Quando um pequeno investimento pode mudar toda uma casa
Famalicão apoia com mil euros pequenas obras que aumentam condições de habitação das famílias do concelho. Objectivo é permitir que as pessoas possam continuar a viver nas suas localidades com melhor qualidade.
Este não é o único elemento precário na casa de Alice Andrade, 58 anos. A estabilidade das paredes da cozinha, negras pelo fumo do fogão a lenha, não oferece grande confiança. O telhado é de chapa de zinco e, no inverno, não para toda a água. “Nós ao frio até nos habituamos, mas a chuva entra por todo o lado”, conta.
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Este não é o único elemento precário na casa de Alice Andrade, 58 anos. A estabilidade das paredes da cozinha, negras pelo fumo do fogão a lenha, não oferece grande confiança. O telhado é de chapa de zinco e, no inverno, não para toda a água. “Nós ao frio até nos habituamos, mas a chuva entra por todo o lado”, conta.
Foi este cenário que os técnicos da Câmara de Famalicão encontraram em Fevereiro, quando foram vistoriar a casa de Alice. Tinham recebido um alerta da junta de freguesia de Cavalões quanto ao seu estado de degradação. No local, confirmaram que o risco de ruína e de incêndio na cozinha, bem como os sinais de insalubridade. O assunto foi, por isso, tratado com carácter de urgência. Um mês depois, começaram as obras que transformaram a habitação.
Um antigo telheiro deu lugar a uma cozinha, com um fogão e uma banca em inox, novos em folha, à espera da conclusão da ligação da água para poderem ser usados. A sala de jantar, logo ao lado, também foi construída nos últimos meses e, para rematar a nova ala da casa, foi criada uma casa de banho. Esta semana, a câmara de Famalicão entregou o cheque de 5000 euros destinado a apoiar a obra.
É assim que se processa o programa “Casa Feliz”, criado pela autarquia para apoiar pequenas obras de melhoria das condições de habitação da população do concelho. Este ano, o projecto já chegou a 22 famílias, o que totaliza mais de 100 mil euros. E o orçamento “será reforçado, caso venha a escassear”, garante o autarca Paulo Cunha.
A câmara olha para este projecto como “um investimento”, que tem retorno do ponto de vista da qualidade de vida dos cidadãos, mas que também implica poupança. “Em dez anos, um programa como este custa cerca de 1 milhão de euros. É muito dinheiro, mas estaríamos a falar de muito mais, se tivéssemos que investir em soluções alternativas”, defende o presidente de câmara. As soluções alternativas seriam a criação de habitação social ou lares residenciais, respostas que a autarquia de Famalicão quer que sejam usadas “apenas em última instância”.
A prioridade é dar melhores condições de habitação às pessoas, permitindo que fiquem a viver nas suas terras. “Não queremos desenraizá-las. Queremos que elas continuem a viver onde sempre viveram, muitas delas onde nasceram”, diz Paulo Cunha. É o caso de Alice Andrade que sempre viveu naquela casa de Cavalões. A habitação “foi-se mantendo” como era possível, mas “houve uma altura em que não podia mais” e foi pedir ajuda.
Vive com o marido Delfim, 63 anos, reformado por invalidez. Alice, que deixou um emprego na têxtil para cuidar de uma irmã deficiente e da mãe doente, está agora “velha de mais para trabalhar e nova de mais para a reforma”. Sobrevivem com dificuldade: 303 euros da pensão do marido, que nem sempre chega para tudo. “Às vezes, não se pode comer uma batata e come-se só meia”, diz. Com as obras terminada, sente-se “muito satisfeita” com as condições que agora tem em sua casa. “Está mais que bom”.
À porta da sua casa em Calendário, Elvira Moreira repete a palavra “amigos”. Agradece a todos os que a ajudaram a construir uma casa de banho nova. À junta de freguesia e à câmara, que a apoiaram no âmbito do projecto “Casa Feliz”, mas também ao empreiteiro responsável pelas obras, que as fez depressa e a preço de amigo.
Elvira tem 59 anos e está reformada por invalidez. Um acidente na infância reduziu-lhe a mobilidade de uma das pernas e, com a idade, o pé foi ficando cada vez em piores condições. Está à espera de uma consulta num especialista para perceber se uma operação pode minimizar-lhe o problema ou se terá que amputar a perna. De qualquer das formas, a sua mobilidade ficará ainda mais limitada.
Aquilo que mais preocupava Elvira era a impossibilidade de entrar na pequena casa de banho no meio do quintal de casa, com dois degraus e muito pouco espaço no interior. Fruto do “Casa Feliz”, na primavera pôde transformar um pedaço do jardim numa nova casa de banho, mesmo ao lado do seu quarto, com uma ampla porta de correr, muito espaço no interior e o chuveiro adaptado para cadeira de rodas, caso venha a precisar de a usar.
A obra custou 8400 euros, a câmara apoiou com 5000 e o resto “vai pagar-se como for possível”. “Era uma necessidade”, sublinha. E o rendimento do agregado familiar – 585 euros mensais, entre a sua pensão de invalidez e o subsídio de desemprego do marido de 54 anos – deixava pouco espaço para o investimento. Elvira volta, por isso, a repetir o quanto está grata pela forma como foi apoiada: “Até me custa a acreditar, porque nunca tive sorte na vida”.