Os homens também têm listas

Se daqui a um tempo alguém lhe pedisse que apontasse um animal com riscas, qual seria? Obviamente… A zebra. Mas só porque temeria que o seu interlocutor não achasse piada a ser chamado de “animal”

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Tambako The Jaguar/Flickr

Eventualmente, se alguém lhe pedisse que em dois segundos referisse o nome de um animal com riscas, seria certamente rápido a apontar a zebra ou algum felino, certo? Pois bem, apresento-lhe outra proposta de resposta: o homem. E não, prometo que não farão troça de si.

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Eventualmente, se alguém lhe pedisse que em dois segundos referisse o nome de um animal com riscas, seria certamente rápido a apontar a zebra ou algum felino, certo? Pois bem, apresento-lhe outra proposta de resposta: o homem. E não, prometo que não farão troça de si.

É que por mais incrível que pareça, tal como ocorre com as zebras ou os tigres, também o corpo humano está repleto de riscas, quer seja no rosto, no tronco ou nos membros… E o mais curioso ainda é o facto de estas formarem padrões idênticos em todos os indivíduos, apesar de não estarem relacionadas com o sistema nervoso, circulatório ou com qualquer outro sistema do organismo. Aliás, nem mesmo fatores como o sexo, a idade ou a cor da pele permitem uma distinção de pessoa para pessoa. Verdade seja dita, as zebras também são todas iguais…

Estas riscas de que vos falo designam-se, cientificamente, por linhas de Blaschko. Não estão associadas a nenhuma patologia e permanecem maioritariamente invisíveis – o que explica muita coisa. As raras exceções em que se revelam detetáveis ocorrem em indivíduos com uma mutação genética designada por quimerismo. Nestes, a fecundação de dois óvulos em simultâneo, em vez de apenas um como seria suposto, culmina na mistura de informação genética e numa consequente má formação do indivíduo que terá então dois tipos de ADN. Em termos práticos, teremos deste modo áreas da pele formadas por um tipo de células, em alternância com outras com um tipo diferente, gerando, evidentemente, padrões cutâneos distintos e, portanto, riscas perfeitamente visíveis.

Mas é então que surge o inevitável pensamento: “Quer dizer, eu tenho riscas, nunca ouvira falar sobre o assunto… Como é que elas surgiram, afinal?” Bem, de entre os estudos já realizados, e embora não haja certezas quanto ao assunto, a teoria mais aceite de momento é que estas são remanescentes do movimento das células da epiderme durante o desenvolvimento embrionário. Ou seja, à medida que o feto se foi desenvolvendo, as células proliferaram seguindo linhas específicas que acabaram por nos caracterizar enquanto espécie.

Para finalizar, não há nada como voltar ao início. E à mesma questão: Se daqui a um tempo alguém lhe pedisse que apontasse um animal com riscas, qual seria? Obviamente… A zebra. Mas só porque temeria que o seu interlocutor não achasse piada a ser chamado de “animal”.