Apoio extra para alunos fracos a Matemática e Português "é um engodo"

Os resultados das provas de recuperação divulgados na sexta-feira foram fracos. No interior do país, houve crianças que não frequentaram o período de apoio extraordinário por falta de transporte público para irem até à escola.

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As notas fracas dos exames da 2.ª fase dos alunos do 4.º e 6.º não supreenderam os docentes Daniel Rocha

Os resultados dos exames de Português e Matemática do 4.º e 6.º anos, conhecidos na sexta-feira, não surpreenderam os docentes. No 1.º ciclo, 87% tiveram negativa (nível 1 ou 2) a Matemática; no 2.º ciclo, a percentagem foi de 95%. A Português a taxa de negativas foi, no 1.º ciclo, de 62% e no 2.º ciclo de 65%.

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Os resultados dos exames de Português e Matemática do 4.º e 6.º anos, conhecidos na sexta-feira, não surpreenderam os docentes. No 1.º ciclo, 87% tiveram negativa (nível 1 ou 2) a Matemática; no 2.º ciclo, a percentagem foi de 95%. A Português a taxa de negativas foi, no 1.º ciclo, de 62% e no 2.º ciclo de 65%.

Estas provas, uma espécie de segunda oportunidade, são feitas sobretudo por alunos que, após reunião do conselho de turma, ficam retidos e aos quais é dada a possibilidade de frequentarem um período de apoio extraordinário, oferecido pelas escolas, que se prolonga pelas férias adentro.

Este ano, 2443 alunos do 4.º ano fizeram exame de Português na 2.ª fase e 3569 de Matemática. No 6.º ano, foram 8477 a Português e quase 12 mil a Matemática.

Lurdes Figueiral defende, porém, que não é num mês – entre a realização das reuniões e afixação dos resultados da 1.ª fase de exames e a realização da 2.ª – que se consegue recuperar alunos com fraco desempenho: “São alunos mais fracos, é evidente, com mais dificuldades, mas este apoio extraordinário não os ajuda a recuperar, não serve para nada”, diz a dirigente que defende turmas mais pequenas, em vez de “30 ou mais alunos” por professor.

O novo presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática, Fernando Pestana da Costa, concorda: “Os resultados são obviamente maus, mas não surpreendentes. É praticamente impossível num mês e pouco fazer recuperação de alunos com deficiências graves [no que respeita a conhecimentos de Matemática]. Claro que há casos em que os alunos tiveram maus resultados por problemas pontuais, estavam maldispostos, ou outras razões, e esses casos podem ser recuperados”, defende.

Mas, “na maioria” das situações, o que está em causa é a “preparação base” e, para estes, o apoio extraordinário revela-se “muito pouco eficiente”.

Embora salientando que existe apoio continuado em algumas escolas, este podia ser melhorado: “Há escolas com turmas desdobradas, turmas com mais do que um professor em que um deles dá mais atenção a alunos com mais dificuldades. Mas devia haver um incentivo maior”, diz o dirigente. Refere-se a “mais meios” para ultrapassar as “dificuldades” que decorrem da relação entre o “número de docentes” e o “tamanho das turmas”.

A ineficácia do apoio extraordinário não acontece só na Matemática. Para a presidente da Associação de Professores de Português, Edviges Ferreira, dominar os conteúdos desta disciplina demora “meses”, até “anos”, e “não é num mês” que o aluno adquire competências.

Embora admitindo que, em alguns estabelecimentos de ensino, existe apoio continuado, Edviges Ferreira considera que “é pouco”, até porque que “as escolas não têm bolsas de horas para terem apoio pedagógico acrescido ao longo do ano”: “Os professores não têm horas disponíveis para isso.”

Edviges Ferreira defende que a solução passaria pela identificação “logo no início do ano, no máximo no final do primeiro período”, dos alunos com dificuldades: “Esses tinham de ter mais horas e ser encaminhados para apoio pedagógico acrescido.” Mas para isso era preciso haver “menos alunos por turma e mais professores nas escolas.”

Falta de transportes
Os problemas que o apoio extraordinário levanta não ficam por aqui. O presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares, Manuel Pereira, garante que há alunos que não foram a estas aulas por falta de transporte: “O país não é todo igual. No interior, há transportes públicos durante o período lectivo; terminadas as aulas, acabam.”

Por exemplo, no caso do agrupamento de escolas de Cinfães, do qual Manuel Pereira é director, esta situação fez com que aqueles que vivem longe da escola – alguns “a 30 quilómetros” – não usufruíssem plenamente do apoio extraordinário.

Para alguns dias, conseguiram apoio de juntas de freguesia para cedência de transporte; outras soluções passaram por boleias, por exemplo de encarregados de educação que iam levar e buscar um grupo de crianças. “Mas, mesmo assim, alguns não conseguiam vir diariamente”, conta Manuel Pereira. No caso de Cinfães, estipulou-se que, durante um mês e de manhã, haveria um bloco de 90 minutos de Português e um outro de Matemática para os alunos que iam à 2.ª fase às duas disciplinas (cerca de 30 em cada uma).

O apoio extraordinário é organizado por cada escola: “Nesse mês as escolas preparam as aulas de apoio e recuperação. Decidem de acordo com os recursos, possibilidades e número de alunos que têm naquela situação.”

Este ano, na 2ª fase, no 1.º ciclo e a Português, 38% dos alunos passaram de negativa para positiva; 13% a Matemática.

Pela primeira vez, os alunos do 2.º ciclo também foram abrangidos por este apoio. Os resultados são estes: 35% das crianças conseguiram recuperar a Português e 5% a Matemática.

Apesar de, na 2.ª fase, os exames valerem 100% da nota, a retenção ou passagem de ano está dependente das notas às outras disciplinas. No 4.º ano, fica retido quem tem simultaneamente negativa a Matemática e a Português ou nota inferior a 3 em Português ou em Matemática e ao mesmo tempo menção não satisfatória nas outras áreas disciplinares.

No 6.º não têm aprovação os que tiverem simultaneamente menos do que 3 a Português e Matemática ou negativa em três ou mais disciplinas.