Alguém sabe fazer perguntas?
Quantas vezes não estivemos já em conferências em que no final a plateia tem direito a perguntas e são raras as pessoas que agarram no microfone para fazer uma pergunta concreta e curta?
Nunca sentiram que vivemos numa sociedade em que ninguém sabe fazer perguntas? Eu costumo sentir isso e deduzo que muitos de vocês também já o tenham sentido. Aquilo a que me refiro é uma incapacidade generalizada de perguntar que tem duas vertentes: o medo de perguntar e a necessidade de nos valorizarmos.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Nunca sentiram que vivemos numa sociedade em que ninguém sabe fazer perguntas? Eu costumo sentir isso e deduzo que muitos de vocês também já o tenham sentido. Aquilo a que me refiro é uma incapacidade generalizada de perguntar que tem duas vertentes: o medo de perguntar e a necessidade de nos valorizarmos.
Quanto à primeira vertente, o medo, há na nossa sociedade uma conotação altamente negativa para o acto de admitir que não sabemos alguma coisa. Será, certamente, o efeito do natural medo da rejeição da sociedade em virtude da nossa possível ignorância. No entanto, isto é cultivado todos os dias nas nossas conversas e nas nossas escolas, é cultural. Desde há muitas décadas que se passou o preconceito relativamente à pergunta: “quem não sabe coisas é burro, ignorante e por aí fora”. Nas grandes empresas internacionais e em algumas nacionais este medo de perguntar já desapareceu e as pessoas quando não sabem algo, mesmo que básico, perguntam e ficam a saber.
Já relativamente à segunda vertente, a necessidade de nos valorizarmos, aqui entra em jogo o nosso ego e o facto de precisarmos que as outras pessoas saibam que apesar de estarmos a fazer uma pergunta, somos inteligentes e cultos. Quantas vezes não estivemos já em conferências em que no final a plateia tem direito a perguntas e são raras as pessoas que agarram no microfone para fazer uma pergunta concreta e curta? A maioria das pessoas opta por introduzir o contexto à volta da pergunta de tal forma que, por vezes, a pergunta é substancialmente maior que a resposta. A sensação que fica é que as pessoas que fazem isto têm medo que os outros achem que eles são ignorantes por não saberem aquilo que estão a perguntar e, como tal, aproveitam para dizer uma data de coisas que sabem, mesmo que nao tenham muito a ver com o tema, de forma a mostrar a toda a gente que está a ouvir que são cultos e sabem “coisas”.
Ora, cabe-nos a nós, jovens membros da geração Y, destruir as barreiras de preconceito, sejam elas quais forem. Este preconceito da pergunta é um problema grave da nossa sociedade. Não perguntar é alimentar a nossa própria ignorância. Devemos perguntar tudo! No campo das perguntas não há certo nem errado (isso é para as respostas), não há perguntas burras nem cultas! As pessoas mais inteligentes e eficientes que conheço são as que fazem as perguntas mais básicas. Aliás, muito provavelmente o facto de não terem medo de fazer perguntas é aquilo que os faz serem tão eficientes.
Porque ter restos de preconceitos negativos que nos foram deixados pelas gerações anteriores não é errado. Errado é nada fazer para os combater internamente. A luta contra o preconceito começa dentro de nós.