Sim, Locarno também tem filmes que não adiantam nem atrasam

Num ano de boa safra, uma passagem de relance pelos filmes a concurso que não deixaram grande memória

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Mas uma competição também se faz de filmes indiferentes ou francamente desinteressantes. Passemos por cima de La Sapienza, o novo exercício de snobismo austero do americano naturalizado francês Eugène Green, mais conseguido que a sua Religiosa Portuguesa de má memória mas sugerindo que o cineasta ainda não conseguiu recuperar a frescura dos primeiros filmes. Ignoremos também Perfidia, primeira longa do italiano Bonifacio Angius, sobre um pai e um filho que não se compreendem forçados a coabitar após a morte da mãe, que confunde em demasia sisudez com seriedade.  

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Mas uma competição também se faz de filmes indiferentes ou francamente desinteressantes. Passemos por cima de La Sapienza, o novo exercício de snobismo austero do americano naturalizado francês Eugène Green, mais conseguido que a sua Religiosa Portuguesa de má memória mas sugerindo que o cineasta ainda não conseguiu recuperar a frescura dos primeiros filmes. Ignoremos também Perfidia, primeira longa do italiano Bonifacio Angius, sobre um pai e um filho que não se compreendem forçados a coabitar após a morte da mãe, que confunde em demasia sisudez com seriedade.  

Fale-se de Cure - The Life of Another, segunda longa da suíça Andrea Staka, que ganhou o prémio máximo de Locarno em 2006 com Das Fraulein. História de fantasmas mista de distúrbio psicótico lynchiano na Dubrovnik de 1993, tem um ponto de partida interessante: uma liceal que cresceu na Suíça parece "assumir" a vida de uma colega que atravessou a guerra dos Balcãs, como se o seu fantasma omnipresente a impelisse a isso. Mas seria preciso um realizador com mais garra para fazer de Cure algo mais do que um exercício elíptico e sem chama nem personalidade.

Personalidade é o que não falta a A Blast, segunda longa do grego Syllas Tzoumerkas: uma personalidade muito grega, provocadora e ostensiva, que se inscreve abertamente na "nova vaga" de cinema helénico radical que teve o seu "tiro de partida" com Canino, de Yorgos Lanthimos. A Blast evoca abertamente a crise económica que afectou o país ao longo dos últimos anos através da história de Maria e dos seus sonhos de futuro que se esfumaram, saltando no tempo entre um presente em que ela decide deixar tudo para trás e os momentos do passado que a levaram a essa atitude.

Aggeliki Papoulia é notável no papel desta mulher que a vida força à "explosão" do título, mas não chega para contrabalançar o histerismo desequilibrado, paredes-meias com o desonesto, de Tzoumerkas. Como se, sabendo que a história que tem para contar não é verdadeiramente nada de novo nem de original, o realizador tivesse decidido disfarçá-la atrás de muito fogo de artifício (sexo de todo o tipo, gritos, bebedeiras e pancadaria) que parece servir apenas para chamar a atenção.