose Akinmusire reúne uma série de convidados ao seu habitual quinteto de trabalho e responde às enormes pressões e expectativas (herdadas com o título de “mais brilhante jovem trompetista do momento”) com um registo ambicioso, arriscado e surpreendente — 13 composições originais (12 assinadas por Akinmusire) que cruzam e trespassam géneros, da clássica contemporânea à pop, do jazz à soul ou à spoken word. A Akinmusire (trompete), Walter Smith (sax tenor), Sam Harris (piano), Harish Raghavan (contrabaixo) e Justin Brown (bateria) juntam-se Charles Altura (guitarra), Elena Penderhughes (flauta), três vocalistas — Becca Stevens, Cold Specks e Theo Bleckman — e um quarteto de cordas, para construir um álbum que integra uma música altamente progressiva com letras de pendor político e humanista. Num dos momentos emocionalmente mais fortes do disco, Akinmusire integra mesmo uma leitura, feita por uma criança, de nomes de jovens negros mortos pela polícia. Junte-se a isto uma duração de alto risco (79 minutos) e temos todos os ingredientes para aquilo que poderia ser uma misturada sem nexo, um fracasso. No entanto, o talento e rigor de Akinmusire, como instrumentista, compositor e band-leader, conferem ao disco um tom exploratório e visionário, unindo temas e ambientes numa experiência auditiva não convencional, tão fascinante como intrigante. 

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Ao terceiro álbum — depois de Prelude to Cora e When the Heart Emerges Glistening —, Ambrose Akinmusire reúne uma série de convidados ao seu habitual quinteto de trabalho e responde às enormes pressões e expectativas (herdadas com o título de “mais brilhante jovem trompetista do momento”) com um registo ambicioso, arriscado e surpreendente — 13 composições originais (12 assinadas por Akinmusire) que cruzam e trespassam géneros, da clássica contemporânea à pop, do jazz à soul ou à spoken word. A Akinmusire (trompete), Walter Smith (sax tenor), Sam Harris (piano), Harish Raghavan (contrabaixo) e Justin Brown (bateria) juntam-se Charles Altura (guitarra), Elena Penderhughes (flauta), três vocalistas — Becca Stevens, Cold Specks e Theo Bleckman — e um quarteto de cordas, para construir um álbum que integra uma música altamente progressiva com letras de pendor político e humanista. Num dos momentos emocionalmente mais fortes do disco, Akinmusire integra mesmo uma leitura, feita por uma criança, de nomes de jovens negros mortos pela polícia. Junte-se a isto uma duração de alto risco (79 minutos) e temos todos os ingredientes para aquilo que poderia ser uma misturada sem nexo, um fracasso. No entanto, o talento e rigor de Akinmusire, como instrumentista, compositor e band-leader, conferem ao disco um tom exploratório e visionário, unindo temas e ambientes numa experiência auditiva não convencional, tão fascinante como intrigante. 

A abertura do álbum — um duo de trompete e piano — é majestosa e simultaneamente simples. O tema seguinte, As we fight, desenvolve-se em torno de uma melodia labiríntica e hipnótica, funcionando como excelente introdução ao som pós-bop do quinteto, aqui complementado por Altura na guitarra. Ao terceiro tema surge Becca Stevens naquela que é, para nós, a participação vocal menos enquadrada do álbum, talvez pelo facto de Stevens assinar a letra e a música de Our basement, ao contrário de Bleckman e Cold Specks, responsáveis apenas pela letra das respectivas colaborações. Ao longo de todo o álbum, destaque ainda para o portento instrumental de Memo, bubbles (rítmica complexa e angular, evidenciando o contrabaixo de Raghavan) e para Richard, tema que fecha o disco com 16 minutos de um jazz vibrante e magnético. Nas vozes, é a cantora gothic-soul conhecida como Cold Specks que consegue ir mais longe na integração espiritual com Akinmusire, assinando uma prestação profundamente emocional, num relato soul-gospel de uma criança — Cyntoia Brown — condenada por crime aos 16 anos, e actualmente a cumprir uma sentença de prisão perpétua no Tennessee.