Israel e Hamas extremam posições no dia em que Laila perdeu o seu filho
No 17º dia de operação militar israelita, Ban Ki-moon manifesta-se revoltado com ataque a escola da ONU em Gaza
O 17º dia de operação foi marcado por um ataque a uma escola da ONU a funcionar como abrigo para deslocados em que, segundo o secretário-geral da ONU, morreram civis, a maioria mulheres e crianças, e funcionários das Nações Unidas. A explosão foi inicialmente tratada como um ataque do exército israelita, mas Ban referiu “circunstâncias não clarificadas”. O chefe das Nações Unidas tinha na véspera dito que foram descobertos rockets armazenados em esconderijos em duas escolas desde o início da operação militar em Gaza. “Ao fazer isto, os responsáveis estão a transformar as escolas em potenciais alvos militares, e a colocar em perigo as vidas de crianças inocentes, de empregados da ONU a trabalhar nestes locais, e de qualquer pessoa a usar escolas da ONU como abrigos”, disse em comunicado.
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O 17º dia de operação foi marcado por um ataque a uma escola da ONU a funcionar como abrigo para deslocados em que, segundo o secretário-geral da ONU, morreram civis, a maioria mulheres e crianças, e funcionários das Nações Unidas. A explosão foi inicialmente tratada como um ataque do exército israelita, mas Ban referiu “circunstâncias não clarificadas”. O chefe das Nações Unidas tinha na véspera dito que foram descobertos rockets armazenados em esconderijos em duas escolas desde o início da operação militar em Gaza. “Ao fazer isto, os responsáveis estão a transformar as escolas em potenciais alvos militares, e a colocar em perigo as vidas de crianças inocentes, de empregados da ONU a trabalhar nestes locais, e de qualquer pessoa a usar escolas da ONU como abrigos”, disse em comunicado.
A organização da ONU que apoia refugiados palestinianos (UNRWA) transformou 69 escolas em abrigos onde estão 102 mil pessoas. Israel já atacou escolas três vezes neste conflito, sem provocar vítimas.
O responsável da UNRWA, Chris Gunness, disse que antes do ataque tentou coordenar com o exército israelita a retirada de civis do local mas não conseguiu. Não houve aviso prévio do ataque. Muitas famílias, que fugiram das suas casas para a escola, esperavam ser levadas para outro local numa coluna da Cruz Vermelha quando foram atingidas.
“Estávamos sentados no pátio quando nos bombardearam”, disse Laila al-Shinabari, que estava na escola. “Havia corpos no chão, sangue e gritos. O meu filho morreu e todos os meus parentes estão feridos, incluindo os meus outros filhos”, disse.
Uma a duas semanas para destruir túneis
O ministro britânico dos Negócios Estrangeiros, Philip Hammond, em visita a Israel, expressou preocupação pelo grande número de vítimas civis do lado palestiniano, que chegou a 777.
Mas falando ao lado de Hammond, Netanyahu não fez qualquer referência a um cessar-fogo, dizendo apenas: “começámos esta operação para fazer voltar a paz e a calma a Israel. E vamos fazê-lo”.
O canal 2 da televisão israelita informava que o Governo estava a ter um encontro especial para discutir a expansão da operação militar, e um responsável do comité de segurança do Parlamento estimava que seriam ainda precisas uma a duas semanas para completar a missão de destruir os túneis.
O exército diz que destruiu já 30 túneis da complexa rede conhecida como “Gaza subterrânea” e que servem tanto para a entrada de armas como de bens essenciais para o território na sequência do bloqueio imposto em 2006 após a captura de um soldado israelita, Gilad Shalit, por combatentes palestinianos. Shalit foi libertado após cinco anos, contra a libertação de prisioneiros palestinianos.
Embora fontes militares israelitas reconheçam que Israel não pode querer destruir todos os túneis porque não tem como saber exactamente quantos são, o objectivo é destruir a maioria, especialmente os que têm saída em Israel – foram já encontrados túneis com mais de um quilómetro e meio cuja saída ia dar muito perto de uma localidade, outro tinha uma saída mesmo dentro de um kibbutz. Os militares estimam ainda ter destruído entre 30 a 40% do stock de rockets do Hamas, o que junto com os 2 mil já disparados pelo movimento, deverá significar que a sua capacidade está a metade. Um porta-voz militar citado pelo Guardian dizia que os disparos contra Israel diminuíram 30% nos últimos dias, mas que é demasiado cedo para dizer que é uma tendência significativa.
Não há um vencedor claro
Não era só Israel que recusava recuar no objectivo que pretende atingir. O líder do Hamas no exílio, Khaled Meshaal, disse que o movimento não concordará com um cessar-fogo na Faixa de Gaza antes de Israel pôr fim ao bloqueio ao território.
“Não aceitaremos qualquer iniciativa que não leve ao fim do bloqueio e que não respeite os nossos sacrifícios”, disse Meshaal numa conferência de imprensa no Qatar, onde vive depois de ter deixado a Síria por causa da guerra civil.
Poder-se-ia pensar que esta posição de Meshaal se deve a viver no exílio, mas nas ruas de Gaza há quem pense do mesmo modo, conta o Los Angeles Times. Fatima Helles e a sua família de 19 pessoas, entre filhos e netos, fugiram dos ataques para perto do principal hospital de Gaza, onde estão de momento sob uma árvore. Entre a guerra e o bloqueio, Fatima continua dividida. “Não quero morrer. Não quero que o meu povo morra”, disse. Mas diz que o bloqueio é sufocante. “Não podemos respirar”, diz. “A maioria dos meus filhos não tem trabalho. Vivemos de doações.” Cerca de 80% dos palestinianos de Gaza dependem de ajuda humanitária.
Com Israel a entrar profundamente em Gaza e destruir túneis e armas e o Hamas a matar 32 soldados e três civis em Israel, e levar companhias aéreas a interromper voos para o país (as transportadoras aéreas americanas anunciaram o reinício após dois dias de interrupção, algumas europeias seguiram essa opção), a revista Economist conclui: nenhum dos lados está, ainda, a vencer. O maestro israelita Daniel Barenboim punha as coisas de outro modo: “israelitas e palestinianos são todos vencidos neste conflito.”