Este beijo israelo-árabe já é viral

"Selfie" de um casal israelita e árabe torna-se viral e dá visibilidade ao movimento “Jews and Arabs Refuse to be Enemies”. “Não somos apenas aquilo em que acreditamos”, diz a namorada de origem libanesa

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“Ele chama-me ‘neshama’, eu chamo-o ‘habibi’. O amor não fala a linguagem da ocupação, legendou Sulome DR

Sulome Anderson é de origem libanesa, Jeremy é israelita. São namorados — e mais do que aquilo em que acreditam. A 13 de Julho, Sulome (que é jornalista) publicou, na sua conta pessoal do Twitter, uma “selfie” de ambos a beijarem-se, com um papel em que se lê “Jews and Arabs Refuse to be Enemies”. Na rede social, a jovem de 29 anos escreveu a seguinte legenda: “Ele chama-me ‘neshama’, eu chamo-o ‘habibi’. O amor não fala a linguagem da ocupação”.

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Sulome Anderson é de origem libanesa, Jeremy é israelita. São namorados — e mais do que aquilo em que acreditam. A 13 de Julho, Sulome (que é jornalista) publicou, na sua conta pessoal do Twitter, uma “selfie” de ambos a beijarem-se, com um papel em que se lê “Jews and Arabs Refuse to be Enemies”. Na rede social, a jovem de 29 anos escreveu a seguinte legenda: “Ele chama-me ‘neshama’, eu chamo-o ‘habibi’. O amor não fala a linguagem da ocupação”.

Partilhada mais de duas mil e 200 vezes, a fotografia tornou-se viral e, a 22 de Julho, Sulome escreveu um artigo na revista “New York”, uma das publicações com a qual colabora (“The Atlantic”, “Foreign Policy” e “Vice” são outros dos títulos). A ideia da “selfie” foi de um amigo jornalista, conta Sulome, que sugeriu adicioná-la à iniciativa “Jews and Arabs Refuse do be Enemies”.

Este é o nome de uma campanha lançada por Abraham Gutman, “um estudante israelita a viver em Nova Iorque”, e por uma amiga síria, Dania Darwish. A página de Facebook já tem mais de oito mil seguidores e partilha fotografias de árabes e judeus que destacam o carácter humanitário do conflito, usando a “hashtag” #jewsandarabsrefusetobeenemies. “Adoramos que o movimento enfatize as relações humanas entre pessoas que o mundo ensinou a odiar. Queremos espalhar a mensagem que a nossa relação nos ensinou: não somos apenas aquilo em que acreditamos”, sublinha.

Sulome e Jeremy, que prefere não tornar público o apelido, têm “perspectivas diferentes sobre a situação em Gaza” e discutem o assunto com frequência. “Enquanto a região explodia com a guerra, começámos a aproximar as nossas opiniões dado o facto de ambos partilharmos valores decisivos: respeito e preocupação pela vida humana”, continua, ainda que admita não terem chegado a um consenso em tudo. Concordam, isso sim, em que o conflito “não é apenas sobre política — é sobre as pessoas”.

O casal foi criticado por terem “trivializado o que se passa em Gaza” e Sulome confessa-se surpreendida por muitas das críticas serem do “lado pró-palestiniano”. “Dizem que o conflito não é sobre o ódio entre judeus e árabes; é sobre um país poderoso oprimir um povo mais fraco. (Para ser clara, também é isto que eu sinto)”, escreve.

A experiência da jornalista “freelancer” vai além do campo profissional. “Ele [Jeremy] viveu em Israel durante algum tempo e tem dupla cidadania. A minha mãe é libanesa e eu, como jornalista, estou parcialmente baseada em Beirute. Trabalhei em campos de refugiados palestinianos espalhados pelo Líbano, por isso vi as circunstâncias desesperantes que muitos deles enfrentam”, relata. O pai de Sulome, Terry Anderson, “foi raptado no Líbano” três meses antes do nascimento da filha, em 1985, “por uma milícia xiita que acabou por se transformar no Hezbollah”, e esteve em cativeiro durante sete anos.

“O facto de a nossa fotografia se ter tornado viral é assustador e esmagador. Mas ambos sabemos que ter medo é o pior sentimento que podemos ter em relação a isto”, assim termina Sulome o texto, já partilhado mais de 11 mil vezes.