Esta dança é muito séria
A verdade faz-nos mais fortes
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Álbum de uma vivacidade inescapável e de uma lírica quase táctil (abundam corpos e petiscos, há buços de vinho e barrigas iluminadas por fogueiras), B Fachada mostra que o magnífico Criôlo não foi álbum à parte. Digamos que o regressado B Fachada é o novo Fachada que se recolhera em 2012. Alguém que viaja pela tradição musical lusófona, com vistas largas, como o fez Fausto, mas embrenhado nas possibilidades abertas pelo mundo pop pós Person Pitch. Alguém que alia a cadência física do ritmo (as canções prolongam-se por cinco, seis minutos, para prazer de quem dança) ao poder cáustico das palavras. O Camuflado parte da autobiografia para chegar ao país que não sabe o que fazer da memória da guerra colonial, Dá mais música à bófia atira-se às vozes que se erguem e aos que as calam (“a polícia fica louca / quando a canção cabe na boca” e sai “mais um tirinho para a memória”), o ritmo quebrado de Crus é festim escaldante (e lá dançamos com “liberdades no bolso/algemas na mão”) e a magnífica Pifarinho é delírio surrealista a psicadelizar noite fora (“Ich bin ein poltergeist!”).
A invenção musical veste capa lúdica e o Verão fica-lhe bem. As palavras de José Afonso servem a despedida do regresso: “nem toda/a força do pano/todo o ano/ Quebra a proa/do mais forte/nem a morte”. B Fachada é um disco muito sério. Ouçamo-lo. Dancemo-lo.