Fracos resultados a Inglês levam Crato a generalizar ensino da língua no 3.º ano em 2015

Maioria dos alunos do 9.º ano tem conhecimentos abaixo do seu grau de ensino, segundo resultados do teste de diagnóstico feito por Cambridge. Professores alertam para baixa carga horária e turmas grandes.

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Rui Gaudêncio

Para o presidente da Associação Portuguesa de Professores de Inglês (APPI), Alberto Gaspar, os resultados “traduzem a existência infeliz da conjugação de dois factores” que a associação tem vindo a apontar: a carga horária reduzida de Inglês; e o número excessivo de alunos por turma.

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Para o presidente da Associação Portuguesa de Professores de Inglês (APPI), Alberto Gaspar, os resultados “traduzem a existência infeliz da conjugação de dois factores” que a associação tem vindo a apontar: a carga horária reduzida de Inglês; e o número excessivo de alunos por turma.

“A carga horária de Inglês é extremamente reduzida, sobretudo no 3.º ciclo, que é o que está em causa. Em alguns agrupamentos é apenas de 90 minutos por semana. É muito difícil desenvolver competências, nomeadamente falar Inglês, com uma carga horária tão reduzida. No mínimo devia ser o dobro, para o trabalho ser consistente”, defende Alberto Gaspar. Além de mais horas, o ensino do Inglês pede turmas mais pequenas, acrescenta o docente. “Em alguns casos as turmas têm 30 e mais alunos. No máximo deviam ter 24.”

Segundo Nuno Crato, a generalização no 3.º ano da oferta da disciplina, que terá uma carga horária mínima de duas horas semanais, obrigará a "um novo recrutamento de professores de Inglês no ensino básico". Isto implicará, por sua vez, um concurso extraordinário de professores. O ministro não adiantou, contudo, qual será o número de vagas e quando será aberto esse concurso. O governante também sublinhou que será necessário actualizar os currículos do ensino básico, de forma a incluir o ensino da língua inglesa, primeiro no 3.º ano e, depois, no 4.º.

Apesar de assegurar, em relação ao projecto-piloto anunciado, que as experiências continuarão no terreno, Crato garantiu que, “em 2015-2016, estarão reunidas condições para generalizar o ensino do Inglês” ao 3.º ano do 1.º ciclo”. O governante considera que, sem esta oferta aos mais novos, o modelo de ensino não permite sucesso para todos: "Não sendo curricular no 1.º ciclo, haverá escolas e alunos que têm sucesso e haverá alunos que têm um domínio da língua inglesa bastante deficiente. E o que este teste de diagnóstico nos mostrou claramente foi isso: há dois grandes grupos, um que tem grandes limitações a Inglês; e outro que já começa a ter um domínio bastante razoável da língua ”, disse. O ministro admitiu que existem “níveis preocupantes do domínio da língua inglesa num conjunto muito grande de alunos”.

Docentes das AEC
Para que esta oferta seja generalizada no ano lectivo 2015/2016, os professores de Inglês de diferentes níveis de ensino terão já em 2014/2015, e antes da abertura desse concurso, formação, didática ou a nível de conteúdos, para darem aulas ao 1.º ciclo. Será ainda disponibilizada mais formação, ao nível de mestrado, na área do Inglês no ensino básico.

Mas, "no imediato",  o ensino do Inglês no 1.º ciclo será feito “com base nas pessoas que neste momento existem no sistema”. Crato considera que, mesmo precisando, em alguns casos, de formação e certificação complementares, docentes de diferentes níveis de ensino podem vir a dar a disciplina aos mais pequenos. Nestes exemplos, incluiu professores do 1.º ciclo, habituados a dar aulas aos mais novos e que dominam Inglês, até ao secundário, em que precisarão de formação para ensinarem a língua a outras faixas etárias. Mas não afastou a possibilidade novas contratações: “É possível que haja novas contratações para o Inglês curricular, mas neste momento existe um grande número de professores de Inglês com insuficiência lectiva, que poderiam ter mais horas de leccionação. Há professores de Inglês com horários zero, infelizmente", disse.

Quando o concurso extraordinário abrir,  professores de diferentes graus de ensino poderão concorrer: “Mediante uma formação complementar, poderão aceder a este novo grupo de recrutamento e leccionar Inglês no 1.º ciclo. Nós não estamos a falar de grupos de recrutamento estanques, estamos a falar de terem, além do grupo de recrutamento em que estão, um outro grupo de recrutamento e poderem concorrer aos dois lugares”, explicou, ressalvando, porém, que “ninguém vai ser obrigado a concorrer”.

