Motins no Missouri depois de jovem negro ser atingido a tiro por agente da polícia
Há versões distintas sobre a morte de Michael Brown, de 18 anos, que estava desarmado quando foi atingido por vários tiros. População indignou-se e vigília pela morte terminou em vandalismo e confrontos com a polícia.
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O caso provocou motins naquela localidade de 21 mil habitantes, um subúrbio de St. Louis, a maior cidade do estado de Missouri, e reacendeu o debate sobre direitos cívicos e discriminação racial. Uma vigília pelo jovem estudante, que se preparava para iniciar o ensino universitário esta semana, redundou em manifestações e violentos confrontos com a polícia, no domingo e segunda-feira — ontem, a situação permanecia tensa, com novos protestos marcados junto às instalações do Ministério Público.
O Presidente, Barack Obama, pediu entretanto calma, na primeira vez que falou sobre o acontecido. “Sei que os acontecimentos dos últimos dias provocaram sentimentos fortes”, disse. “Mas à medida que se vão sabendo mais detalhes peço a todos em Ferguson, e por todo o país, para lembrarem este jovem através de reflexão e compreensão”.
As autoridades anunciaram entretanto que não iriam divulgar o nome do polícia que disparou invocando risco para a segurança do agente.
Na segunda-feira, o chefe da polícia do condado de St. Louis, Jon Belmar, pediu que a população mantivesse a calma e a confiança no trabalho das autoridades. “Compreendo que as pessoas estejam cépticas, mas peço que sejam razoáveis e percebam que uma investigação demora tempo para ser bem feita”, declarou. O trabalho da polícia está a ser revisto pelo FBI, acrescentou.
O autarca de Ferguson, James Knowles, fez um idêntico apelo à ordem, apesar de reconhecer razões para o nervosismo da comunidade após o incidente. “Há aqui um problema. Temos um jovem que foi morto e precisamos de saber exactamente porquê para podermos viver sossegados. Mas não vamos a lado nenhum, nem vamos obter respostas, se continuarem os motins”, referiu em entrevista à CNN.Segundo adiantou Jon Belmar em conferência de imprensa, “na génese do caso esteve uma confrontação”, cujos detalhes serão esclarecidos. A autópsia já realizada revelou que o jovem tinha múltiplos ferimentos causados por arma de fogo; as provas forenses recolhidas no local demonstram que só a arma da polícia foi disparada.Também o pai de Michael Brown fez um apelo à calma, mas também à justiça: “O meu filho morreu. Há uma pessoa que tem de pagar por isso”.“Sabem como foi difícil para mim conseguir que ele não deixasse a escola e conseguisse entrar na universidade? Quantos rapazes negros conseguem manter-se fora de apuros e terminar os estudos, Não muitos”, perguntava e respondia a mãe de Michael, Lesley McSpadden, perante as câmaras de televisão que registavam imagens da vigília. “Foi a policia que me levou o meu rapaz; é a polícia que faz isto quando olha para os jovens como criminosos e os faz sentir que, façam o que façam, não vão deixar de ser perseguidos”, acusou.O caso mereceu a atenção do responsável pelo departamento de Justiça dos Estados Unidos, Eric Holder, que nomeou uma equipa para ajudar os investigadores federais e as autoridades locais durante o inquérito.