A Palmilha não tem dinheiro, mas eles têm o “crowdfunding”

Companhia de teatro Palmilha Dentada lançou uma campanha para ajudar a construir a próxima peça, que vai estar no Teatro do Campo Alegre, no Porto, a partir de 15 de Outubro

Andam há 14 anos a sobreviver assim: sem apoios estatais, com a ajuda do público e amigos e muita imaginação à mistura. Vai daí, a Palmilha Dentada lembrou-se de fazer mais ou menos o mesmo mas noutro formato: a companhia de teatro portuense lançou uma campanha de “crowdfunding” que quer, até ao dia 14 de Outubro, arrecadar três mil euros para ajudar nas despesas de construção e comunicação da próxima peça da companhia: Bzura.

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Andam há 14 anos a sobreviver assim: sem apoios estatais, com a ajuda do público e amigos e muita imaginação à mistura. Vai daí, a Palmilha Dentada lembrou-se de fazer mais ou menos o mesmo mas noutro formato: a companhia de teatro portuense lançou uma campanha de “crowdfunding” que quer, até ao dia 14 de Outubro, arrecadar três mil euros para ajudar nas despesas de construção e comunicação da próxima peça da companhia: Bzura.

Ivo Bastos, um dos quatro “palmilhas”, teve a ideia quando os amigos Helena Caetano e João Rodrigues lhe disseram “sem qualquer tipo de medos” que iam criar uma campanha de “crowdfunding” para editar o livro “Os Últimos Artesãos do Rio Paiva”. “Fiquei a pensar: a Palmilha Dentada tem no público o seu maior garante, há 14 anos que trabalhamos sem qualquer tipo de subsídio e há 14 anos que tem sido possível trabalhar por causa do público que temos, que obviamente vai pagando despesas. Com o “crowdfunding” o que me lembrei de fazer é praticamente uma venda de bilhetes antecipada, porque em todas as contrapartidas oferecemos entradas para o espectáculo, mas também, muito ao estilo da Palmilha, decidimos colocar algumas contrapartidas diferentes porque sabemos que temos público com vários tipos de loucura”, disse ao P3 o actor numa conversa telefónica.

Assim, quem apoiar com dois euros leva o título de “co-produtor fino” (sim, porque esse é mais ou menos o preço de uma cerveja nos dias de hoje), com cinco euros fica com a alcunha de “co-produtor simpático” (e um bilhete está garantido), com 100 euros já se é considerado um “co-produtor lambão” (com direito a dois bilhetes e jantar para duas pessoas no Vira Lata oferecidos pela companhia — e com a companhia deles) e por aí adiante... O “tecto” dos três mil euros foi pensado para “colmatar algumas despesas de material para cenários e figurinos e, acima de tudo, para a divulgação e comunicação do espectáculo” que vai estar no Teatro do Campo Alegre, no Porto, a partir de 15 de Outubro e se estreia em Leiria no dia 2 de Outubro. 

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A peça Bzura vai estrear-se em Leiria e vem depois para o Porto Paulo Pimenta

Mas a peça Bzura irá para os palcos com ou sem ajudas: “Com 'crowdfunding' realiza-se com um certo conforto, sem iremos inventar as soluções que sempre inventamos até hoje”, contou Ivo Bastos, que forma o quarteto Palmilha Dentada juntamente com Ricardo Alves, Rodrigo Santos e Nuno Preto. Nesta lista de funções extra entram coisas como pintar cartazes e colá-los ou recorrer a amigos para divulgação e passa a palavra (“Temos um senhor que nos pede sempre material [sobre a peça que estamos a fazer] e envia e-mails a todos os amigos”, exemplifica).

Esse “desenrascanço” está no ADN da companhia portuense, que depois de abandonar o Teatro Helena Sá e Costa por não conseguir suportar os custos associados a essa parceria faz da Fábrica, na Rua da Alegria, o seu armazém e local de ensaios. Mas a vida de casa às costas a que muitos artistas são submetidos não é simples e Ivo Bastos regozija-se com as mudanças que o pelouro liderado por Paulo Cunha e Silva está já a operar: “Felizmente este novo executivo camarário tem uma ideia muito diferente do que é a Cultura na cidade do Porto e está muito aberto ao diálogo. O facto de irmos fazer a peça no Teatro do Campo Alegre é já um reflexo de conversas que tivemos. Muito provavelmente a Câmara do Porto não irá dar resposta a todos os grupos que existem na cidade do Porto porque são muitos, mas já é uma boa resposta e outras salas podem eventualmente preencher o défice cultural que atravessámos nos últimos anos.”