Juncker ficou sem uma mulher e Portugal com uma pasta irrelevante
Passos abdicava da sua ministra das Finanças a troco da pasta dos Fundos Estruturais. Juncker não quis assumir um compromisso, que ainda não assumiu nem sequer com Paris e Berlim. Ficou com Carlos Moedas.
Passos aceitava enviar a sua ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, se tivesse a garantia de uma pasta com peso em Bruxelas. Depois de ter percebido que as pastas económicas e financeiras não estavam ao alcance, pediu os Fundos Estruturais. Juncker não lhe podia dar essa garantia. Ainda não organizou a sua nova Comissão, porque só agora dispõe dos nomes de todos os comissários. Distribuir 27 pastas é um verdadeiro quebra-cabeças. Tem de manter os equilíbrios tradicionais entre Norte e Sul, entre pequenos e grandes, entre as diferentes famílias políticas, entre os países novos e os velhos, e, evidentemente, tem de levar em conta aquelas capitais que têm mais poder, especialmente Berlim. De acordo com informações obtidas pelo PÚBLICO, ainda nem sequer se comprometeu com a Alemanha e com a França. Falta-lhe fazer o novo organograma da Comissão, que quer alterar para obter maior eficácia. Em cima da mesa tem uma ideia que não agrada nada a Portugal: organizar as pastas por clusters, que ficariam sob a responsabilidade de seis vice-presidentes. Para algumas capitais, incluindo Lisboa, é muito difícil aceitar um modelo em que, na prática, haveria comissários de primeira e de segunda.
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Passos aceitava enviar a sua ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, se tivesse a garantia de uma pasta com peso em Bruxelas. Depois de ter percebido que as pastas económicas e financeiras não estavam ao alcance, pediu os Fundos Estruturais. Juncker não lhe podia dar essa garantia. Ainda não organizou a sua nova Comissão, porque só agora dispõe dos nomes de todos os comissários. Distribuir 27 pastas é um verdadeiro quebra-cabeças. Tem de manter os equilíbrios tradicionais entre Norte e Sul, entre pequenos e grandes, entre as diferentes famílias políticas, entre os países novos e os velhos, e, evidentemente, tem de levar em conta aquelas capitais que têm mais poder, especialmente Berlim. De acordo com informações obtidas pelo PÚBLICO, ainda nem sequer se comprometeu com a Alemanha e com a França. Falta-lhe fazer o novo organograma da Comissão, que quer alterar para obter maior eficácia. Em cima da mesa tem uma ideia que não agrada nada a Portugal: organizar as pastas por clusters, que ficariam sob a responsabilidade de seis vice-presidentes. Para algumas capitais, incluindo Lisboa, é muito difícil aceitar um modelo em que, na prática, haveria comissários de primeira e de segunda.
Para Passos Coelho, perder a sua ministra das Finanças (que, ainda por cima, conquistou por mérito próprio uma imagem credível) sem uma contrapartida forte, tornaria a justificação da sua escolha perante o país praticamente impossível. Inicialmente, o primeiro-ministro pretendia resolver a escolha da comissária com o nome de Maria da Graça Carvalho, alguém muito próximo de Durão Barroso (que fez pressão para ser ela a escolhida), que trabalhou bem no Parlamento Europeu na área das Ciências, mas a quem falta também peso político. Desta vez, a pressão para desistir do seu nome veio fundamentalmente de Belém, com o argumento do seu low profile. Uma outra hipótese que esteve, ainda antes, em cima da mesa seria um acordo entre Passos e Paulo Portas, que aceitaria listas de coligação nas próximas legislativas a troco da sua saída para Bruxelas. O compromisso acabou por não funcionar, na medida em que a ida do número dois do Governo para Bruxelas seria um sinal de fraqueza e de fim de ciclo. Com a agravante de Paulo Portas ter um perfil exclusivamente político e também não poder aceitar uma pasta qualquer. O líder do CDS/PP apresentou os seus argumentos contra a saída de Maria Luís Albuquerque, de resto mais ou menos óbvios: a preparação do próximo Orçamento, que é crucial, e agora a tempestade levantada pelo BES. Mas deu carta-branca a Passos Coelho para negociar livremente.
O nome de Maria Luís Albuquerque chegou ao gabinete de Jean-Claude Juncker soprado directamente do gabinete de Wolfgang Schäubel. Os ministros das Finanças conhecem-na bem por causa do Eurogrupo. O seu homólogo alemão aprecia a forma como ela segue as suas orientações puras e duras para consolidar o euro e, provavelmente, constatou nela as qualidades que também lhe são reconhecidas em Lisboa. Mas Maria Luís Albuquerque não é uma figura conhecida na Europa nem, ela própria, tem uma grande experiência das questões europeias. Além disso, Portugal está longe de recuperar a sua boa imagem europeia, não apenas por ser ter sido um país “de programa”, mas, agora, com esta crise tremenda desencadeada pelo BES, que ainda o torna mais vulnerável aos olhos dos seus parceiros.
Finalmente, a candidatura de Maria João Rodrigues não tinha qualquer hipótese à partida, independentemente dos seus méritos indiscutíveis. Passos não iria escolher alguém cujo pensamento sobre a Europa diverge completamente do seu. Juncker, que conhece muito bem o seu trabalho, teria colocado o seu nome em cima da mesa se recebesse um pequeno sinal de que podia ser apoiada pelo Governo português.
Neste puzzle europeu faltam ainda muitas peças. Os líderes ainda não escolheram os nomes para preencher os cargos institucionais, a não ser o de presidente da Comissão, que lhes foi imposto pelo Parlamento Europeu. Na cimeira de 16 de Julho não se conseguiram entender nem sobre o presidente do Conselho Europeu nem sobre o alto-representante para a política externa. Este último será um dos vice-presidentes da Comissão e Juncker também precisa de saber quem será, para organizar a seu executivo. Sabe-se que a chefe da diplomacia italiana, Federica Mogherini, que Matteo Renzi quer à viva força à frente da diplomacia europeia, começa a perder apoios. O lugar devia ser para uma mulher socialista, critérios que ela preenchia. Agora a figura do ministro dos Negócios Estrangeiros holandês, um velho europeísta de outros tempos e membro do Partido Trabalhista, pode ser uma hipótese para o cargo. Mesmo assim, Jerome Dijsselbloem, o actual ministro holandês das Finanças e presidente do Eurogrupo, mantém-se na corrida, sendo um nome muito bem-visto.
Se o chefe da diplomacia holandesa fosse escolhido para substituir Catherine Ashton, sendo homem, o lugar de Rompuy teria de ir para uma mulher conservadora, que não se vê ainda quem possa ser. O problema do ministro holandês é que o seu colega das Finanças, também ele socialista e actual presidente do Eurogrupo, quer ser também comissário e de uma pasta que detenha o funcionamento da UEM. Pierre Moscovici já é o candidato francês, que terá de ter uma pasta importante mas cuja importância está à espera da aprovação de Berlim. Enfim, há ainda um sem-número de questões a resolver por Juncker nesta verdadeira “mercearia” da distribuição do poder europeu.
Com apenas três mulheres como comissárias, vai ser muito difícil ao novo presidente levar a sua Comissão ao julgamento do PE. Exercitando uma força que lhe foi dada pelo Tratado de Lisboa, os eurodeputados já não temem enfrentar os respectivos Governos. Querem, diz o seu presidente, Martin Schulz, nove mulheres no executivo de Bruxelas e ameaçam com um veto a Juncker. Portugal não o vai ajudar, mesmo que se arrisque, depois de 10 anos de Barroso e de três de troika, a ficar com uma pasta low profile.