BE tenta evitar divisões internas com moção única na próxima Convenção
Partido quer inverter os maus resultados e “começar de novo”. Porém, com uma certeza: não esperar nada do PS nem aguardar pelo PCP.
“Eu e Catarina demos esse impulso. Considerámos que, estando marcada uma convenção para 22 e 23 de Novembro, é preciso prepará-la”, diz ao PÚBLICO João Semedo. Mas o convite não foi recebido por todos da mesma maneira: ”Convidámos activistas de todo o país, falámos com todas as correntes e sensibilidades para a construção conjunta de uma moção. Uns aceitaram, outros não”.
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“Eu e Catarina demos esse impulso. Considerámos que, estando marcada uma convenção para 22 e 23 de Novembro, é preciso prepará-la”, diz ao PÚBLICO João Semedo. Mas o convite não foi recebido por todos da mesma maneira: ”Convidámos activistas de todo o país, falámos com todas as correntes e sensibilidades para a construção conjunta de uma moção. Uns aceitaram, outros não”.
Segundo o PÚBLICO apurou, bloquistas da corrente UDP e mais próximos do fundador Luís Fazenda não estarão a ver a reunião do Porto com simpatia. Desafiado a referir quem recusou o convite, Semedo preferiu não se pronunciar. “Não vi ninguém fechar essa porta em definitivo e ela continuará aberta depois de domingo”, disse o líder.
Além dos coordenadores, subscrevem o convite o ex-líder parlamentar José Manuel Pureza, a eurodeputada Marisa Matias e o fundador Fernando Rosas. Para responder à necessidade de “uma força autónoma na esquerda, que não espera nada do PS nem espera pelo PCP” e para continuar a discussão dos maus resultados eleitorais consecutivos, os proponentes pretendem juntar forças para que contributos divergentes culminem numa única moção “plural, representativa e mobilizadora”.
Agora, e para não atrapalhar esse percurso que será feito durante o Verão e até Novembro, a mais recente tendência do BE (Socialismo, que os líderes integram) já se comprometeu a não apresentar nenhuma moção própria ao congresso. “Queremos refazer a confiança, avançar na irreverência e começar de novo”, diz o texto curto publicado no site esquerda.net.
No último congresso, em 2012, que conduziu Catarina e Semedo à liderança, a lista A obteve 75% dos votos, mas foram discutidas duas moções. Semedo rejeita que um texto único vise calar os críticos, mas reconhece que há um esforço inédito para a construção de um documento a uma só voz, independentemente das divergências.
O dirigente José Manuel Pureza afirma ao PÚBLICO que "nunca as divergências e muito menos a diversidade se calaram, se não já não seria o Bloco, mas claro que há que procurar o maior envolvimento possível de todos e até dos que têm estado em posições críticas". Essa procura de consenso, reforça Pureza, é uma "tradição" dentro do partido, reforçada pela "preocupação que haja convergências muito amplas dentro do BE".
Debaixo do “chapéu” deste encontro nacional no Porto estará, não só a preocupação com os resultados dos próximos actos eleitorais, mas também “a vontade de refazer o mapa político para acabar com a alternância sem alternativa, polarizando a esquerda contra o centro e a direita”.
“Junta-nos a vontade de convergência para uma alternativa forte ao próximo governo, seja do PS ou do bloco central”, diz o apelo publicado no esquerda.net. Também não será alheia a esta discussão o facto de ter voltado ao debate público, pela mão do actual secretário-geral do PS, António José Seguro, a possibilidade de uma reforma da lei eleitoral que contempla a redução do número de deputados dos actuais 230 para 180.
Com evidente impacto negativo para o BE – cuja bancada são oito parlamentares – os militantes prevêem que “a desagregação do sistema político português vai acelerar-se”, pelo que, “sem uma esquerda forte, é grande o risco de um governo do bloco central ou do PS, com o apoio do PSD, avançar numa nova lei eleitoral destinada a eternizar no poder os partidos da alternância”.
A reestruturação da dívida continua a ser o cavalo de batalha sem o qual não há alianças possíveis. “Não se pode perder mais tempo. Se essa reestruturação profunda não ocorrer em tempo útil, é a própria existência do estado social que está em causa”, refere o texto.
Fica também em aberto o apoio a um candidato independente nas próximas presidenciais, desde que comprometido com a constituição e com a recusa da austeridade, o que, na óptica do Bloco, implica a rejeição do tratado orçamental. Na falta dessa candidatura, o partido equacionará então a apresentação de um candidato próprio.