Tornar o Inglês obrigatório para todos os alunos do 3.º ciclo é algo que Alberto Gaspar vê com bons olhos, mas o presidente da APPI espera que a contratação de docentes necessária “não deite pela borda fora os professores, com habilitações científicas e pedagógicas, que têm vindo a assegurar as AEC-Actividades de Enriquecimento Curricular” no 1.º ciclo – isto é, os docentes que têm dado Inglês com carácter facultativo.

Resultados aquém
Os resultados do Key for Schools não foram alheios a estes anúncios. Nuno Crato considera que é necessário apostar no ensino da disciplina aos estudantes mais novos, de forma a melhorar o desempenho dos alunos. Segundo os dados fornecidos pelo Instituto de Avaliação Educativa (Iave), 47,2% dos alunos do 9.º ano ficaram "abaixo do nível de referência para o teste em apreço", que foi obrigatório para os estudantes deste grau de escolaridade.

Destes cerca de 47% dos alunos do 9.º ano que têm dificuldades na disciplina – que não alcançaram os objectivos –, 24,3% estão mesmo no nível mais baixo da escala – o Pré A1 – e 22,9% no imediatamente a seguir, o A1.

Nos dois patamares seguintes estão os restantes alunos do 9.º ano: 31,6% estão no nível A2, o que significa que têm, de uma forma geral, conhecimentos equivalentes ao 7.º ano, e apenas 21,1% têm, de facto, conhecimentos B1, isto é, próprios do seu grau de ensino, o 9.º ano.

Hélder Sousa, do Iave, reconheceu que os alunos deviam estar entre o nível A1 – que daria direito a um certificado, porque o aluno, embora não tenha atingido os objectivos, tem “alguma capacidade” - e o A2. Já o Pré A1 revela que o estudante não sabe “nada” da língua – é a “estaca zero da aprendizagem”. Embora admitindo que o objectivo do teste não era que todos os alunos ficassem no nível B1, este responsável admite que é esse que equivale ao 9.º ano.

Assimetrias regionais
Na parte de leitura, cerca de 50% dos alunos tiveram um desempenho fraco, 16% estão no nível a seguir e apenas 10% tiveram um resultado bom. O nível excepcional fica-se em 24%. No que respeita a escrita e compreensão do que se ouve, 47% dos alunos são fracos, 17% estão no degrau a seguir (chama-se Borderline) e só 7% tiveram bom; 29% dos alunos são excepcionais a escrever e a perceber o que escutam.

Na componente oral (speaking), o nível Borderline – o segundo mais baixo – é o mais representado: 48%. No nível fraco estão 26%, a mesma percentagem dos bons e excepcionais somados.

Quanto a regiões do país, os melhores resultados pertencem à área da Grande Lisboa e os mais fracos à zona do Tâmega e do Douro. Depois da Grande Lisboa, nos primeiros lugares, segue-se o Baixo Mondego, o Grande Porto e a Península de Setúbal. O Baixo e o Alto Alentejo, a Beira Interior Norte ou Alto Douro-Trás-os-Montes ou a área do Pinhal Interior, surgem nos últimos lugares da tabela.

“Pretendemos que as regiões do país sejam mais homogéneas e, para isso, temos de introduzir bem o Inglês no 1.º ciclo curricular e com professores formados para o efeito”, disse Nuno Crato. O ministro também aconselhou as escolas a tomarem medidas, como a criação de “grupos de apoio aos alunos” com mais dificuldade, terem mais do que um docente na sala, entre outros projectos que permitam “promover o contacto dos alunos” com a língua inglesa.

Teste para o ano
Nas conclusões, o Iave considera que “estão criadas condições para a aplicação, desejavelmente no próximo ano lectivo, do teste PET − Preliminary English Test for Schools”, ou seja, o nível a seguir. Recomenda-se ainda a “definição e aplicação de medidas de apoio pedagógico específicas para os alunos cujos resultados se situaram, no teste Key for Schools, nos níveis pré-A1 e A1”, os mais baixos. “Em termos futuros, deve equacionar-se, desde já, uma evolução da certificação da proficiência linguística que possa criar as condições para uma aplicação bem-sucedida do teste FCE for Schools (First Certificate of English) para os alunos do sistema de ensino português, no final da escolaridade obrigatória”, lê-se ainda.

Recorde-se que os resultados deste teste de diagnóstico foram adiados e apenas conhecidos nesta sexta-feira, por falta de professores avaliadores. O teste, feito em Abril por cerca de 101 mil alunos, foi pensado para um nível A2, o que equivale aproximadamente aos conhecimentos do 7.º ano. O exame era obrigatório para os estudantes do 9.º ano e opcional para aqueles com idades entre os 11 e os 17 anos.