Quantas vidas têm as Galerias Lumière, no Porto?
Por enquanto são cinco as novas lojas; em Setembro serão mais sete. Juntando-as às quatro resistentes o resultado é o mais recente fôlego das Galerias Lumière, que receberá a loja mais pequena do Porto, uma mercearia japonesa
Durante os últimos anos, serviram apenas de passagem, um atalho entre as ruas José Falcão e a das Oliveira. Mas no dia 31 de Julho começou o que se espera ser o resto da vida das Galerias Lumière, construídas na década de 1980 e outrora casa dos cinemas Lumière A e L. Cinco novos espaços de restauração abriram e o átrio central, que já foi vazio sob enorme clarabóia, é agora sala de estar.
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Durante os últimos anos, serviram apenas de passagem, um atalho entre as ruas José Falcão e a das Oliveira. Mas no dia 31 de Julho começou o que se espera ser o resto da vida das Galerias Lumière, construídas na década de 1980 e outrora casa dos cinemas Lumière A e L. Cinco novos espaços de restauração abriram e o átrio central, que já foi vazio sob enorme clarabóia, é agora sala de estar.
Há música ambiente e mesas ocupadas; há cores para lá das fachadas transparentes que o rodeiam. E este é ainda o início, pois em Setembro mais sete novas lojas vão abrir, do design à decoração, passando pelo vestuário para crianças e pelas mercearias — uma italiano-portuguesa e outra japonesa. Esta última, numa montra, poderá mesmo ser “a loja mais pequena do Porto”, refere, como curiosidade, Lis Ferreira, responsável, com Inês Magalhães, pelo projecto que pretende “revitalizar as galerias para serem vividas de dia, para serem aproveitadas nos Invernos chuvosos, para serem o berço de novos conceitos e, acima de tudo, para que façam de novo parte do dia-a-dia de quem vive na cidade e naquela zona”.
Chamam-lhe “livraria de esquina”, “livraria gourmet”, “serviço público”. A Poetria pode ser tudo isso, mas é também uma resistente — mantém a porta aberta nas Galerias Lumière há 11 anos. “Somos os veteranos”, confirma Dina Ferreira, proprietária (e alma) da Poetria. Quis fechar a livraria várias vezes ao longo dos anos, mas houve sempre alguém que a impediu. E hoje, poucos dias depois do novo renascimento das galerias, está com Cláudia Castro, da empresa proprietária do centro comercial, a Imocpcis Empreendimentos Imobiliários, a estudar as obras que os seus 12 metros quadrados vão sofrer no âmbito desta renovação. Está “muito confiante” com este novo projecto, crê que vai trazer “animação em termos culturais e lúdicos”. “É malta nova, cheia de ideias. Vai tirar isto da inércia.”
“A ideia de fechar isto um tempo foi estratégica”, explica Cláudia Castro. Uma maneira de deixar assentar a poeira depois de uma mal sucedida tentativa de recuperação das Galerias Lumière, em 2009, que as transformou numa espécie de discoteca gigantesca. O entusiasmo inicial revelou-se efémero: foram-se os novos inquilinos e também muitos dos antigos até restarem os quatro que hoje permanecem e que ensaiaram a promoção do espaço nos últimos dois anos – com a Feira das Galerias Lumière, por exemplo — sem sucesso. Enquanto isso, a Imocpcis ia recebendo projectos de dinamização, “ideias megalómanas”. “Com este sentimos que é algo real, sustentado”, avalia Cláudia Castro. É esse o objectivo do novo projecto, assume Lis Ferreira, “construir algo que dure e que seja saudável para todos os que desfrutam das Lumière”. Uma das diferenças fundamentais, acredita, é a vontade em tornar as galerias num “ponto de encontro mais diurno do que nocturno” e fazê-lo “de forma sustentada, com um único conceito”.
Foi o conceito que mais atraiu os cinco novos inquilinos das galerias. À partida, os projectos deveriam ter “algum tipo de diferencial” em relação ao que já existe na zona. Houve convites e houve candidaturas. Filipa Montalvão não pensava expandir A Sandeira tão cedo, mas o convite de Inês Magalhães precipitou tudo. Agora, espera ansiosa pela abertura das lojas vizinhas. “Quanto mais depressa venham melhor”, afirma, “são negócios que se encaixam bem uns com os outros e espero que atraiam público interessante”. Para estar “mais perto do público”, o Piquenique, candidatura aprovada, também veio para o “coração da Baixa”. “É uma mais-valia”, reconhece Eduarda Pinto, sobretudo no contexto das galerias. “Não vemos [os outros espaços] como concorrência, mas como uma forma de enriquecer o projecto.”
Esta é uma visão partilhada por todos, novos e velhos inquilinos. A ideia-chave parece ser a dinamização do espaço como entidade una, algo que ouvimos na Creperia da Baixa e na gelataria Sou Sweet. Lis Ferreira está consciente da responsabilidade. “A animação nas Lumiére é imprescindível para a revitalização do espaço, tal como o pleno funcionamento de todas as lojas no seu interior e daquilo que oferecem”, assume, “e já existe um planeamento estratégico de acções”. Assegura que tudo o que for programado será para “sublimar a história deste centro e não para o desvitalizar”. Os eventos já programados parecem confirmá-lo. À tarde, a animação irá girar em torno da música e no Inverno chegam ciclos de cinema. Uma boa notícia para muitos dos que já frequentam as galerias, se atentarmos em Daniela Cunha e Tânia Moreira, do Tête à Croissant: “Quem chega fala-nos dos cinemas. É a memória colectiva”.