Um domingo com um massacre e 100 palestinianos mortos

A pequena paragem de duas horas na violência proposta pela Cruz Vermelha para retirar corpos e resgatar feridos não durou 60 minutos. Israel alargou a ofensiva depois da morte de 13 soldados.

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Ao todo, 100 pessoas foram confirmadas mortas domingo na Faixa de Gaza, o que faz já deste o dia mais violento desde o arranque da ofensiva ordenada por Israel no dia 8 de Julho, e que na noite de quinta para sexta-feira passou a incluir uma invasão terrestre, a juntar aos ataques de artilharia, bombardeamentos da Força Aérea e ataques lançados a partir de navios. Os mortos poderão ser mais – debaixo dos escombros de Shajaya haveria ainda corpos por retirar.

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Ao todo, 100 pessoas foram confirmadas mortas domingo na Faixa de Gaza, o que faz já deste o dia mais violento desde o arranque da ofensiva ordenada por Israel no dia 8 de Julho, e que na noite de quinta para sexta-feira passou a incluir uma invasão terrestre, a juntar aos ataques de artilharia, bombardeamentos da Força Aérea e ataques lançados a partir de navios. Os mortos poderão ser mais – debaixo dos escombros de Shajaya haveria ainda corpos por retirar.

O Exército de Israel anunciou que durante a noite de sábado para domingo tinham sido mortos em Gaza “13 soldados da brigada Golani”, uma lendária unidade militar, reverenciada por muitos israelitas.

Os porta-vozes citados pelo diário Ha’aretz não avançam muitos pormenores, mas sabe-se que já morreram 18 militares israelitas: sete soldados na explosão de uma bomba à passagem do seu blindado, três em disparos cruzados com combatentes palestinianos e três “apanhados num imóvel em fogo”. Pelo menos um outro foi vítima dos disparos de um membro da sua unidade na sexta-feira, primeiro dia da invasão, e dois morreram sábado, em confrontos com uma unidade da ala militar do Hamas que se infiltrou em Israel através de um túnel. Dois civis foram mortos por rockets lançados de Gaza.

Em Shajaya, um jornalista da AFP viu um homem esventrado e com a cabeça arrancada, ao mesmo tempo que uma multidão tentava abandonar a zona. A capital da pequena Faixa, já a transbordar de gente que tem fugido das localidades mais pequenas e dos campos de refugiados situados nas margens do enclave, foi inundada ainda por mais pessoas; outras preferiram procurar esconderijo nas zonas arborizadas dos arredores.

“Mães em lágrimas embrulhavam bebés em cobertores, miúdos pequenos passavam descalços, pais esgotados levavam os filhos pequenos nos braços”, descreveram os jornalistas da Reuters.

“Algumas famílias seguiam em carrinhos arrastados por camelos, outras amontoavam-se dentro de carros. Sete pessoas sentaram-se na enorme pá de um buldózer gigante, guiando lentamente através do fumo e do sangue derramado”, continua a mesma agência. “Corpos desfigurados de homens mulheres e crianças enchiam a morgue do principal hospital da cidade [o Centro Médico Shifa], enquanto outros estavam ainda em Shajaya, presos debaixo dos destroços.”

Filhos esquecidos
Numa maca do hospital, Ahmed Mansour, de 27 anos, agarrado à barriga e a sangrar das costas e de um braço, quis falar com um dos jornalistas. “Eles bombardearam as pessoas enquanto elas fugiam das suas casas. Que tipo de ser humano faz isso?”.

O pânico em Shajaya foi tanto que houve gente a fugir deixando para trás os filhos. “Um dos nossos vizinhos saiu de casa e deixou o filho”, disse ao Washington Post Jalal Ghoula, um polícia no desemprego, sentado à porta do Centro Médico Shifa. “Ele esqueceu-se dele!”, afirmou, explicando que o menino tem quatro anos. Ghoula fugiu a pé, com 32 membros da sua família. “Só Deus salvou as nossas almas”.

No interior do hospital, os médicos operavam nos corredores. “Estamos completamente cheios”, disse ao Post Sohbi Skaik, cirurgião. Questionado sobre o tipo de ferimentos que estava a tratar, respondeu: “Todo o tipo! Tudo. Eles estão a morrer de todas as maneiras”.

A ONU disponibilizou abrigo em 60 escolas vazias, mas para oferecer tem apenas água potável e um chão onde dormir. Até agora, a organização contabiliza 81 mil deslocados (mais 30 mil do que na véspera) no interior da Faixa, uma das áreas com mais densidade populacional do mundo (1,8 milhões de habitantes em 362 Km2), mas a maioria dos que fogem são recebidos por familiares ou amigos. Há casas onde viviam dez pessoas e que contam agora com mais de 30 residentes.

Em Gaza, habituada a viver com pouco, a cada dia há menos. Sexta-feira, Israel cortou o acesso de electricidade, deixando 90% da região às escuras.

Preocupações sérias
Ao início do décimo terceiro dia da ofensiva que lançou contra Gaza (oficialmente para impedir o lançamento de rockets contra Israel), o Governo de Benjamin Netanyahu anunciou que tinha “expandido as operações”. Shajaya percebeu isso de imediato.

Depois, a Cruz Vermelha propôs que as armas se calassem entre as 13h30 e as 15h30 (11h30 e 13h30, em Lisboa), mas a BBC garante que já se ouviam rockets e bombas menos de uma hora após a entrada em vigor da trégua. Israel acusa o Hamas de ter quebrado o acordo; o movimento que governa Gaza acusa Israel do mesmo.

“Israel deve fazer muito mais para proteger os civis” palestinianos, disse o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, pouco depois de aterrar no Qatar, ao início da noite. Num comunicado divulgado pela Casa Branca, fica a saber-se que o Presidente Barack Obama disse por telefone a Netanyahu estar “seriamente preocupado com o número crescente de vítimas, incluindo cada vez mais civis palestinianos e a perda de soldados israelitas”.

O presidente da Autoridade Palestiniana, que aterrou em Doha pouco depois de Ban, pediu uma reunião de urgência do Conselho de Segurança da ONU, descrevendo a situação em Gaza como “insuportável”.

A Liga Árabe considerou “o terrível bombardeamento e as operações terrestres no bairro de Shajaya como um crime de guerra contra os civis palestinianos”. Segundo Netanyahu, Israel quer uma operação “bastante rápida”, para destruir túneis e rampas de lançamento de rockets, mas desencadeará “quaisquer acções necessárias” para impedir o Hamas de atacar a partir de Gaza. Também disse que as suas forças estão a fazer todos os possíveis para evitar matar civis.

Morreram até agora pelo menos 438 palestinianos. A ONU diz que perto de 80% das vítimas são civis e as crianças formam o maior grupo – até à madrugada de sábado, a UNICEF contabilizada 73 e as ONG War Child e Defence for Children International afirmavam que havia “mais crianças mortas debaixo do fogo israelita do que combatentes palestinianos”. Domingo morreram muitas mais: só em Shajaya, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, quando estavam contabilizadas 60 vítimas, 17 eram crianças; 14 mulheres.