Na festa em que os autores levitam
Queriam tocar-lhe, casar e ter filhos com ele. Aconteceu com Valter Hugo Mãe, em 2011, quando teve a difícil tarefa de dividir o palco da Tenda dos Autores com a argentina Pola Oloixarac. Ela fora eleita "a musa da FLIP" e a sessão dos dois estava marcada para o meio-dia, quando muitos ainda estão a acordar depois de uma noite de samba e cachaça. Ao responder a uma pergunta do público sobre a sua relação com o Brasil, o autor de A Máquina de Fazer Espanhóis leu um texto em que falava do casal de brasileiros que ofereceu uma ambulância ao quartel de bombeiros da vila onde cresceu e recordou o amigo brasileiro que lhe ensinou “a perder aquela vergonha que só atrapalha”. Emocionou-se, emocionou a plateia. Ficou quatro horas e meia a dar autógrafos. Dias antes tinha sido visto a chorar ao ouvir Elza Soares ao vivo, dias depois num barco na baía cantou o Fado de cada um e ainda foi visto a ler Kafka no terreiro do espectáculo Macumba Antropófaga, do Teatro Oficina Uzyna, ao lado de um actor nu que declamava Florbela Espanca.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Queriam tocar-lhe, casar e ter filhos com ele. Aconteceu com Valter Hugo Mãe, em 2011, quando teve a difícil tarefa de dividir o palco da Tenda dos Autores com a argentina Pola Oloixarac. Ela fora eleita "a musa da FLIP" e a sessão dos dois estava marcada para o meio-dia, quando muitos ainda estão a acordar depois de uma noite de samba e cachaça. Ao responder a uma pergunta do público sobre a sua relação com o Brasil, o autor de A Máquina de Fazer Espanhóis leu um texto em que falava do casal de brasileiros que ofereceu uma ambulância ao quartel de bombeiros da vila onde cresceu e recordou o amigo brasileiro que lhe ensinou “a perder aquela vergonha que só atrapalha”. Emocionou-se, emocionou a plateia. Ficou quatro horas e meia a dar autógrafos. Dias antes tinha sido visto a chorar ao ouvir Elza Soares ao vivo, dias depois num barco na baía cantou o Fado de cada um e ainda foi visto a ler Kafka no terreiro do espectáculo Macumba Antropófaga, do Teatro Oficina Uzyna, ao lado de um actor nu que declamava Florbela Espanca.
Foi também na FLIP que o mau feitio de António Lobo Antunes foi amansado pelo jornalista e escritor brasileiro Humberto Werneck. Foi em 2009, estavam os dois a conversar no palco como se tivessem sido amigos a vida toda, e Humberto lembrou-lhe que numa entrevista à espanhola Maria Luísa Blanco o pai do escritor confessara que não lia os livros do filho e a mãe lia-os contrariada. O autor de Não É Meia Noite Quem Quer emocionou-se então ao contar que também pensava que o pai não os lera mas depois da morte dele encontrou os livros anotados e uma carta de centenas de páginas. No ano seguinte, em 2010, Salman Rushdie dançou com o filho adolescente Milan na festa da Companhia das Letras e no palco da Tenda dos Autores não escapou a esta pergunta do público: "Você é um péssimo dançarino e não é muito bonito. Qual é o segredo para andar sempre com mulheres bonitas?" O autor de Versículos satânicos respondeu: "Se lhe contasse, deixaria de ser segredo..."
Mas o mais inesquecível da FLIP foi ver leitores a subirem estruturas metálicas para assistirem a uma conversa sobre literatura. Aconteceu em 2009, durante a sessão de Chico Buarque e Milton Hatoum transmitida na Tenda do Telão, ao ar livre, para uma multidão de pé. Nesse ano, o autor de Leite Derramado que estava na festa pela segunda vez, teve a sessão de autógrafos mais atribulada a que alguma vez assisti. Depois de quase ter “levitado” a atravessar a pequena ponte no centro de Paraty , tal era a multidão que o amparava no caminho, viu pessoas em cima de árvores para o vislumbrar e leitoras a acotovelarem-se em filas gigantescas para, na confusão, caírem aos seus pés.