Tudo a jogo num Curtas Vila do Conde

22ª edição sob o signo do futebol e com duas dezenas de curtas nacionais novas abre este sábado com a ante-estreia do novo de Kelly Reichardt e encerra dia 13 com Jean-Luc Godard

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A primeira manifestação “fora de jogo” é a exposição que vai estar patente no Teatro Municipal de Vila do Conde durante o festival, sob o genérico Sport Grounds and Stadiums, selecção de imagens de equipamentos desportivos do fotógrafo austríaco Josef Dabernig. A segunda é a abertura do popular programa infanto-juvenil do evento, o Curtinhas, já esta tarde, pelas 15h30, com a longa animada do argentino Juan José Campanella Matraquilhos. A terceira é a reportagem da televisão brasileira sobre o 100º golo de Pelé, num jogo entre o Vasco da Gama e o Santos em 1969, projectado em complemento da sessão de abertura oficial do certame: esta noite pelas 21h30, com a ante-estreia de Night Moves de Kelly Reichardt, a autora de Old Joy e Wendy e Lucy que é este ano homenageada pelo Curtas com a exibição integral das suas longas-metragens, acompanhada por um debate com o público (na quinta, 10).

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A primeira manifestação “fora de jogo” é a exposição que vai estar patente no Teatro Municipal de Vila do Conde durante o festival, sob o genérico Sport Grounds and Stadiums, selecção de imagens de equipamentos desportivos do fotógrafo austríaco Josef Dabernig. A segunda é a abertura do popular programa infanto-juvenil do evento, o Curtinhas, já esta tarde, pelas 15h30, com a longa animada do argentino Juan José Campanella Matraquilhos. A terceira é a reportagem da televisão brasileira sobre o 100º golo de Pelé, num jogo entre o Vasco da Gama e o Santos em 1969, projectado em complemento da sessão de abertura oficial do certame: esta noite pelas 21h30, com a ante-estreia de Night Moves de Kelly Reichardt, a autora de Old Joy e Wendy e Lucy que é este ano homenageada pelo Curtas com a exibição integral das suas longas-metragens, acompanhada por um debate com o público (na quinta, 10).

O Fora de Jogo percorre os nove dias do festival, não apenas através da exibição de excertos de jornais de actualidades e reportagens televisivas de época, como também na projecção da longa do romeno Corneliu Porumboiu, The Second Game, e em dois dos habituais filmes-concerto Stereo. Em The Second Game, que esteve no Indie em Maio, o realizador (que foi homenageado pelo Curtas em 2011) senta-se com o pai a ver um jogo de futebol de 1988 entre o Dínamo e o Steaua de Bucareste; o truque é que o pai é o árbitro que comandou aquele jogo e a sua voz off se torna num pretexto para falar da história da Roménia.

Quanto aos dois filmes-concerto Stereo/Fora de Jogo, exploram a habitual colisão de universos a que o Curtas nos habituou. De um lado, Vítor Rua e Chris Cutler ilustram Nostra Fides (Live Kick Remix), uma montagem de arquivos de Edgar Pêra que exploram também o 3D que se tornou na nova obsessão do cineasta (terça 8); do outro, o grupo Sensible Soccers e o realizador Pedro Maia cruzam-se em Off the Strength of His Side (sexta 11), um trabalho inédito baseado em loops de imagem.

O Stereo, cujos espectáculos têm sempre início à meia-noite, arranca este sábado em grande com os Peixe:Avião a musicarem Ménilmontant, um mudo de 1926 do russo radicado em França Dimitri Kirsanoff que a lendária Pauline Kael considerava ser o seu filme preferido de sempre. O programa da secção conclui-se na quinta (10), com Filho da Mãe e Jibóia, aliás Rui Carvalho e Óscar Silva, sonorizando In the Land of the Headhunters, documentário etnográfico realizado pelo fotógrafo Edward Curtis em 1914 junto de uma tribo índia canadiana da Columbia Britânica (quinta 10).

Mas, claro, são as curtas que fazem o Curtas, e sobretudo as curtas portuguesas, repartidas entre a competição oficial, os programas de curtas escolares (Take One!) e o apanhado das produções mais recentes no Panorama Nacional. Nesta última, destacam-se naturalmente A Caça Revoluções de Margarida Rego, As Rosas Brancas de Diogo Costa Amarante (presente a concurso em Berlim) e Boa Noite Cinderela de Carlos Conceição (que esteve em Cannes).

O concurso nacional é este ano um verdadeiro “quem é quem” da nova geração de cineastas que o Curtas tem feito tanto por reevelar. Mariana Gaivão, que mostrou a estreia Solo em 2012, traz First Light; o documentarista Pedro Neves (Água Fria), mostra Hospedaria, sobre um albergue de má reputação no centro do Porto. Salomé Lamas, a autora de Terra de Ninguém e vencedora do prémio de documentário em 2012 com A Comunidade, apresenta uma nova exploração do território dos mercenários com Le Boudin. Igualmente entre as duas dezenas de realizadores a concurso este ano (repartidos por quatro programas que serão exibidos, sempre às 21h00, de terça a sexta) estão o escritor e dramaturgo Jacinto Lucas Pires (com a sua terceira curta Levantamento), Miguel Clara Vasconcelos, vencedor de 2005 por Documento Boxe (com O Triângulo Dourado), Rodrigo Areias, o autor de Estrada de Palha e vencedor de 2008 com Corrente (Cinema), e o sempre presente Sandro Aguilar (False Twins).

Também a concurso estará um nome já noutro patamar, Teresa Villaverde, com Sara e a Sua Mãe, a sua contribuição para o filme colectivo Pontes de Sarajevo, onde 13 cineastas europeus reflectem sobre o centenário da I Guerra Mundial, despoletada pelo assassinato do arquiduque Francisco Fernando em Sarajevo. Aliás, o encerramento oficial do Curtas, às 22h30 de sábado 12, caberá a uma sessão especial que mostrará cinco das curtas realizadas para o filme: Le Pont des soupirs de Jean-Luc Godard, Réflexions do bielorrusso Sergei Loznitsa (que assinou um dos filmes dos 20 anos do festival, O Milagre de Santo António), Silence Mujo da suíça Ursula Meier (Home e Sister), Le Pont do italiano Vincenzo Marra e Réveillon do romeno Cristi Puiu (A Morte do Sr. Lazarescu e Aurora).

O programa completo pode, como de costume, ser consultado no site oficial http://festival.curtas.pt .

 
Crítico de cinema