A caminho de um cometa há dez anos, sonda europeia já revelou a sua forma irregular
Nas últimas imagens divulgadas do cometa 67P/Churiumov-Gerasimenko, ele parece composto por dois pedaços. Foram tiradas pela sonda Roseta, que está quase a chegar ao seu destino.
“Teremos de fazer uma análise e uma modelação do formato do cometa, para determinar a melhor forma de voarmos à volta de um corpo com uma forma tão única, tendo em conta o controlo do voo e a astrodinâmica, as necessidades científicas da missão e os elementos relacionados com a aterragem, como a análise do local e a visibilidade entre o módulo de aterragem e a sonda”, explicou Fred Jansen, o chefe da missão da Roseta, citado num comunicado da ESA. “Mas, a menos de 10.000 quilómetros do encontro [entre a sonda e o cometa], a 6 de Agosto, as nossas questões irão ser rapidamente respondidas.”
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“Teremos de fazer uma análise e uma modelação do formato do cometa, para determinar a melhor forma de voarmos à volta de um corpo com uma forma tão única, tendo em conta o controlo do voo e a astrodinâmica, as necessidades científicas da missão e os elementos relacionados com a aterragem, como a análise do local e a visibilidade entre o módulo de aterragem e a sonda”, explicou Fred Jansen, o chefe da missão da Roseta, citado num comunicado da ESA. “Mas, a menos de 10.000 quilómetros do encontro [entre a sonda e o cometa], a 6 de Agosto, as nossas questões irão ser rapidamente respondidas.”
A missão da ESA pode ser vista como um projecto de arqueologia espacial, que irá fazer algo inédito: um módulo vai pousar num cometa e analisar a sua composição. Os cometas, que têm poeiras cósmicas e são ricos em gelo, vêm dos tempos iniciais do sistema solar. Formaram-se ainda antes de haver planetas. A análise de um destes corpos dará assim pistas sobre a composição inicial do sistema solar e a formação dos planetas. Por outro lado, pensa-se que a água e os compostos orgânicos que originaram a vida na Terra poderão ter vindo de cometas semelhantes ao 67P/Churiumov-Gerasimenko, que bombardearam intensamente a Terra no início da sua existência.
O nome da sonda, inspirado na pedra de Roseta exposta hoje no Museu Britânico – que foi descoberta em 1799 e permitiu ao arqueólogo francês Jean-François Champollion decifrar os hieróglifos egípcios –, reflecte esta procura por informação que ajude a explicar os momentos iniciais da formação do nosso jardim cósmico. E que conduziram ao aparecimento de vida na Terra e à evolução recente do homem.
A construção da Roseta foi aprovada pela ESA em 1993. A 2 de Março de 2004 um foguetão Ariane-5 lançou-a no espaço. Na década seguinte, a sonda, com 2,8 metros de altura e dois painéis solares de 14 metros de comprimento cada um, foi girando à volta do Sol. Nestas revoluções, ganhou impulso quando passava junto de planetas, para conseguir atingir o 67P/ Churiumov-Gerasimenko. Com uma órbita elíptica para lá de Júpiter, o cometa aproxima-se do Sol até ficar entre Marte e a Terra, de seis em seis anos.
A 8 de Junho de 2011, a sonda entrou em hibernação para poupar energia. A 20 de Janeiro de 2014 acordou, a 800 milhões de quilómetros de distância da Terra, muito para lá da órbita de Marte. Desde aí, tem estado a fazer a aproximação final ao cometa, que atingirá o ponto mais próximo do Sol a 13 de Agosto de 2015. Nessa altura, a sonda e a cometa já estarão juntos há mais de um ano.
Mas antes, já no próximo dia 6 de Agosto, dar-se-á o tão desejado encontro, quando a sonda estiver apenas a 100 quilómetros de distância do cometa. O módulo que transporta – o File, de 100 quilos – abandonará a sonda em Novembro, para descer até à superfície do cometa.
As imagens mais recentes do núcleo do 67P/ Churiumov-Gerasimenko foram tiradas a 14 de Julho, quando a Roseta ainda estava a 12.000 quilómetros de distância do cometa. Obtidas pela câmara da sonda (a OSIRIS), cada uma foi tirada a cada 20 minutos, permitindo fazer um filme em que se vê o cometa a girar com a sua forma singular de pato de borracha.
Já se tinham identificado outros cometas com esta forma atípica do núcleo, em que parece que dois pedaços de cometas foram colados num só. Mas as hipóteses sobre o aparecimento deste tipo de cometas são várias. A mais popular defende que um objecto destes surgiu a partir da fusão de dois cometas, há milhares de milhões de anos, que colidiram a baixa velocidade. Este processo, chamado de “acreção”, também terá originado os planetas. “Talvez o cometa nos dê um registo único sobre o processo físico de acreção”, avança o comunicado da ESA.
Há, no entanto, outras hipóteses para a origem desta forma irregular: a deformação dos cometas devido à força gravitacional exercida por grandes astros como o Sol e Júpiter; a evaporação do gelo dos cometas, sempre que se aproximam do Sol, alterando a sua forma; ou um grande impacto que tenha transformado radicalmente o cometa.
“As imagens que vemos sugerem um cometa com uma forma complexa, mas ainda precisamos de aprender muito para chegar a uma conclusão”, defendeu Fred Jansen. Avizinham-se assim meses importantes para o estudo do sistema solar.