Ucrânia diz que camiões russos com ajuda humanitária terão de parar na fronteira
Cruz Vermelha será chamada a distribuir apoio para a população de Lugansk, afirma porta-voz presidencial.
“Não aceitaremos que a ajuda humanitária seja acompanhada pelo Ministério russo das Situações de Urgência ou pelos militares russos”, frisou Chali
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
“Não aceitaremos que a ajuda humanitária seja acompanhada pelo Ministério russo das Situações de Urgência ou pelos militares russos”, frisou Chali
A ajuda humanitária que Moscovo se empenha em enviar para as populações das cidades de Lugansk e Donetsk – neste caso, apenas para Lugansk – onde estão entrincheirados os separatistas que declararam independência do resto da Ucrânia, é vista com desconfiança em Kiev e pelas potências ocidentais. Pode ser uma forma de a Rússia iniciar uma invasão do Leste da Ucrânia, avisa a NATO.
Os camiões russos, que já estão a caminho, devem demorar dois dias a percorrer os cerca de 1000 km desde os arredores de Moscovo até um posto fronteiriço próximo de Kharkov, onde se espera que entrem em território ucraniano ao final do dia desta quarta-feira. Laurent Corbaz, responsável pelas operações da Cruz Vermelha Internacional para a Europa, sublinhou no entanto a necessidade de esclarecer todos os pormenores práticos desta operação antes de avançar.
A Rússia sublinha que os habitantes que permaneceram nas cidades vivem uma catástrofe humanitária – com o fornecimento de água e electricidade cortado há muitos dias, sem alimentos nem medicamentos, e estando sob bombardeamento das forças governamentais, para forçar os rebeldes a renderem-se. Mas no Ocidente essa necessidade é vista com muito cepticismo – uma atitude que o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, classificou como “cínica”.
O Presidente francês, François Hollande, foi um dos vários líderes ocidentais a dar conta, numa conversa telefónica com Vladimir Putin, da “profunda inquietação que suscita a perspectiva de uma missão unilateral russa no território ucraniano”.
Nas imagens transmitidas pela televisão russa da longa coluna de veículos brancos que está a caminho da Ucrânia não é visível nenhum veículo militar. O porta-voz de Putin, Dmitri Peskov, garantiu, em declarações à AFP, que o coluna humanitária seguia sem escolta militar. Kiev e Ocidente temem uma cenário de Cavalo de Tróia, em que dentro dos camiões possam estar soldados e armas destinados a ajudar os rebeldes pró-russos, que enfrentam sérias dificuldades para conservarem os seus bastiões de Lugansk e Donetsk
Mas no meio desta guerra existe de facto uma crise de deslocados e há pessoas a precisar de assistência, sejam eles pró-russos ou nacionalistas ucranianos. Mais de 1100 pessoas morreram já em resultado dos combates.
O vice-ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Danilo Lubkivski anunciou esta terça-feira que o seu país está a negociar com as Nações Unidas um “acordo preliminar” para responder às necessidades da população afectada pelos combates no Leste da Ucrânia, que incluirá um encontro de dadores a realizar ainda esta semana.
A Rússia garante que os seus camiões brancos transportam cerca de duas mil toneladas de material humanitário “recolhido pelos habitantes de Moscovo e dos seus arredores”, destinado aos habitantes do Leste da Ucrânia, garantiu um responsável da administração da região da capital russa, citado pela agência Ria Novosti.
A bordo dos camiões, precisou a mesma fonte, viajam 400 toneladas de cereais, 100 toneladas de açúcar, 54 toneladas de medicamentos e material médico, bem como 69 geradores.