Vias rápidas de Lisboa e Porto entre as estradas mais perigosas do país
Só o IC19, que liga Lisboa a Sintra, tem seis pontos negros na lista, e apresenta o troço com o maior indicador de gravidade.
De acordo com o relatório anual de sinistralidade rodoviária, divulgado no site da ANSR, o número de "pontos negros" quase duplicou: passou de 33 em 2012 para 58 no ano passado.
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De acordo com o relatório anual de sinistralidade rodoviária, divulgado no site da ANSR, o número de "pontos negros" quase duplicou: passou de 33 em 2012 para 58 no ano passado.
São considerados "pontos negros" as zonas com um máximo de 200 metros de extensão e pelo menos cinco acidentes com vítimas no ano a que diz respeito a análise. É também feita uma soma de vários factores que ponderam o número de mortos, feridos graves e ligeiros para calcular o chamado indicador de gravidade - se o valor for superior a 20, o troço é considerado um "ponto negro".
De entre os 58 troços, destacam-se as vias rápidas que dão acesso a Lisboa e ao Porto. Só o IC19, que em 2012 não fazia parte da lista, registou em 2013 seis "pontos negros". O IP7 (Eixo Norte-Sul) é a única estrada com mais pontos negros, num total de sete, mas que apresentam indicadores de gravidade mais baixos, já que os acidentes registados não fizeram nenhuma vítima mortal, enquanto no IC19 morreram três pessoas.
Para o presidente da Prevenção Rodoviária Portuguesa, José Miguel Trigoso, o maior registo de acidentes nas vias rápidas poderá ser explicado pela maior ocorrência de precipitação. "Não tenho dados concretos, mas acredito que, não tendo existido alterações noutros factores, poderá ter sido a ocorrência de mais chuva a influir nos resultados. Nas vias rápidas, esse é o factor que está mais ligado à gravidade do acidente", disse ao PÚBLICO.
Ainda na zona da Grande Lisboa, há a destacar o IC17 - CRIL (Circular Regional Interior de Lisboa), que apresenta cinco pontos negros – ainda que nenhum com vítimas mortais. Depois, o IC20, que liga Almada à Costa de Caparica, entra na lista por pouco, com um índice de gravidade de 24, quando, comparativamente, o IC19 tem uma zona que chega aos 141 em termos de indicador de gravidade e que coincide com aquela que é conhecida como a curva do Palácio de Queluz. Tanto a A5, que liga Lisboa a Cascais, como a A8 (Auto-Estrada do Oeste), têm quatro e um ponto no mapa, respectivamente, sendo em todos os casos os troços mais próximos da chegada a Lisboa.
Já na zona do Porto, a A20, na zona cuja boa parte do traçado coincide com a chamada Via de Cintura Interna, tem também cinco pontos negros, mas sem vítimas mortais. A A28 (Auto-Estrada do Litoral Norte) também surge neste mapa negro, com um único troço que é precisamente a recta final de chegada ao Porto. A EN12 (Estrada da Circunvalação) aparece também na lista com três pontos negros, um dos quais com uma vítima mortal.
Menos mortos mas mais acidentes com vítimas
Em relação aos dados gerais sobre sinistralidade, o relatório da ANSR indica que no ano passado foram registados 30.339 acidentes com vítimas, dos quais resultaram 518 mortes que ocorreram no local do acidente ou durante o transporte até à unidade de saúde e 2054 feridos graves. Estes números mostram que, por comparação com 2012, no ano passado houve mais 472 (1,6%) de acidentes com vítimas, mas com uma redução de 55 vítimas mortais (9,6%) e de seis feridos graves (0,3%). Por região, as zonas com mais vítimas mortais são precisamente Lisboa, com 69, quando em 2012 tinha 64, e o Porto, com 63, quando no ano anterior tinha 79.
"Não é surprendente haver menos mortos, mas mais acidentes. Há cada vez maior utilização dos acessórios de segurança e os veículos são cada vez mais novos. Oferecem, por isso, maior protecção com maior segurança passiva", comentou José Miguel Trigoso. O responsável sublinhou ainda que "tem havido algum redução na velocidade média praticada pelos condutores", o que faz com que "os acidentes sejam menos graves por se registarem a uma velocidade de embate menor".
José Miguel Trigoso fez ainda questão de sublinhar que este é "o primeiro ano" em que "não há registo de vítimas mortais com menos de 14 anos como passageiros de veículos automóveis". Tal, disse, dever-se-á ao "maior uso de sistemas de segurança e retenção nos veículos".
A ANSR apresenta, ainda, dados sobre o tipo de acidente, sendo a colisão o mais comum, surgindo em mais de 50% dos registos com vítimas. Seguiram-se os despistes, que representaram 32% do total. Nas colisões morreram 215 pessoas e nos despistes 208, o que representa uma quebra de 20% nesta última causa em relação a 2012.
“A maioria dos acidentes (22.946/76%) e feridos graves (1.329/65%) registou-se dentro das localidades, enquanto o número de vítimas mortais foi igual dentro e fora das localidades: 259 mortos. A melhoria apresentada por estas vítimas, face a 2012, não apresentou diferenças em termos de localização, o que pode ser um sinal positivo, tendo em conta o facto da evolução dos índices de sinistralidade nas zonas urbanas nos últimos anos ser sempre menos favorável do que fora das localidades”, lê-se na súmula feita pela ANSR.
Quanto aos dados já disponíveis para 2014, entre 1 de Janeiro e 30 de Junho, morreram 209 pessoas nas estradas portuguesas, menos 22 do que em igual período de 2013, e registaram-se 908 feridos graves e 15.971 feridos ligeiros. Ao todo foram registados 55.562 acidentes.