Crusaders vs Blues: caos e estratégia
A equipa de Christchurch demonstrou a sua genialidade táctica, a formação de Auckland insistiu na receita do desastre
A edição 2014 do Super 15 tem sido das mais equilibradas desde o início da competição, quando ainda eram 10 as “super equipas”. Neste sábado, no clássico neozelandês em que os Blues jogavam o tudo ou nada e os Crusaders procuravam manter a liderança da conferência, foi o que se esperava: tenso e intenso, nervoso, por vezes erróneo. Mas teve também pinceladas de argúcia táctica e genialidade técnica. Os Crusaders venceram por 21-13.
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A edição 2014 do Super 15 tem sido das mais equilibradas desde o início da competição, quando ainda eram 10 as “super equipas”. Neste sábado, no clássico neozelandês em que os Blues jogavam o tudo ou nada e os Crusaders procuravam manter a liderança da conferência, foi o que se esperava: tenso e intenso, nervoso, por vezes erróneo. Mas teve também pinceladas de argúcia táctica e genialidade técnica. Os Crusaders venceram por 21-13.
Detalhes Técnicos
Houve o “offload” absolutamente incrível de Dan Carter para Nadolo, que resultou no segundo ensaio. Mas também a quebra de linha de Carter que, com a bola bem encaixada debaixo do braço e apenas Visinia pela frente, não conseguiu passar a bola a três jogadores em apoio interno e via aberta para o ensaio. Houve a intercepção de Halai para um ensaio de 100 metros, e mais umas quantas que revelam que os Blues conhecem bem os ângulos mínimos a que os Crusaders colocam os seus penetradores na linha.
Blues mais sensatos
Os Blues resistiram inicialmente à tentação de passar compulsivamente a bola para o lado e tentaram reproduzir o râguebi que lhes deu alegrias recentes: Luatua, Kaino e Nonu, sobretudo estes, procuraram jogar râguebi do lado certo do campo, i.e. para lá da linha da vantagem, entre linhas defensivas. Ihia West, cada vez mais próximo da linha da vantagem, procurou complementar a ameaça penetrante de Nonu; foi no entanto pouco eficaz no jogo ao pé, porque os Blues raramente jogaram râguebi nos sítios certos do campo; e quando jogaram perderam demasiada posse de bola.
Blues de regresso ao caos
Os 25 minutos finais foram frenéticos e os Blues, frustrados pela defesa deslizante tradicional dos Crusaders (de dentro para fora), sem penetração nos corredores interiores, reverteram ao formato normal: bola fora, à procura de Halai, Moala, Visinia, Saili ou Piutau. O enorme problema para Kirwin e companhia – e que se estranha, atenta a dignidade dos cérebros que compõem o staff de Auckland, com Graham Henry e Mick Byrne – é que a exploração dos espaços exteriores é feita por planos, mas sem que os planos próximos coloquem qualquer tipo de questão à defesa, que fica livre para deslizar. Nonu é o único homem que anda para a frente. E hoje, não conseguiu uma única quebra de linha.
Crusaders estratégicos
Foi neste caos final que os Crusaders demonstraram a sua genialidade táctica. Com constante superioridade numérica e de peso nos corredores exteriores, os Crusaders conseguiram recuperar ou pelo menos perturbar a reciclagem de bola pelos Blues. E esta circunstância não foi uma coincidência, mas antes resultado de análise do modelo (?) de ataque adversário. A eleição de Nadolo e Fonotia nas pontas plantou dois gigantes nas zonas onde haveria mais disputa de bola; os centros tiveram sempre cobertura interna para deslizar; houve sempre um terceira linha no ponto de contacto exterior. Os Crusaders chegaram a ter 5 para 2 na ponta, e os Blues insistiram na receita do desastre, provavelmente porque não conhecem outra.
Uma nota final para um super-homem diferente. Numa altura em que os jogadores de râguebi são sobre-humanos em dimensão, poder e explosão, Johnny McNicholl é o paradigma da simplicidade eficaz. Este é um jogo de detalhes, de pequenas contribuições e decisões, e este miúdo não falha uma: entra na linha no tempo e ângulo certo, passa quando tem de passar, limpa “rucks” quando é necessário que o faça ou integra a linha defensiva se é isso que deve fazer; garante continuidade com linhas de apoio irrepreensíveis, tem a técnica individual necessária para não “morrer” com a bola. McNicholl é um decisor de eleição, sem ser um mastodonte. Parece-me um bom exemplo para os jogadores nacionais.