Epidemia de sida pode estar controlada por volta de 2030, diz ONU
No mundo ainda há 19 milhões de seropositivos que não sabem que estão infectados mas os responsáveis do programa ONU/Sida acreditam que podemos estar a assistir ao “início do fim da sida”
“Mais do que nunca, existe a esperança de que acabar com a sida será possível”, frisam os responsáveis do ONU/Sida, no comunicado de imprensa anexo ao relatório de 400 páginas que traça o panorama mundial actualizado desta epidemia. “O mundo assistiu a extraordinárias mudanças no cenário da sida. Houve mais progressos nos últimos cinco anos do que nos anteriores 23 anos”, sublinham. Será o “início do fim da sida”, a que aludiu o director executivo do programa, Michel Sidibé?
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“Mais do que nunca, existe a esperança de que acabar com a sida será possível”, frisam os responsáveis do ONU/Sida, no comunicado de imprensa anexo ao relatório de 400 páginas que traça o panorama mundial actualizado desta epidemia. “O mundo assistiu a extraordinárias mudanças no cenário da sida. Houve mais progressos nos últimos cinco anos do que nos anteriores 23 anos”, sublinham. Será o “início do fim da sida”, a que aludiu o director executivo do programa, Michel Sidibé?
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Os números são expressivos. Primeiro: há um retrocesso histórico no total de mortes relacionadas com sida, com os casos fatais a ascenderem a 1,5 milhões em 2013, menos 35% do que em 2005, ano em que foi atingido o pico da epidemia. Segundo: o número de novas infecções está a diminuir, passando de 2,2 milhões em 2012 para 2,1 milhões no ano passado.
Outra boa notícia é a de que, apesar da crise, os recursos financeiros alocados à luta contra a sida continuam a aumentar, ainda que o montante global continue a não ser suficiente para ganhar a batalha, notam. No ano passado, sublinhou, a propósito, Michel Sidibé, “22 milhões de pessoas não tinham acesso a um tratamento salvador”.
A outra face negra da epidemia da sida é a de que o número de seropositivos continua ainda a aumentar, em grande parte graças ao crescente acesso a medicamentos antiretrovirais. No ano passado eram já 35 milhões de pessoas, mais cinco milhões do que em 2001, e uma parte significativa, 19 milhões, ignora que está infectada, revela o documento.
“Se acelerarmos o investimento até 2020, estaremos em condições de acabar com a epidemia por volta de 2030”, sustenta, mesmo assim, Sidibé. Se isso não acontecer, avisa, corre-se o risco de aumentar “o tempo que será necessário para o conseguir, acrescentando uma década, se não mais [a esta equação]” . Para destacar a importância da aposta na luta contra a sida, os peritos do programa da ONU lembraram que conseguir este feito em 2030 significará que terão sido evitadas neste período 18 novos milhões de infecções e 11,2 milhões de mortes relacionadas com sida.
Os que não sabem
Divulgado no âmbito da 20.ª Conferência Internacional sobre a Sida, que começa domingo em Melbourne (Austrália), o relatório prova que as novas infecções estão a diminuir substancialmente (foram 2,1 milhões no ano passado face a 3,4 milhões em 2001), e que, entre as crianças, esta tendência é muito marcada, uma vez que a queda observada no ano passado foi de 54%, face a 2001.
Por regiões, a África subsariana, já se sabia, é de longe a mais afectada, com 24,7 milhões de seropositivos, seguindo-se a Ásia e Pacífico (4,8 milhões). No continente mais afectado, mais de 80% das pessoas diagnosticadas estavam a ser tratadas.
Mas o problema que estes dados escondem é que metade dos africanos com VIH/Sida ignoram que estão infectados. “Saber se alguém vai viver ou morrer não devia depender do acesso a um teste de VIH”, lamentou Sidibé.
Os dados demonstram que, por cada aumento de 10% na cobertura do tratamento, há um decréscimo de 1% na percentagem de novas infecções, refere o relatório, que demontra que os esforços para aumentar o acesso a tratamentos antiretrovirais estão de facto a dar resultados. Só durante o ano passado, 2,3 milhões de pessoas passaram a receber medicação deste tipo. O acesso aos tratamentos antiretrovirais aumentou, aliás, 77% desde 2010, o que significa que 12,9 milhões de pessoas estavam a ser tratadas em 2013, mais 5,6 milhões do que acontecia três anos antes.
Em números absolutos, apenas 15 países representam quase três quartos das pessoas que vivem com VIH/Sida no mundo e onde se continuam a registar a maior parte das novas infecções. São estes a África do Sul, Nigéria, Uganda, Índia, Moçambique, Quénia, Rússia, Indonésia, Tanzânia, Zimbabué, China, Zâmbia, Estados Unidos, Camarões e Brasil.
Estes países concentram também a maior parte das mortes relacionadas com sida, mas em 2013 verificou-se uma mudança: os Estados Unidos saíram da lista para serem substituídos pelo Congo, variação que, segundo os responsáveis do ONU/Sida, representa um sinal de alerta e prova a importância de que se assegure, de uma vez por todas, o acesso generalizado à medicação.
Os que ficam para trás
Os responsáveis do ONU/Sida avisam igualmente que há países que estão a ser deixados para trás, como o Congo, a Indonésia, a Nigéria e a Federação Russa, onde se observa uma baixa cobertura de tratamento e não há declínio ou se verifica apenas um decréscimo pouco significativo no número de novas infecções.
Analisando as razões para o crescente fosso entre as pessoas que conseguem aceder aos tratamentos e as que estão a ser deixadas para trás, os peritos enfatizam a necessidade de pôr o foco na abordagem das populações com maior risco de VIH, uma estratégia que será mesmo “a chave para acabar com a epidemia”.
Estima-se, por exemplo, que a prevalência de VIH seja 28 vezes maior entre as pessoas que injectam drogas e 12 vezes maior entre os trabalhadores do sexo do que na restante população adulta. Chamam, a propósito, a atenção para o que está a acontecer na África subsariana, onde as adolescentes e as mulheres jovens representam já uma em cada quatro novas infecções .
Os responsáveis dos Médicos Sem Fronteiras destacaram também a importância de providenciar tratamentos para os infectados nos países em desenvolvimento. “Temos que nos assegurar que ninguém é deixado para trás”, defendeu Jennifer Cohn, directora médica desta organização. “Em alguns países, as pessoas começaram a ser tratadas demasiado tarde para salvar as suas vidas”, avisou.
Sem dados detalhados sobre Portugal, o Gap Report destaca apenas que a prevalência de VIH nos trabalhadores do sexo em território nacional é superior nos homens (15%, o que nos coloca no terceiro lugar desta lista, logo a seguir à Alemanha e à Espanha) do que nas mulheres ( 6%, e a este nível Portugal surge como o pior da tabela). Segundo revelaram já as autoridades nacionais, o número de novos casos de sida em Portugal diminuiu em 2013, ano em que foram registadas menos 200 notificações face a 2012.