Montepio exposto em 200 milhões de euros ao universo Espírito Santo
Nos últimos anos, o grupo liderado por Tomás Correia fez aplicações no “sistema GES” que inclui a Ongoing.
Para além dos financiamentos de 200 milhões de euros ao GES, existirá, por sua vez, mais risco nas seguradoras e fundos de investimento do grupo Montepio Geral. Recorde-se que o GES está preparar um plano de reestruturação que arrancou na sexta-feira com o pedido de proteccção de credores da Espírito Santo International. O Montepio não esclareceu se a dívida do GES tem cobertura.
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Para além dos financiamentos de 200 milhões de euros ao GES, existirá, por sua vez, mais risco nas seguradoras e fundos de investimento do grupo Montepio Geral. Recorde-se que o GES está preparar um plano de reestruturação que arrancou na sexta-feira com o pedido de proteccção de credores da Espírito Santo International. O Montepio não esclareceu se a dívida do GES tem cobertura.
“Em resposta ao pedido que nos dirigiu, informamos que não nos é possível prestar o esclarecimento pretendido, uma vez que, de acordo com a política interna do Montepio, não tecemos comentários sobre as nossas relações com clientes, mesmo quando eventuais.” Esta foi a resposta enviada por Carlos Pires, responsável do Montepio Geral/Caixa Económica, a um pedido de esclarecimento sobre a exposição directa e indirecta do grupo mutualista ao universo empresarial financeiro e não financeiro ligado à família Espírito Santo.
O PÚBLICO sabe que a relação comercial das empresas detidas totalmente ou parcialmente pelo GES com a entidade mutualista está a suscitar grande preocupação no topo da instituição e já justificou a sua discussão na última reunião de conselho de crédito desta semana. Sublinhe-se que o capital da caixa económica é de 1500 milhões de euros e o do fundo mutualista de 200 milhões. Também a CGD e o BCP (cada um com 300 milhões de euros) estão expostos ao grupo familiar, mas os empréstimos têm cobertura a 100%.
Nos últimos anos, o grupo liderado por Tomás Correia fez várias aplicações naquele a que se chegou a chamar o “sistema GES”: Banco Espírito Santo, Portugal Telecom e Ongoing. Uma ligação comercial que se acentuou entre as três empresas depois da crise financeira. Na sequência, os bancos passaram a ter uma maior exigência na concessão de crédito.
Em 2009, o PÚBLICO anunciou que no final de 2008 a associação mutualista aplicara, através do banco (controlado pela Caixa Económica MG), mais de 40 milhões de euros num veículo da Ongoing, com sede no Luxemburgo. O fundo (Sicav) de private equity, gerido pela Ongoing International, recebeu igualmente investimentos do BES, 180 milhões de euros, e do grupo PT, neste caso através do Fundo de Pensões dos trabalhadores (75 milhões de euros). Uma decisão que gerou grande controvérsia. Não só o Conselho de Administração não foi consultado, como não passou pelo crivo do comité de investimentos da operadora de telecomunicações. A Ongoing e o BES detinham (e ainda estão presentes) cada 10% da empresa liderada pela dupla Zeinal Bava/Henrique Granadeiro.
O PÚBLICO avançou então que, ao tomar conhecimento, o representante não executivo da CGD na administração da PT, Jorge Tomé (hoje no Banif), demitiu-se, alegando que discordava da aplicação no fundo de risco da Ongoing das verbas associadas aos fundos complementares de segurança socia (saúde e reformas).
Mas os apoios financeiros do Montepio, do BES e da PT possibilitaram à Ongoing continuar a actuar nos mercados sem recorrer a endividamento bancário (a partir da crise mais escrutinado). Na carteira de activos do Fundo Ongoing International encontravam-se acções da PT avaliadas a 12 euros (2009), quando a cotação da época já era de 7,7 euros.
Hoje, a PT é uma das empresas mais exposta ao GES pois financiou em 897 milhões de euros a Rioforte que já admitiu pedir a protecção de credores. As emissões de papel comercial subscritas pela operadora já venceram mas as verbas não foram devolvidas. Os títulos da PT transaccionaram-se na sexta-feira a 1,76 euros.
Nesta sexta-feira, a SIC Notícias avançou que a Espírito Santo International formalizou o pedido de gestão controlada, no Luxemburgo.