“Nova guerra aberta” no Médio Oriente
Avisos e manobras diplomáticas não chegam para refrear a guerra que se trava entre Israel e Gaza.
O secretário-geral das Nações Unidas disse, com solenidade, que o Médio Oriente “não se pode permitir uma nova guerra aberta”. A verdade é que pode, e as palavras de aviso terão efeito nulo no poder israelita e nas hostes do Hamas. O que começou por ser uma retaliação por bárbaros assassinatos (primeiro os três jovens israelitas assassinados a tiro e a sangue-frio, depois o jovem palestiniano queimado vivo) é hoje a rotina dos piores tempos em que morte e destruição não tinham alvos precisos nem freio. Israel continua a bombardear Gaza, matando militares e civis, destruindo casas e vilas, cuidando que com tal destruição e morte derrotará os seus adversários; e o Hamas, no meio do pó dos escombros, continua a disparar rockets na direcção de Israel, esperando que alguns deles tenham um efeito mortífero ou até mesmo devastador (porque já não são artesanais mas sim de fabrico sírio e chegam muito mais longe). Agem, de ambos os lados, como se as feridas fossem um passo para que tudo acabe. Mas é o inverso que sucede, como é do conhecimento geral há décadas, neste martirizado território. A exposição das chagas da contenda (crianças mortas, mulheres em lágrimas, bairros destruídos, refúgios, funerais, êxodo de civis em fuga dos bombardeamentos) é a face visível, para o exterior, de um martírio feroz mas evitável, se a sede de vingança não moldasse ali todos os gestos.
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O secretário-geral das Nações Unidas disse, com solenidade, que o Médio Oriente “não se pode permitir uma nova guerra aberta”. A verdade é que pode, e as palavras de aviso terão efeito nulo no poder israelita e nas hostes do Hamas. O que começou por ser uma retaliação por bárbaros assassinatos (primeiro os três jovens israelitas assassinados a tiro e a sangue-frio, depois o jovem palestiniano queimado vivo) é hoje a rotina dos piores tempos em que morte e destruição não tinham alvos precisos nem freio. Israel continua a bombardear Gaza, matando militares e civis, destruindo casas e vilas, cuidando que com tal destruição e morte derrotará os seus adversários; e o Hamas, no meio do pó dos escombros, continua a disparar rockets na direcção de Israel, esperando que alguns deles tenham um efeito mortífero ou até mesmo devastador (porque já não são artesanais mas sim de fabrico sírio e chegam muito mais longe). Agem, de ambos os lados, como se as feridas fossem um passo para que tudo acabe. Mas é o inverso que sucede, como é do conhecimento geral há décadas, neste martirizado território. A exposição das chagas da contenda (crianças mortas, mulheres em lágrimas, bairros destruídos, refúgios, funerais, êxodo de civis em fuga dos bombardeamentos) é a face visível, para o exterior, de um martírio feroz mas evitável, se a sede de vingança não moldasse ali todos os gestos.
Hoje, uma embaixada diplomática europeia chega a Jerusalém para acalmar os ânimos. Não terá decerto melhor sorte do que as palavras de Ban Ki-moon, dispersas no vento. Ninguém quer parar de disparar sem poder gritar “vitória”, mesmo que esse grito seja falso e apenas um novo e curto intervalo entre ameaças e agressões. Morrerão ainda, nesta guerra, porque é de uma guerra que se trata, muitos civis inocentes. E se alguém gritar “vitória”, fá-lo-á com despudor sanguinário. Só há vencidos, neste morticínio.