Fundos de alto risco terão ganho dezenas de milhões de euros com queda das acções do BES
Wall Street Journal avança que só um destes fundos terá feito mais-valias de 27 milhões a apostar no colapso do banco.
Quando apostam na queda de uma determinada acção, os hedge funds pedem emprestados títulos dessa empresa, que vendem, na esperança de que o título vai continuar a cair. Se a aposta der certo, o fundo pode recomprar as acções que vendeu a um preço mais baixo, pagar o empréstimo e ficar com a mais-valia gerada.
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Quando apostam na queda de uma determinada acção, os hedge funds pedem emprestados títulos dessa empresa, que vendem, na esperança de que o título vai continuar a cair. Se a aposta der certo, o fundo pode recomprar as acções que vendeu a um preço mais baixo, pagar o empréstimo e ficar com a mais-valia gerada.
O Wall Street Journal adianta que um dos maiores fundos a apostar na queda das acções do banco foi o Marshall Wace LLP, que fez uma aposta inicial em 15 de Maio, de acordo com os registos da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). Nessa altura, as acções estavam a negociar-se a 99 cêntimos.
O fundo teria reforçado a posição inicial de 0,51% do capital social do banco para 0,85% em meados de Junho, reduzindo novamente para 0,51% a partir de 30 de Julho.
Este fundo de alto risco, sediado em Londres, terá feito, segundo cálculos do Wall Street Journal, um lucro de cerca de 27 milhões de euros (36 milhões de dólares) tendo em conta a última cotação do BES em bolsa, a 12 cêntimos, e sem ter em consideração custos de empréstimos das acções e taxas de corretagem.
O jornal salvaguarda que o cálculo é feito a partir do valor das acções, no momento da entrada do fundo, e o fecho a 12 cêntimos da passada sexta-feira, antes da suspensão da negociação das acções do BES, por parte do regulador nacional. Salvaguarda ainda que não sabe se o Marshall Wace LLP fechou a posição antes da suspensão.
Contactado pelo Wall Street Journal, o fundo não prestou qualquer esclarecimento sobre o investimento no BES.
Outro hedge fund citado pelo jornal que terá gerado ganhos elevados é o TT International, que assumiu uma posição curta em Julho do ano passado e aumentou em Junho do corrente ano. Os cálculos do jornal norte-americano apontam para um possível ganho de 15 milhões de euros. O TT também não prestou esclarecimentos sobre o investimento no BES.
A publicação refere ainda que um dos últimos fundos a entrar foi o Altair Investment Management Ltd, sedeado nas Bermudas, e que segundo a mesma fórmula de cálculo teria lucrado 11 milhões de euros.
A queda das acções do BES foi vertiginosa desde os finais de Junho, tendo sido mais acentuada nos finais de Julho e Agosto, o que levou a CMVM a determinar a proibição de vendas a descoberto. A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários proibiu, em vários dias, a venda de acções a descoberto no BES.
"A flutuação do preço das acções em causa não pode excluir a ocorrência de um fenómeno de especulação com impacto negativo", indicou o regulador do mercado nos comunicados em que determinou a suspensão.
A par da aposta dos hedge funds, que muitas vezes perdem dinheiro quando as acções sobem repentinamente e têm de comprá-las a um preço mais alto para as devolver aos verdadeiros titulares, a CMVM está a investigar a possibilidade de alguns investidores terem tido acesso a informação privilegiada sobre a situação do banco, gerando um movimento de venda que gerou uma desvalorização de 64% em dois dias.
As acções do BES, que não devem voltar a negociar-se, fizeram a última cotação de 12 cêntimos, uma perda superior a 90% face ao valor do início do ano.
No último domingo, o Banco de Portugal determinou a divisão do BES num “banco bom”, que fica com a rede comercial, e num “banco mau”, que mantém a designação de BES, reúne as participações accionistas e fica com os activos problemáticos. Os activos deste bad bank deverão ser liquidados.