Site de encontros junta utilizadores incompatíveis para experiência polémica
OkCupid retirou fotos, mexeu nos perfis e alterou percentagens das compatibilidades dos utilizadores
Experiências legítimas em nome da ciência ou da psicologia humana são geralmente bem-vindas. E quando os objectos de estudo não sabem que estão a ser testados, será que essas experiências são válidas? O Facebook fez isso mesmo. Quase 700 mil utilizadores da rede social foram submetidos a um teste comportamental sem o seu conhecimento, através do seu "feed de notícias". A questão da falta de ética e a crítica à manipulação psicológica surgiram. O site de encontros OkCupid confirma agora que também fez uma experiência em "seres humanos" sem informar os seus utilizadores.
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Experiências legítimas em nome da ciência ou da psicologia humana são geralmente bem-vindas. E quando os objectos de estudo não sabem que estão a ser testados, será que essas experiências são válidas? O Facebook fez isso mesmo. Quase 700 mil utilizadores da rede social foram submetidos a um teste comportamental sem o seu conhecimento, através do seu "feed de notícias". A questão da falta de ética e a crítica à manipulação psicológica surgiram. O site de encontros OkCupid confirma agora que também fez uma experiência em "seres humanos" sem informar os seus utilizadores.
Christian Rudder, um dos co-fundadores do OkCupid, anunciou os resultados da experiência no blogue do popular site. E começa por admitir que, à semelhança de qualquer outro site, o OkCupid “não sabe, de facto, o que está a fazer”. Quanto à legitimidade da experiência, Rudder volta a ser directo: “Se utilizam a Internet, são sujeitos a centenas de experiências em qualquer momento, em qualquer site. É assim que os sites funcionam”.
Durante a experiência, o OkCupid mexeu nos textos dos perfis de utilizadores, removeu fotos e disse mesmo a alguns que eram muito compatíveis com alguém quando, de facto, essa compatibilidade era apenas de 30%.
Quando as fotos foram removidas dos perfis de alguns utilizadores, o site concluiu que surgiram mais respostas às primeiras mensagens de contacto, as conversações entre utilizadores eram mais profundas (o que pressupõe que o OkCupid terá tido acesso ao conteúdo das mensagens trocadas) e foram trocados contactos pessoais mais rapidamente.
Após cerca de sete horas sem as fotos de perfil disponíveis, estas foram repostas e, segundo o site, a dinâmica entre utilizadores foi alterada. Ao surgir a imagem, algumas conversas “arrefeceram”, mesmo se o texto no perfil era o de uma pessoa simpática. “A bondade desapareceu, na verdade foi pior que desaparecer. Foi como se tivéssemos ligado as luzes num bar à meia-noite”, observa Rudder. “A vossa fotografia vale mais que mil palavras, mas as vossas palavras reais valem... quase nada”, reforçou.
O OkCupid tentou depois dizer a utilizadores cuja compatibilidade com outras pessoas era baixa que, afinal, eram muito compatíveis com essas mesmas pessoas. O contrário foi também feito. O site tentou determinar se os utilizadores entravam ou não em contacto entre si só com base nas percentagens avançadas pelo OkCupid. Perto de um em cada cinco casais que eram 30% compatíveis mas a quem foi dito que a sua compatibilidade era de 90% acabaram por trocar quatro ou mais mensagens.
“O OkCupid funciona definitivamente mas essa não é toda a história. E se tiver que escolher apenas uma ou a outra, o mero mito de compatibilidade funciona tão bem como a verdade”, conclui o co-fundador do site.
A divulgação, na segunda-feira, das conclusões da experiência do OkCupid surge cerca de um mês depois de ter sido publicado um artigo na revista "Proceedings of the National Academy of Sciences" (PNAS) sobre um estudo feito com base numa experiência do Facebook realizada sem o conhecimento e consentimento dos seus utilizadores.
O Facebook dividiu perto de 700 mil utilizadores em dois grupos e filtrou o tipo de conteúdo que cada um deles recebeu no seu “feed de notícias” (onde lemos actualizações de amigos e páginas) durante uma semana, em Janeiro de 2012: uns receberam menos conteúdo “positivo” do que o habitual; os outros, menos publicações “negativas”. O objectivo era perceber se a exposição a conteúdos ligeiramente diferentes afectava o comportamento dos sujeitos da experiência na mesma rede social.
Quando a imprensa norte-americana deu destaque ao estudo, irromperam as críticas de internautas e académicos que se manifestaram estupefactos por o Facebook submeter pessoas a testes de manipulação psicológica sem o seu “consentimento informado”, como exige a lei nos EUA desde 1981.