Israel retira tropas de Gaza no início da trégua de 72 horas

Egipto deverá mediar negociações para uma acalmia duradoura apesar das exigências incompatíveis de Israel e do Hamas.

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Blindado israelita em manobras junto à fronteira com Gaza Jack Guez/AFP

As forças terrestres “reposicionaram-se em posições defensivas fora da Faixa de Gaza e vão mantê-las”, anunciou o coronel Peter Lerner, porta-voz do Exército, dando a entender que Israel não decidiu ainda dar por terminada a ofensiva que lançou a 8 de Julho para tentar travar os rockets disparados a partir do território sob controlo do Hamas.

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As forças terrestres “reposicionaram-se em posições defensivas fora da Faixa de Gaza e vão mantê-las”, anunciou o coronel Peter Lerner, porta-voz do Exército, dando a entender que Israel não decidiu ainda dar por terminada a ofensiva que lançou a 8 de Julho para tentar travar os rockets disparados a partir do território sob controlo do Hamas.

Após uma semana de bombardeamentos, foi a vez de os soldados entrarem em Gaza para destruir os túneis cavados pelos militantes palestinianos sob a fronteira — o receio de incursões terroristas ajuda a explicar o imenso apoio da população israelita à ofensiva, mesmo depois de as Nações Unidas terem anunciado que mais de dois terços dos que morriam em Gaza eram civis. “Afastámos por completo essa ameaça”, assegurou o porta-voz, dizendo que ao todo foram encontrados e destruídos 32 corredores subterrâneos.

A trégua entrou em vigor às 8h locais (6h em Portugal continental), mas até aos últimos minutos houve violência. O Hamas lançou pouco antes vários rockets contra Israel, fazendo soar as sirenes das cidades junto à fronteira até aos subúrbios de Jerusalém. A anunciada “vingança contra os massacres israelitas” não terá provocado feridos. A aviação israelita largou mísseis sobre diferentes alvos na Faixa de Gaza, sem provocar vítimas.

O Egipto confirmou que tanto Israel (que anunciou a noite passada o seu aval) como o Hamas aceitaram a trégua e se comprometeram a negociar uma acalmia. Ambos garantem, no entanto, que vão responder a qualquer provocação do outro lado, o que coloca sob permanente ameaça os esforços diplomáticos para pôr fim ao pior surto de violência entre israelitas e palestinianos dos últimos anos — a anterior tentativa de cessar-fogo fracassou ao fim de hora e meia.

A imprensa israelita adianta que Israel deverá enviar nos próximos dias uma delegação ao Cairo para, através de mediadores, estabelecer um compromisso mínimo com o Hamas para o regresso da acalmia. Várias fontes indicam também que as facções palestinianas, que semanas antes da ofensiva acordaram a formação de um governo de unidade, se entenderam sobre as exigências que farão a Israel.

A tarefa, porém, não se adivinha fácil. Além de nenhum dos lados reconhecer legitimidade ao outro (o Hamas não reconhece o Estado de Israel; Israel trata o Hamas como organização terrorista), as condições que apresentaram até agora são incompatíveis. O movimento palestiniano exige o fim do bloqueio a Gaza, que dura desde 2006, e a libertação dos seus militantes detidos após o sequestro e assassínio de três adolescentes israelitas na Cisjordânia.

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, insiste na desmilitarização de Gaza, território que desocupou em 2004 e que foi desde então já palco de três sangrentos conflitos. “Temos de evitar que o Hamas se rearme, temos de desmilitarizar a Faixa de Gaza”, afirmou Mark Negev, porta-voz de Netanyahu, à Reuters. Uma exigência totalmente inaceitável para o Hamas, que se define como movimento de resistência, mesmo que a ideia agrade ao Egipto, governado agora por um regime hostil aos islamistas.  

Mesmo que a acalmia se mantenha, Gaza herda desta guerra uma pesada factura. Os serviços de saúde contam 1867 mortos, a grande maioria civis, e mais de 9000 feridos. Um quarto da população foi obrigada a deixar as suas casas antes ou durante os combates e mais de três mil casas foram destruídas ou gravemente danificadas nos bombardeamentos. Num território onde já quase tudo era escasso, falta agora o pouco que havia e a ONU calcula que sejam precisos seis mil milhões de dólares (4,5 mil milhões de euros) para reconstruir as residências e infra-estruturas destruídas em 29 dias de ofensiva.

Israel contabiliza a morte de 62 soldados na ofensiva, a que se somam três civis vítimas das explosões de rockets. Segunda-feira deu conta de dois possíveis atentados em Jerusalém, um protagonizado pelo condutor de um bulldozer lançado contra um autocarro depois de atropelar mortalmente um homem, e o outro da autoria de um desconhecido que matou a tiro um soldado.