Israel anuncia trégua mas já foram disparados três morteiros a partir de Gaza

Pressionado pela linha dura, Netanyahu deu luz verde à expansão da operação em Gaza. Forças israelitas recomendaram a evacuação de várias localidades palestinianas, ONU confirma mais de 18 mil refugiados nas suas instalações.

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Famílias palestinianas abandonam as suas casas depois dos alertas de Israel REUTERS/Mohammed Salem

O Governo israelita não se pronunciou ainda sobre estes lançamentos e também ainda não retaliou, continuando a cumprir a trégua por si declarada.

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O Governo israelita não se pronunciou ainda sobre estes lançamentos e também ainda não retaliou, continuando a cumprir a trégua por si declarada.

A decisão israelita, de cariz humanitário, foi anunciada ao início da noite desta quarta-feira. No início do dia, as forças judaicas tinham aconselhado a evacuação de várias localidades do norte e centro da Faixa de Gaza, onde vivem mais de cem mil pessoas, em antecipação de uma nova chuva de bombas contra alvos do Hamas ou, eventualmente, do avanço dos tanques e tropas israelitas pelo território dominado pelo Hamas.

O alerta para os perigos para a população da nova ofensiva surgiu poucas horas depois de o Governo de Benjamin Netanyahu ter confirmado a intensificação dos esforços militares israelitas, após o fracasso de uma proposta de tréguas avançada pelo Egipto. “Aqueles que não cumprirem [as instruções de evacuação] estarão a pôr em risco a sua vida e das suas famílias”, sublinhava uma gravação telefónica dirigida aos residentes de Shejaia e Zeitoun, dois bairros de Gaza City. A mensagem foi reforçada em panfletos distribuídos pelo ar e SMS.

Apesar de muitos analistas estimarem que, dado o teor dos alertas, as forças israelitas estavam prestes a iniciar uma ofensiva terrestre para a destruição de túneis e bunkers, os tanques concentrados na zona de fronteira permaneceram do lado israelita. “Para já, as directivas são de continuar os ataques aéreos e, se necessário, recorrer às forças terrestres de forma táctica e comedida”, informou uma fonte israelita citado pela Reuters.

Mais oito mil reservistas do Exército foram mobilizados para possíveis operações de combate, depois de o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, ter dado luz verde à “expansão” da campanha militar contra o Hamas, em resposta à morte de um civil israelita (ferido por estilhaços quando transportava mantimentos para as tropas estacionadas na fronteira). E o chefe do Governo está a ser pressionado pelos seus aliados políticos para avançar com a ofensiva terrestre.

No total, Israel já disparou contra 1825 alvos seleccionados em Gaza: lançadores de rockets, edifícios governamentais, casas de activistas islâmicos, mas também mesquitas, hospitais e outras “instituições civis” que as forças de Telavive dizem servir de armazém ou esconderijo para o arsenal do Hamas. Os ataques provocaram danos em 79 escolas e 23 clínicas geridas pelas Nações Unidas, adiantou o porta-voz da agência de apoio aos refugiados palestinianos, Chris Gunness, que também confirmou que o número de residentes que está temporariamente abrigado em instalações da ONU em Gaza City já ascende a 18 mil.

As autoridades de saúde palestinianas colocam o número de vítimas dos bombardeamentos em 213, com mais de 1500 feridos. Nesta quarta-feira, morreram mais 16 pessoas, entre as quais quatro meninos, entre os nove e os 11 anos, que brincavam numa praia onde caiu um dos mísseis israelitas. “Cinco minutos antes, estive a jogar à bola com eles”, escreveu o correspondente da cadeia norte-americana NBC. O ataque ocorreu em frente do hotel onde estão hospedados muitos jornalistas estrangeiros – o britânico Peter Beaumont, do The Guardian, foi um dos que assistiram ao ataque e ainda tentou socorrer os rapazes. Mas “em dez minutos tudo acabou. Até o fumo no cais da praia desapareceu.”

De acordo com as IDF, durante o dia foram atacados “50 pontos terroristas em Gaza”: entre os alvos seleccionados estiveram túneis e infra-estruturas do Hamas, “centros de actividade terrorista” e locais de lançamento de rockets. Os militantes disseram que foram atacadas 30 casas, entre as quais de quatro líderes do Hamas. Os mísseis atingiram ainda o Ministério do Interior e o centro de reabilitação de Al-Wafa, reportou a AFP.

Pelo seu lado, o Hamas disparou 1200 rockets para o território vizinho nos últimos oito dias – uma grande parte foi interceptada pelo sistema de defesa antiaéreo Iron Dome. Nenhum dos 61 projécteis disparados na quarta-feira desde Gaza causaram danos ou feridos, disseram à Reuters os serviços de emergência israelitas.

O presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, voou para o Cairo, numa tentativa de manter vivas as negociações para um acordo de cessar-fogo entre Israel e o Hamas. O movimento islamista que domina a Faixa de Gaza rejeitou formalmente uma proposta de tréguas avançada pelo Governo egípcio e apoiada pelos membros da Liga Árabe – e que Israel disse estar disposto a respeitar. “Depois de consultas com as várias instituições internas, o movimento decidiu rejeitar a proposta”, resumiu o porta-voz do Hamas, Sami Abu Zuhri.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, responsabilizou o Hamas pela “continuação da violência”, sublinhando que foi o movimento islamista que “fechou a porta a uma solução diplomática”. Ainda assim, dirigentes do Hamas tinham encontros previstos com os mediadores do Cairo, com o objectivo de “cristalizar uma fórmula definitiva para a iniciativa egípcia” e ainda de “clarificar” o teor de uma espécie de contraproposta para o cessar-fogo.

A agência de notícias palestiniana Ma’an divulgou uma lista com as exigências apresentadas aos responsáveis egípcios pelo Hamas e a Jihad Islâmica para o estabelecimento de um acordo de tréguas a vigorar por dez anos. Entre os (dez) pontos, encontram-se algumas concessões previstas pelos mediadores do Cairo, nomeadamente a reabertura dos corredores de assistência e da fronteira egípcia de Rafah. Mas outras exigências parecem impossíveis de atender, como, por exemplo, o fim do bloqueio e a retirada de todos os meios militares israelitas da zona de fronteira; o aumento da zona marítima de pesca e do número de barcos; o restabelecimento da zona industrial de Gaza; o fecho do espaço aéreo a aviões israelitas ou a autorização de peregrinações à mesquita de al-Aqsa em Jerusalém.