A cimeira da cobiça e da desvergonha
Deve consumar-se hoje em Díli a “ambicionada” adesão de Obiang à CPLP. É o triunfo da desvergonha.
Ao que dizem os seus mentores, chegou a hora de a CPLP repensar o seu estatuto e o seu futuro. Será até nomeado um grupo de trabalho, não vá tal objectivo correr o risco de não ser levado a sério. Mas o que verdadeiramente atrai a Díli, cidade anfitriã da X Cimeira da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, os chefes de Estado que não se furtaram ao encontro (grupo que não inclui os presidentes Dilma Rousseff ou José Eduardo dos Santos) é o acolhimento e aceitação do novo membro, a Guiné Equatorial. Não que haja algo histórico ou emocional no acto, coisas de menos valia nestes tempos, mas sim porque a “carteira” de Obiang fala mais alto do que quaisquer outros valores.
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Ao que dizem os seus mentores, chegou a hora de a CPLP repensar o seu estatuto e o seu futuro. Será até nomeado um grupo de trabalho, não vá tal objectivo correr o risco de não ser levado a sério. Mas o que verdadeiramente atrai a Díli, cidade anfitriã da X Cimeira da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, os chefes de Estado que não se furtaram ao encontro (grupo que não inclui os presidentes Dilma Rousseff ou José Eduardo dos Santos) é o acolhimento e aceitação do novo membro, a Guiné Equatorial. Não que haja algo histórico ou emocional no acto, coisas de menos valia nestes tempos, mas sim porque a “carteira” de Obiang fala mais alto do que quaisquer outros valores.
Tem-se discutido muito, nestes anos, se a Guiné Equatorial mudou o suficiente para que pudesse ser aceite na CPLP sem que esta tivesse que alterar os estatutos. Não mudou, como tem vindo a ser dito e repetido: é uma ditadura; mantém a pena de morte suspensa mas não banida; tem presos políticos; não tem liberdade de imprensa, de associação ou de reunião; o poder judicial não é independente; há recurso sistemático à tortura, etc.. Mesmo assim, por ter petróleo e portas abertas a negócios que acirram a cobiça, vai ser aceite na CPLP como membro de pleno direito, talvez com brindes de champanhe e discursos oleosos onde a verdade será tão cristalina quanto o lugar que ocupa a Guiné Equatorial no ranking da transparência (o 163.º a nível mundial). Nada que importe para o caso. Triste é que tal desvergonha, a que Portugal tentou durante muito tempo opor-se sem nada conseguir, tenha lugar em Díli, capital de um orgulhoso país, Timor-Leste, que nasceu precisamente da luta da liberdade contra a tirania. Um país que viu, nessa luta, morrerem mulheres, homens e crianças para que um dia a sua bandeira flutuasse ao vento sem as grilhetas do opressor. Se Obiang sorrir de escárnio, perceberemos porquê.