Seguro: os últimos três meses
Recebi muitos comentários à minha crónica sobre António Costa, publicada nesta revista em 15/6. Se a maioria manifestava apoio ao que escrevi, alguns textos sublinhavam a insensibilidade à “traição” de que Seguro teria sido alvo; e referiam o “oportunismo” de Costa, ao avançar apenas quando a vitória nas legislativas parece provável.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Recebi muitos comentários à minha crónica sobre António Costa, publicada nesta revista em 15/6. Se a maioria manifestava apoio ao que escrevi, alguns textos sublinhavam a insensibilidade à “traição” de que Seguro teria sido alvo; e referiam o “oportunismo” de Costa, ao avançar apenas quando a vitória nas legislativas parece provável.
Reconheço nestas críticas o tom com que Seguro tem conduzido a sua campanha. Sem grandes argumentos para se opor ao entusiasmo que a candidatura de Costa provocou no país, agita o fantasma da “lealdade” e realça o trabalho durante os seus anos de liderança, em circunstâncias muito difíceis. Ao mesmo tempo, pretende deixar a imagem de que o seu adversário apenas esteve a aguardar o momento propício para assaltar o poder, sem manifestar qualquer respeito pelo que foi realizado por Seguro.
Estes argumentos mostram a visão limitada de Seguro sobre o essencial da luta política. Em primeiro lugar, o actual líder do PS nega um princípio fundamental em democracia: num partido democrático, as lideranças estão sempre em questão, podem ser postas em causa em todos os momentos (desde que se respeitem as regras) e são, como é óbvio, muito condicionadas pela interpretação que é feita, em cada momento, das sondagens de opinião e dos resultados eleitorais.
Costa e os seus apoiantes entenderam que este é o momento de disputar a liderança. Têm toda a legitimidade para o fazer, como tiveram direito a recuar há cerca de um ano. Pôr em causa essa lógica é deturpar o cerne da democracia, que define os mandatos como permanentemente renováveis. Por outro lado, a política necessita de intuição no aproveitamento das oportunidades. Não há nenhum problema nisso: o sentido táctico define os grandes líderes. Se Costa entendeu ser este o seu momento, o PS que disputa, com civismo, se o quer como líder e futuro primeiro-ministro.
Seguro sabe que vive os últimos três meses como líder do PS. Se as “primárias” forem realizadas com rigor e permanente vigilância sobre quem vota — o que é preciso garantir em todos os momentos —, Costa obterá uma vitória clara. Por essa razão, Seguro oscila entre uma posição de vítima e um discurso pretensamente mobilizador, em que fala de si próprio como futuro primeiro-ministro de um governo PS. Em Celorico da Beira, disse que as “primárias” irão ser “o primeiro momento de afirmação da alternativa…”. O problema está na palavra “primeiro”. Com esta afirmação, Seguro demonstra como até agora não conseguiu ser uma verdadeira alternativa; e como se torna necessária uma relegitimação da liderança para termos a perspectiva de uma vitória do PS. O contratempo, para Seguro, é que a 28 de Setembro o líder será outro.
Infelizmente, os últimos três meses de Seguro não auguram nada de bom para o PS. Continuarão acusações pessoais, juízos de intenção e reuniões de apoio em que as emoções tomarão conta de todos. O PS corre riscos de perder três meses para fazer ouvir a sua voz: quem acredita hoje nas propostas do actual secretário-geral, sabendo que é um líder a prazo?
A estratégia de Seguro passa pelo desgaste do seu adversário, através da mobilização em torno da sua esforçada (mas baça) liderança. Costa precisa de resistir às críticas à sua “deslealdade”, conhecer melhor o país e, a seu tempo, concretizar mais as suas ideias.
Que 28 de Setembro chegue depressa!