Greve facilita acesso ao internamento no Hospital de Faro
A falta de médicos e a redução do número de utentes às Urgências fez com o Hospital consiga ter mais camas do que doentes – o que não consegue em dias normais.
Irene Rocheta, de 80 anos, caminha amparada pelo filho, em direcção ao serviço de oftalmologia do Hospital de Faro. Espera há cinco anos por uma operação às cataratas. Hoje, porque havia greve, regressa a casa com a promessa de que ainda só terá consulta daqui por um mês. “Infelizmente é esta a miséria que temos”, lamentou.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Irene Rocheta, de 80 anos, caminha amparada pelo filho, em direcção ao serviço de oftalmologia do Hospital de Faro. Espera há cinco anos por uma operação às cataratas. Hoje, porque havia greve, regressa a casa com a promessa de que ainda só terá consulta daqui por um mês. “Infelizmente é esta a miséria que temos”, lamentou.
Fátima Custódio, assistente operacional da escola da Penha (Faro), comenta: “Percebo muito bem a razão dos médicos fazerem greve – estão a acabar com isto tudo”. Deslocou-se ao hospital para fazer um penso num pé, mas não foi possível o tratamento. “ Quem costuma fazer o penso é o médico, mas ele hoje está em greve”, justificou. Compreendeu a decisão. “Eu também sou funcionária pública, tenho 31 anos de serviço e ganho uma miséria, sinto na pele o que se está a passar”. Dos dois meses que leva de idas regulares ao hospital, o que tem a dizer dos profissionais de saúde é abonatório. “Trabalham que se fartam.”
Por outro lado, Irene Rocheta sugere paciência para compreender o que se está a passar. “Ando há cinco anos com esta doença dos olhos, vou aguentando à espera da operação”.
No serviço de Cardiologia, Nuno Marques, médico responsável pelas consultas externas, tinha em escala três clínicos, mas um não compareceu. “Cancelámos as consultas marcadas, não queremos boicotar a greve”, justificou. As marcações foram adiadas daqui por um mês.
Já Cristina Sousa deslocou-se de Tavira para uma consulta de ginecologia, sem sucesso: “Cancelada, há greve”, responderam. Como alternativa, sugeriram que “talvez, amanhã” fosse possível. É que, explicaram, há médicos que aderiam hoje à paralisação, mas amanhã já estarão ao serviço, e vice-versa. O serviço de Urgência encontra-se a funcionar normalmente, embora com menos adesão do que habitual. Apenas um anestesista se encontra a trabalhar e durante a manhã terá que assegurar três intervenções cirúrgicas de emergência.
O Serviço de Urgência Básica (SUB) de Loulé, uma unidade de saúde que na semana encerrou por falta de médicos, hoje está a funcionar. A Administração Regional de Saúde (ARS) contratou uma nova empresa que fornece os profissionais de saúde, e dois clínicos do sector privado não aderiram à greve.