Em choque com os EUA e a Europa, Putin vai reforçar laços com antigos aliados
Moscovo regressa à América Latina, onde há países "que não têm preconceitos" em relação à Rússia.
A primeira etapa da viagem do líder russo passa, precisamente, por Havana. Daí Putin segue para a Argentina, e depois para o Brasil, onde participará na cimeira dos chamados BRICS, o acrónimo que representa as cinco economias emergentes do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – embora o Presidente aterre no Rio de Janeiro ainda a tempo de assistir à final do campeonato do Mundo de futebol, ao lado da chanceler alemã Angela Merkel.
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A primeira etapa da viagem do líder russo passa, precisamente, por Havana. Daí Putin segue para a Argentina, e depois para o Brasil, onde participará na cimeira dos chamados BRICS, o acrónimo que representa as cinco economias emergentes do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – embora o Presidente aterre no Rio de Janeiro ainda a tempo de assistir à final do campeonato do Mundo de futebol, ao lado da chanceler alemã Angela Merkel.
Sob pressão da comunidade internacional por causa do envolvimento russo no conflito da Ucrânia, Putin parte em busca do apoio político dos aliados regionais. A informação distribuída pelo Kremlin antes da viagem destaca a importância dos contactos com os líderes sul-americanos, “no actual contexto de tensão crescente com os Estados Unidos e a União Europeia”. “A Rússia está interessada em explorar a sua relação tradicionalmente amigável com os países da América do Sul, e para o provar está preparada para assinar dezenas de acordos de cooperação em áreas que vão da energia à saúde e à cultura”, refere a nota oficial.
“A viagem destina-se a fortalecer a viragem para a América Latina: com a Rússia marginalizada na arena da política global, o mais lógico era que se voltasse para os seus parceiros naturais, que não têm nenhum preconceito ou intolerância contra o país, com renovada atenção e deferência”, explicou à AFP o responsável pelo think-tank de Moscovo PIR, Vladimir Orlov.
Antes da partida, num encontro com os membros da Câmara Cívica de Moscovo, Vladimir Putin frisou que a Rússia defenderá “com persistência” o seu interesse nacional “mas com cautela, de forma razoável e sem cair no auto-isolamento”. Numa mensagem cifrada, que tanto podia referir-se aos aliados europeus que debatem um eventual reforço das sanções contra o país, como aos líderes sul-americanos que se prepara para encontrar, o Presidente lembrou que o seu país “fará sempre parte da comunidade internacional, que é complexa, não é uniforme. Ninguém quer ter concorrentes fortes, mas a vida internacional sempre foi e sempre será competitiva”, observou.
A agenda para a paragem em Cuba inclui negociações para a cooperação bilateral em áreas como a energia, transportes e aviação, antecipou o Kremlin. O Governo de Raúl Castro beneficiará finalmente do acordo de perdão da dívida histórica que os dois países assinaram em Outubro de 2013: Moscovo abre mão de 90% dos cerca de 26 mil milhões de euros enviados para o país ainda na era soviética e Cuba tem dez anos para pagar os restantes 10%, numa conta aberta pelo Vnesheconombank (principal instituição de crédito estatal) no Banco Nacional de Cuba.
Mas para além das questões económicas, a visita a Havana terá também uma componente política simbólica, com Putin a reunir com o ex-Presidente e líder revolucionário Fidel Castro, “o último dos moicanos com quem o homem forte da Rússia pode debater as ameaças do Ocidente e a nova ordem mundial”, como assinala Vladimir Orlov. Mas segundo o porta-voz de Putin, existe também sintonia com a Presidente da Argentina, que “partilha do mesmo juízo” da Rússia relativamente à crise na Ucrânia, e com os líderes dos BRICS, que além das matérias económicas vão ainda “acertar a sua coordenação política” na cimeira de Fortaleza.