Circuitos biodegradáveis na vanguarda da medicina

Estes circuitos são implantes com propriedades electricamente activas e com a capacidade de se degradar ao longo do tempo, quando em contacto com os nossos fluidos corporais (não só a água, mas também o sangue ou a saliva)

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Creativity103/Flickr

Todos sabemos que o corpo humano é maioritariamente constituído por água. A minha pergunta é: o que pode ter isso a ver com as cassetes que se autodestroem nos filmes do James Bond? Exactamente... nada! Ou pelo menos assim o era, até há bem pouco tempo. Isto porque surgiu na comunidade científica um novo conceito que já mostrou possuir um potencial revolucionário, cruzando as áreas da medicina, da electrónica e do ambiente. Algo bastante funcional e que se resume em duas palavras: circuitos biodegradáveis.

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Todos sabemos que o corpo humano é maioritariamente constituído por água. A minha pergunta é: o que pode ter isso a ver com as cassetes que se autodestroem nos filmes do James Bond? Exactamente... nada! Ou pelo menos assim o era, até há bem pouco tempo. Isto porque surgiu na comunidade científica um novo conceito que já mostrou possuir um potencial revolucionário, cruzando as áreas da medicina, da electrónica e do ambiente. Algo bastante funcional e que se resume em duas palavras: circuitos biodegradáveis.

A ideia desta tecnologia baseia-se na vontade, tanto de médicos como de doentes, de tornar as terapêuticas mais fáceis, controladas, baratas, eficazes e o menos invasivas possível. Nasceu então a ideia de criar estes pequenos dispositivos: implantes com propriedades electricamente activas e com a capacidade de se degradar ao longo do tempo, quando em contacto com os nossos fluidos corporais (não só a água, mas também o sangue ou a saliva).

Para isso, recorreu-se a materiais biocompatíveis — o magnésio e o silício —, com os quais se conceberam os circuitos. Estes foram depois envolvidos por um invólucro constituído por uma proteína purificada extraída da seda. Este componente tem uma utilidade fulcral nesta tecnologia. Graças à sua espessura, é possível controlar o tempo de dissolução e reabsorção do dispositivo, parâmetro que tanto pode variar entre minutos e anos, dependendo da forma como for programado.

Esta ideia leva-nos a mudança de paradigma. A duração eterna dos circuitos sempre foi um objectivo importante na electrónica — porque agora seria diferente? Se pensarmos bem, a resposta é simples. Vivemos num período da história mundial em que a poluição atingiu níveis assustadoramente preocupantes e em que acumulação de resíduos no ambiente ameaça o futuro da humanidade. Tornou-se altura de procurar alternativas. E esta foi uma delas.

Recorrendo aos circuitos biodegradáveis, vai ser agora possível administrar medicamentos, tratar infecções, monitorizar funções vitais, estimular funções biológicas como a reconstituição óssea e realizar muitas outras funções, pelo período de tempo que se quiser, como se quiser e onde se quiser.

Quão bom seria para qualquer doente ouvir que a intervenção a que foi sujeito para implantar um dispositivo não será repetida porque este simplesmente já não existe? Quão bom seria até a possibilidade de ter um sensor que lhe libertasse os medicamentos que necessita, nas doses precisas e horários estipulados, evitando que a memória lhe pregasse alguma partida?

Pode-se assim dizer que temos nas nossas mãos um mecanismo que pode vir a ser fundamental para a sustentabilidade global mas, acima de tudo, para a sustentabilidade de cada um de nós.