Enfermeiros dizem-se exaustos e fazem greve para reclamar contratações
Dirigentes de sindicato dos enfermeiros dizem que há profissionais a trabalhar "12 horas por dia, sem folgas, com ritmos brutais que levam à exaustão".
Os enfermeiros protestam contra a “falta crónica” de recursos humanos, que se tem vindo a agravar com a saída de muitos para a reforma e as licenças de maternidade, e que provoca um estado de “exaustão” nos colegas, que são obrigados a assegurar o trabalho dos que faltam. A culpa é do “Ministério da Saúde que não dá autorização para contratar”, explica Fátima Monteiro. “Há enfermeiros a trabalhar 12 horas por dia, sem folgas, com ritmos brutais que levam à exaustão”, descreve.
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Os enfermeiros protestam contra a “falta crónica” de recursos humanos, que se tem vindo a agravar com a saída de muitos para a reforma e as licenças de maternidade, e que provoca um estado de “exaustão” nos colegas, que são obrigados a assegurar o trabalho dos que faltam. A culpa é do “Ministério da Saúde que não dá autorização para contratar”, explica Fátima Monteiro. “Há enfermeiros a trabalhar 12 horas por dia, sem folgas, com ritmos brutais que levam à exaustão”, descreve.
A paralisação afecta sobretudo o internamento, as cirurgias programadas e, em geral, tratamentos feitos por profissionais de enfermagem, mas os serviços mínimos nas urgências e outros actos essenciais estão garantidos.
Laranja Pontes garantiu que a adesão não está a ser tão elevada quanto diz o sindicato e deu o exemplo do bloco operatório, onde “apenas quatro dos 16 enfermeiros [escalados] estão a fazer greve”. Segundo o admnistrador do IPO, o ministério autorizou recentemente a contratação de dez profissionais. Mas a tarefa não está a ser fácil. “Recebi cerca de 1500 currículos”, diz Laranja Pontes, que sustenta que a autorização para contratar uma dezena de enfermeiros não é suficiente para colmatar a falta dos que têm saído. “Perdemos 25 enfermeiros, por reforma, e estes não foram [ainda] substituídos”, afirma o admnistrador do IPo do Porto, que destaca a urgência de contratar profissionais para render colegas em licença de maternidade e ausentes por gravidez.
Em greve estão igualmente os enfermeiros do Centro Hospitalar do Alto Ave (hospitais de Guimarães e de Fafe), mas aqui o protesto prolonga-se por três dias, nesta que é mais uma das paralisações sectoriais e parciais convocadas pelo SEP. De manhã, o sindicato adiantava que tinham sido adiadas 23 cirurgias.
Menos 1600 profissionais
Pelas contas do sindicato, desde o final do ano passado, o país já perdeu cerca de 1600 profissionais, tanto por reformas como pela via da emigração. A carência é “insustentável”, garante Guadalupe Simões, da direcção do SEP, que não afasta a possibilidade de uma paralisação geral.
“O que está em causa em todo o país é essencialmente a desregulamentação do trabalho dos enfermeiros. São cada vez mais os casos de colegas a quem as instituições impõem turnos de 12 e mais horas e mesmo quem tem turnos de oito horas acaba por ficar a fazer inúmeras horas extraordinárias por não haver quem os renda”, descreve Guadalupe Simões, que estima que em todo o país faltem perto de 25 mil enfermeiros, 1600 dos quais saíram do Serviço Nacional de Saúde desde o final do ano passado.
“Estão em falta uma média de 25 a 30 enfermeiros por cada instituição”, ilustra, dizendo também que neste momento “o problema não está em muitas das horas extraordinárias nem serem pagas”, mas sim na “exaustão” que compromete a qualidade dos serviços prestados com pessoas a trabalharem 12 dias seguidos, “quando a lei prevê duas folgas semanais”.
Nos centros de saúde, Guadalupe Simões também aponta “grandes falhas” que comprometem alguns programas, pelo que assegura que os protestos também vão incluir os agrupamentos de centros de saúde.
Do lado da tutela, a sindicalista diz que esperam há mais de três meses por uma reunião com o secretário de Estado adjunto da Saúde, Fernando Leal da Costa. No final de Julho enviaram uma carta ao ministro a alertar para o atraso e já conseguiram agendar encontro para o dia 28 de Agosto. “Mesmo com a reunião não vamos desmarcar os protestos sem termos medidas efectivas para resolver os nossos problemas. Com o agudizar dos problemas, avizinham-se tempos de luta intensa”, alerta Guadalupe Simões.
“Estamos a avaliar no terreno a possibilidade de avançar para uma greve geral”, admite, alertando que continuam a existir casos de enfermeiros que ganham abaixo do que as carreiras prevêem, com profissionais a entrarem a ganhar 1201 euros e outros 1020, e que os concursos para enfermeiro principal não chegam para assegurar as progressões na carreira.
Nesta terça-feira, da parte da tarde, os enfermeiros têm ainda um plenário marcado na Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa, que servirá para analisar a actual situação de prestação de cuidados de enfermagem às populações. A semana começou precisamente com um outro plenário semelhante no Hospital Curry Cabral e na quarta-feira terá lugar outra iniciativa no Hospital de S. José, em Lisboa. Na sexta-feira foi a vez do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho.