EUA acusam Rússia de bombardear Exército ucraniano

Washington deixa de falar apenas no apoio russo a combatentes separatistas, e passa a envolver directamente Moscovo no conflito no Leste da Ucrânia. Rússia acusa EUA de estarem a manipular a opinião pública.

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Os russos dizem que o Exército ucraniano bombardeou o seu território Baz Ratner/Reuters

A escalada na guerra de acusações foi protagonizada por Marie Harf, uma das porta-vozes do Departamento de Estado norte-americano, durante uma conferência de imprensa.

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A escalada na guerra de acusações foi protagonizada por Marie Harf, uma das porta-vozes do Departamento de Estado norte-americano, durante uma conferência de imprensa.

Depois de uma série de perguntas sobre a ofensiva israelita na Faixa de Gaza, Marie Harf começou a ser questionada sobre a situação na Ucrânia pelo jornalista da Associated Press Matthew Lee, conhecido por fazer perder a calma aos porta-vozes do Departamento de Estado norte-americano.

Depois de dizer que não tinha resposta a uma pergunta sobre a missão da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa que está na Ucrânia, Marie Harf largou a bomba: "O que eu tenho é novas informações sobre as armas que continuam a passar pela fronteira depois do abate [do avião da Malaysia Airlines]", anunciou a porta-voz do Departamento de Estado.

"Temos novas provas de que os russos pretendem entregar lança-rockets mais poderosos às forças separatistas na Ucrânia, e temos provas de que a Rússia está a disparar fogo de artilharia a partir da Rússia contra posições militares ucranianas", disse Marie Harf.

Instada várias vezes a apresentar provas de que o Exército russo está a atacar o Exército ucraniano – uma acusação que implica uma mudança na forma como os Estados Unidos avaliam publicamente a situação no terreno, passando de um combate de separatistas apoiados pelos russos para um confronto directo entre russos e ucranianos –, a porta-voz disse que se baseou em "informações dos serviços secretos" e que não podia revelar mais pormenores.

Questionada sobre se o armamento que estará a ser enviado pela Rússia ao combatentes separatistas no Leste da Ucrânia inclui um sistema de mísseis Buk – que terá sido usado para abater o voo MH17 na quinta-feira da semana passada –, Marie Harf disse apenas que iria "verificar essa informação em pormenor".

A acusação de que a Rússia está a envolver-se directamente em combates contra o Exército ucraniano é importante porque pode significar que as posições estão ainda mais extremadas, e sem sinais de que o desastre do avião da Malaysia Airlines – com a morte das 298 pessoas que seguiam a bordo – tenha aberto alguma porta para um cenário de contenção, como previam alguns analistas.

Michael McFaul, antigo embaixador dos EUA em Moscovo e conselheiro do Presidente Barack Obama para as questões de segurança nacional, disse ao jornal The Wall Street Journal que, a provar-se, o envolvimento directo da Rússia no conflito na Ucrânia "representa uma escalada muito grave por parte de Putin".

"Em vez de usar a tragédia da semana passada [o desastre do Boeing 777 da Malaysia Airlines] como um pretexto para acabar esta guerra, parece estar aa fazer o contrário, a reforçá-la", disse McFaul.

Do lado russo, o Ministério dos Negócios Estrangeiro negou as alegações de Washington e acusou a Casa Branca de estar a manipular a opinião pública. "Negamos as insinuações públicas infundadas que a porta-voz do Departamento de Estado M. Harf repete todos os dias", lê-se num comunicado do ministério.

"Nas conferências de imprensa realizadas nos últimos dias, ela tem produzido os clichés anti-russos que Washington continua a tentar impor à opinião pública internacional", acusa Moscovo. 

Um porta-voz da embaixada da Rússia em Washington, citado pelo The Wall Street Journal sob anonimato, negou também as acusações feitas pelo Departamento de Estado norte-americano. "Infelizmente não é a primeira vez que ouvimos alegações sem provas. Na verdade, é o território russo que está a ser bombardeado a partir da Ucrânia", disse o responsável.