Nos cálculos da ONU, a guerra está a matar uma média de 60 pessoas por dia: soldados ucranianos, combatentes pró-russos, membros de outros grupos armados e civis. Além dos mortos, o conflito já fez mais de 5000 feridos. As estimativas apresentadas baseiam-se em informações recolhidas junto das autoridades ucranianas e unidades hospitalares do país — como explicou Pouilly, os dados podem pecar por defeito uma vez que uma parcela significativa da população civil está sem acesso a cuidados médicos por causa da situação de insegurança. A mesma responsável notou ainda que os números não incluem os soldados russos que estarão a combater do outro lado da fronteira.

Nos cálculos da ONU, a guerra está a matar uma média de 60 pessoas por dia: soldados ucranianos, combatentes pró-russos, membros de outros grupos armados e civis. Além dos mortos, o conflito já fez mais de 5000 feridos. As estimativas apresentadas baseiam-se em informações recolhidas junto das autoridades ucranianas e unidades hospitalares do país — como explicou Pouilly, os dados podem pecar por defeito uma vez que uma parcela significativa da população civil está sem acesso a cuidados médicos por causa da situação de insegurança. A mesma responsável notou ainda que os números não incluem os soldados russos que estarão a combater do outro lado da fronteira.

As condições de vida das populações cercadas pioram a cada dia que passa. Quase não há bairros ou quarteirões que não exibam sinais da devastação causada por meses de fogo intenso — edifícios queimados e desmoronados, estradas intransitáveis. Em Lugansk, milhares de pessoas estão sem água, electricidade e telecomunicações há mais de uma semana.

A “guerra humanitária”
É para esta cidade que a Rússia quer encaminhar um enorme carregamento de ajuda humanitária. Os cerca de 300 camiões carregados com duas mil toneladas de ajuda alimentar que partiram de Moscovo ao início do dia de terça-feira, suspenderam a marcha a 300 quilómetros da fronteira com a Ucrânia, depois de o Governo de Kiev ter repetido que não vai permitir a sua entrada no país pela fronteira de Kharkiv (nordeste, sob controlo das forças governamentais), nem sem que antes a carga dos camiões seja inspeccionada.

As condições de Kiev para a entrada da ajuda humanitária russa no seu território foram clarificadas ao final do dia pelo porta-voz da presidência, Sviatoslav Tseholko: “A ajuda para Lugansk passa por um posto-fronteiriço próximo daquela cidade, as autoridades aduaneiras, os guardas fronteiriços ucranianos e os representantes da OSCE inspeccionam a carga na fronteira russo-ucraniana. A missão segue depois pelo território controlado pelos rebeldes. Chegada a Lugansk, a ajuda é distribuída aos civis pela Cruz Vermelha.”

Numa espécie de “contra-ataque humanitário”, o Presidente Petro Poroshenko anunciou, em nome das autoridades de Kiev, a partida de uma coluna de transporte de auxílio de emergência para distribuir pelos “cidadãos desprotegidos que foram feitos reféns nos territórios ocupados” pelos rebeldes pró-russos.

“A Ucrânia não deixará de atender as necessidades destes habitantes”, garantiu Sviatoslav Tseholko. Uma outra conselheira presidencial, Irina Herashchenko, disse que a operação do Governo ucraniano tinha sido acordada com o comité internacional da Cruz Vermelha, que foi mandatado para conduzir a assistência humanitária nas zonas de conflito.

A mesma Cruz Vermelha fez saber que “até ao momento” não deu o seu aval ao carregamento vindo de Moscovo, e que foi efectuado em instalações militares. “Não vimos o material, não obtivemos nenhuma informação relativa ao conteúdo dos camiões nem ao volume que está a ser transportado”, sublinhou Ewan Watson, porta-voz da organização, à Radio Free Europe.

A partir de Bruxelas, a NATO assinalou a “elevada probabilidade” de uma ofensiva terrestre na Ucrânia. “Moscovo está a construir uma narrativa e um pretexto para uma operação militar disfarçada de auxílio humanitário”, acusou o secretário-geral da aliança atlântica, Anders Fogh Rasmussen, que não escondeu a sua preocupação com a concentração de forças russas em exercícios militares junto à fronteira.

Segundo o porta-voz do Pentágono, John Kirby, o contingente russo na zona de fronteira inclui unidades de infantaria, artilharia e ainda da Força Aérea. Os EUA estimam que serão mais de 20 mil homens. “Em termos de capacidades, estarão em condições de desenvolver um espectro alargado de operações militares”, garantiu Kirby.

Moscovo não está a reforçar posições apenas na região que toca a zona Leste da Ucrânia. Outros contingentes foram também movimentados para bases militares russas em território da Bielorrússia, cerca de 250 quilómetros a Norte da capital ucraniana (Kiev), e também para a região russa de Rostov, a menos de 40 quilómetros da Ucrânia.

Além disso, e pela primeira vez, observadores internacionais detectaram a presença de vários veículos militares russos pintados com insígnias de missões de manutenção de paz — um novo dado que dá credibilidade à tese de que a iniciativa humanitária de Moscovo não passa de um “cavalo de Tróia”. O disfarce de veículos militares com emblemas de missões de paz foi uma táctica já utilizada pela Rússia nas suas intervenções na Geórgia e na região da Transnístria.

As cidades de Lugansk e Donetsk, pontos nevrálgicos da insurreição separatista e ainda sob o controlo das forças rebeldes pró-russas, estão cercadas pelas tropas ucranianas há mais de uma semana. Depois de ganhos territoriais nas duas províncias, o Exército nacional conseguiu empurrar os separatistas para os seus últimos redutos: em Kiev, as autoridades garantem que é uma questão de tempo até o seu território ser libertado.